São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Confissões de um cinema de programa

Diretor que mescla filmes de baixo orçamento com blockbusters comerciais, Steven Soderbergh fala sobre desafios do cinema

Divulgação
Soderbergh, que estreia este mês ‘O Desinformante!’; longa é terceiro
dele a chegar ao Brasil só neste ano


FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Steven Soderbergh não tem medo da mentira. Ele a filma. E, frequentemente, também a utiliza, se isso significa promover a paz mundial ou fazer seus filmes acontecerem.
Isso porque o trabalho ficou mais difícil se comparado com 20 anos atrás, quando o diretor americano estreou com "Sexo, Mentiras e Videotape" (1989), indicado ao Oscar por roteiro.
Ainda assim, Soderbergh, 46, o diretor mais eclético de Hollywood, diz se divertir tanto com seus longas de baixo orçamento como os blockbusters caríssimos. E faz filmes sem parar. No Brasil, só neste ano, ele estreia seu terceiro longa, no dia 16, a comédia "O Desinformante!", baseada na história real de um mentiroso compulsivo que engambelou o FBI nos anos 90. O filme é estrelado por Matt Damon ("A Identidade Bourne"), que engordou 14 quilos para o papel. O diretor também trouxe ao país nos últimos meses a cinebiografia "Che 2 -A Guerrilha" e "Confissões de uma Garota de Programa", obra mais experimental sobre uma prostituta de luxo.
Em fevereiro, ele roda o filme de espionagem "Knockout", com a lutadora americana Gina Carano, e ainda tem um projeto 3D sobre Cleópatra com Catherine Zeta-Jones. Leia a seguir trechos da entrevista que o diretor concedeu à Folha, por telefone.

 

FOLHA - Como você conseguiu transformar Matt Damon num cara feio, velho e gordo?
SODERBERGH
- Você achou ele feio? Mas ele é assim mesmo [risos]. Ele engordou uns 14 quilos, foi ideia dele. Queria ficar parecido com Mark Whitacre [protagonista do filme].

FOLHA - Você o conheceu?
SODERBERGH
- Sim, mas faz só duas semanas. Ele ficou animado com o filme, disse que era muito apurado.

FOLHA - E você acreditou?
SODERBERGH
- Não, é claro que não. Mas quero que todo mundo minta para mim. Me faz me sentir melhor.

FOLHA - Vários filmes seus falam sobre mentirosos.
SODERBERGH
- Para haver paz, tem de haver algum tipo de mentira rolando. Caso contrário, se você falar a verdade sobre tudo, alguém vai te matar.

FOLHA - Você usa a mesma técnica com os estúdios?
SODERBERGH
- É claro. Se posso conseguir as coisas do meu jeito, vou tentar não fazê-los se sentirem mal dizendo exatamente a verdade.

FOLHA - Você mente mais hoje ou quando começou, há 20 anos?
SODERBERGH
- Provavelmente mais agora porque conheço muito mais gente.

FOLHA - Ficou mais fácil ou mais difícil fazer cinema?
SODERBERGH
- Mais difícil. Antes, as pessoas pensavam que podiam fazer dinheiro com qualquer tipo de filme. Hoje, elas acham que existe um certo tipo de filme. E talvez estejam certas. Eu odiaria estar começando agora. É fácil fazer um filme bacana, com pouco dinheiro, mas quem irá vê-lo?

FOLHA - Mas como você pode reclamar? Seu nome é uma grife.
SODERBERGH
- Aparentemente não é. Tenho as mesmas iniciais de um diretor que é realmente uma grife [Steven Spielberg]. As pessoas vão vê-lo independente de qual o assunto do filme. Mas existem poucos diretores como esse.

FOLHA - Como você decide seus projetos, quando fazer coisas pequenas ou grandes?
SODERBERGH
- Eu só penso em fazer algo que será diferente do que acabei de fazer. É legal ter uma grande tela para poder brincar. Mas é ótimo fazer um filme como "Confissões...", com 11 pessoas, de maneira rápida, com bastante liberdade.

FOLHA - É mais complicado ter liberdade nos filmes caros?
SODERBERGH
- Todo tipo de filme tem uma corda que o impede de sair voando. Se você fizer um filme com US$ 100 milhões, é melhor ser um filme que muitas pessoas vão gostar ou você é um idiota. Agora, quando você faz um filme de US$ 1,5 milhão, você pode ser tão esquisito quanto quiser.

FOLHA - Você emenda um projeto no outro. Nunca tira férias?
SODERBERGH
- Sim, tirei uma nessa manhã. Duas horas. Basta para mim.
com ADRIANA KÜCHLER e DIÓGENES CAMPANHA, FLÁVIA MARTIN e MATHEUS PICHONELLI



Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Análise: Soderbergh ajuda atores a brilhar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.