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Nobel premia estilo mordaz de Vargas Llosa
Escritor peruano, autor de "Conversa na Catedral", foi escolhido pela Academia Sueca na manhã de ontem
Premiação foi justa e tardia, dizem autores brasileiros; Vargas Llosa virá a Porto Alegre para palestra no dia 14
Juan Medina/Reuters
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O Nobel Mario Vargas Llosa em cerimônia em Madri, em abril
DE SÃO PAULO
A Academia Sueca surpreendeu ao conceder o Prêmio Nobel de Literatura ao
peruano Mario Vargas Llosa,
74, na manhã de ontem.
Um dos principais escritores e intelectuais da atualidade, de talento reconhecido
em diversos países, Vargas
Llosa integrava até ontem a
lista dos eternos favoritos ao
prêmio sempre preteridos na
última hora.
Isso porque as últimas escolhas do comitê sueco privilegiaram autores pouco conhecidos fora de seus países,
mais identificados pelo caráter político do que propriamente pelas suas qualidades
literárias. Foi o caso da romena Herta Müller, vencedora
do prêmio em 2009.
Segundo a Academia Sueca, que o premiará com cerca
de R$ 2,7 milhões, o peruano
foi escolhido "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens
mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos".
Vargas Llosa estava em
Nova York quando soube do
resultado. "Achava que tinha
sido completamente esquecido pela Academia", afirmou
o escritor à agência sueca TT.
Em declarações ao jornal
espanhol "El País", disse estar "comovido e entusiasmado" e definiu o prêmio como
"um reconhecimento à língua espanhola".
Amiga de Vargas Llosa, a
brasileira Nélida Piñon contou que a notícia foi dada em
primeira mão à agente do peruano, Carmen Balcells.
Escritores brasileiros definiram como justa e tardia a
premiação do peruano, destacando seu domínio das técnicas narrativas.
Entre outros prêmios, o escritor já foi condecorado com
o Cervantes, em 1994, e o Prêmio Príncipe das Astúrias de
Letras Espanha, em 1986.
O Nobel virá ao Brasil em
14 de outubro, quando participa, em Porto Alegre, do
Fronteiras do Pensamento.
Os ingressos para o evento,
que acontece às 19h30 na
UFRGS, já estão esgotados.
VEIA CÔMICA
Vargas Llosa nasceu em
1936, na cidade de Arequipa.
Estudou letras e direito em
Lima. Em 1959 mudou-se para a Espanha. Intercalaria, a
partir daí, períodos entre o
Peru e a Espanha.
No mesmo ano publicou
seu primeiro livro, a coletânea de contos "Os Chefes".
A ele seguiu-se "A Cidade e
os Cachorros" (1963). A consagração definitiva viria com
"Conversa na Catedral"
(1969), em que aborda 30
anos da história peruana.
Outras obras de sucesso
são "Pantaleão e as Visitadoras" (1973) e "Tia Julia e o Escrevinhador" (1977), ambos
críticas de forte veia cômica
sobre a sociedade peruana.
Inspirado em "Os Sertões", de Euclydes da Cunha,
Vargas Llosa elegeu Canudos
como tema de "A Guerra do
Fim Mundo" (1981).
O autor chegou a empreender pesquisas em arquivos históricos e viagens
ao sertão da Bahia para resgatar a história de um dos
conflitos mais sangrentos da
história brasileira.
Além da atividade como
ficcionista, o autor destaca-se também como crítico literário. Publicou ensaios sobre
Gabriel García Márquez e o
francês Gustave Flaubert
(1821-1880).
Se mais recente livro publicado no Brasil chegou nesta semana às livrarias. Trata-se de "Sabres & Utopias" (ed.
Objetiva; R$ 49,90; 432
págs.) e reúne ensaios sobre
arte, política e literatura.
O novo romance do autor
deverá ser lançado aqui, pela
Objetiva, em julho de 2011.
"O Sonho de Celta", baseado na vida do diplomata Roger Casement (1864-1916),
aborda a exploração colonial
no Congo e o ciclo da borracha na Amazônia.
POLÍTICA
A escolha deste ano também chama a atenção por
contrariar a tendência de
premiar escritores de pensamento de esquerda.
A partir da década de 80,
Vargas Llosa passou a ser um
dos defensores do pensamento neoliberal.
Em 1987, participou de um
movimento contra a a estatização da economia peruana,
em voga no governo do presidente Alan García Pérez.
Em 1990 foi candidato à
presidência do Peru pela
Frente Democrática, partido
de centro-direita, mas perdeu para Alberto Fujimori.
Vargas Llosa narrou sua
experiência política no livro
"O Peixe na Água" (1993).
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