São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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Ex-muçulmana diz que islã encoraja a prática da violência

Escritora de "Nômade", a somali Ayaan Hirsi Ali afirma que o véu islâmico é uma forma de "escravidão mental"

Novo livro reúne fortes depoimentos sobre mutilações genitais e relata sua rotina de repressão sexual

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

"A atitude acrítica dos muçulmanos em relação ao Alcorão precisa mudar, pois representa uma ameaça direta à paz mundial."
Esta é a visão de Ayaan Hirsi Ali no livro "Nômade". Para ela, "o islã não é apenas uma crença, é um modo violento de viver. Está embebido na violência e encoraja a prática da violência".
Ayaan foi criada como muçulmana. Nasceu na Somália, morou na Arábia Saudita, na Etiópia e no Quênia. Fugiu para a Holanda para, segundo ela, escapar de um casamento arranjado.
Lá virou parlamentar e votou a favor da guerra ao Iraque. Em 2007, escreveu o best-seller "Infiel". Hoje, aos 41 anos, vive nos EUA. Ameaçada de morte, anda com guarda-costas.
Seu novo livro é um misto de memórias e manifesto político. Relatando histórias de sua família, fala de violência doméstica, de rigores impostos pela religião, de opressão às mulheres. Diz que os muçulmanos sofrem "uma lavagem cerebral".
Mais do que isso, enxerga um "estágio inicial da radicalização dos jovens muçulmanos nos EUA", identificando "sintomas de desordem". Radical, opina que "ser complacente com o islã na América é um grave erro".
História e relações de poder políticas e econômicas estão fora do radar de Ayaan, que centra sua obra no confronto religioso.
Não por acaso, Samuel Huntington (1927-2008), de "O Choque de Civilizações", é um dos seus autores referidos, afirma ela à Folha, ao elogiar também os conservadores Francis Fukuyama e Friedrich Hayek (1899-1992).
Para a autora, "o conflito entre israelenses e palestinos não envolve mais as questões territoriais" -é "religioso, não racional".
Perguntada sobre a discussão na ONU, declara apoiar Barack Obama. Diz que a Palestina "não é um Estado viável" e que se transformou num "bode expiatório para Estados autoritários". É cética a respeito das rebeliões árabes e teme o avanço dos muçulmanos na região.
Defende que o véu muçulmano é uma forma de "escravidão mental" e advoga que a França tem o direito de impor restrições ao seu uso por "razões de segurança, cultura e história".
O relato da opressão feminina no mundo muçulmano é o ponto forte de "Nômade". A escritora traz depoimentos contundentes sobre mutilações genitais e descreve com minúcias a rotina de repressão sexual que vivenciou.
Escancarando traumas e obstinada em atacar o islã, Ayaan defende, num texto ginasiano, que a cultura ocidental é melhor. Para ela, é preciso "deixar de lado o éthos do respeito relativista pelas religiões e culturas não ocidentais se o respeito não passa de um eufemismo para o apaziguamento".
Na sua singular trajetória, narra com incontido deslumbramento suas viagens pelos EUA, uma visita a Las Vegas e a emoção que sentiu ao assistir a um casamento.
"A América é uma grande família da qual todos podem fazer parte, desde que aceitem seus valores", afirma.
Ela acredita que se diferencia de seus parentes porque "abriu sua mente".

NÔMADE
AUTORA Ayaan Hirsi Ali
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Augusto Pacheco Calil
QUANTO R$ 46 (392 págs.)



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