São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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"Memória tem mais a ver com criatividade", diz Foer

Jornalista Joshua Foer conta em livro como se tornou ás da memorização

Campeão americano em 2006, autor explica suas técnicas em "A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo"

ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

No crachá lia-se "Joshua Foer, Atleta Mental".
Era uma manhã de 2006 e Foer, então com 24 anos, disputava a final do Campeonato Americano de Memória.
Se sagraria campeão após decorar a ordem de 52 cartas, 87 dígitos e 107 nomes.
Para um virtuose da mnemônica, seria feito notável. Para o novato Foer -um jornalista de ciência-, beirava o milagroso.
Até então, era um especialista em esquecer onde deixara o carro, por que abrira a geladeira e -pecado mortal- o aniversário da namorada.
Irmão do autor Jonathan Safran Foer, Joshua publicou "A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo" (Nova Fronteira).
Além de explicar típicas falhas de memória ("por que me lembro da música de Britney Spears, embora esqueça o nome do autor que admiro?"), o livro, recém-traduzido, conta como Foer se tornou um especialista em decorar informações absurdas.
O autor remonta, primeiro, a 1928 para explicar o caso real de "S" (na literatura médica, nomes de pacientes jamais são citados). Dotado de uma memória extraordinária, "S" costumava, também, atribuir cor, textura e sabor aos sons que ouvia. Assim, a voz de um psicólogo lhe era "fragilmente amarela"; a do cineasta Sergei Eisenstein se assemelhava a "uma chama".
"S" sofria de sinestesia, desordem neurológica em que sentidos como olfato e audição se entrelaçam.
Para se tornar um especialista em memória, coube a Foer "forjar" uma sinestesia em si mesmo. A técnica consiste em juntar imagens contraditórias para formar, como escreve, uma "memória sem concorrência".
Por exemplo: instigado a decorar uma lista que incluía os itens "queijo cottage", "meias" e "seis garrafas de vinho", Foer imaginou a top-model Claudia Schiffer nadando em uma piscina de cottage, as garrafas de vinho sentadas no sofá de sua casa, conversando entre si (isso mesmo), e as meias -daquelas velhas- penduradas no lustre do teto. Foi batata.
Por telefone, Foer contou que uma memória prodigiosa "tem mais a ver com a capacidade de inventar cenas do que de reter informações". "Se há uma característica comum entre os competidores, é a criatividade", disse.
Finda a conquista, Foer nunca mais competiu. Sua memória voltou ao estágio inicial. "É um esporte; você precisa de treinamento", diz.
Hoje, quando apura uma matéria (está escrevendo para a revista "New Yorker"), anota as informações em um bloquinho.
E voltou a esquecer por que abriu a porta da geladeira.

A ARTE E A CIÊNCIA DE MEMORIZAR TUDO
AUTOR Joshua Foer
EDITORA Nova Fronteira
TRADUÇÃO Mônica Friaça
QUANTO R$ 39,90 (310 pág.)



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