DA REPORTAGEM LOCAL

A investida de "Dias de Luta" é arriscada, porque o assunto já foi documentado em larga escala, quase sempre por jornalistas que estiveram diretamente envolvidos com a cena do pop-rock dos 80.
Daí Ricardo Alexandre tira o primeiro trunfo capaz de diferenciar seu livro dos outros. A visão é explicitamente de alguém que viu e ouviu RPM, Kid Abelha e Ultraje a Rigor sem cadeira de honra nem mamatas de comparsa.
É o exercício que qualquer um que estivesse diante da TV no sabadão do Chacrinha poderia elaborar se se pusesse a pensar detidamente sobre o caso.
A isso se soma, é claro, a fartura de depoimentos de nomes relevantes (mas não necessariamente protagonistas ou líderes, veja só). Mas o segundo trunfo continua nos limites da observação, não da participação.
É que Ricardo Alexandre dá um contexto sempre interpretativo às histórias que conta, combinando bom encadeamento, perspectiva social/econômica/política, ausência de preconceito na eleição de temas e personagens, apreço pelo mercado sem prejuízo da justiça a quem tenha sido rapidamente expelido dele. Em suma, análise abrangente.
O que pode haver de frágil é decorrência disso, também. Às vezes passa a impressão de que cada historieta curiosa e reveladora poderia ser aprofundada, ir a consequências mais firmes. O mesmo com relação à análise. Sem correr o risco de se confundir com crítica ou gosto pessoal, ela é o melhor do livro; e sempre que desaparece ou aparece mais timidamente em suas páginas, "Dias de Luta" pende ao descritivo, ao já feito.
Não é essa a intenção de Ricardo Alexandre, e não é também o que se lê em parte substancial do livro. Mais importante de tudo, é o que viabiliza sua existência e faz poder dizer que "Dias de Luta" é diferente e se destaca da timidez interpretativa que costuma acometer a bibliografia musical brasileira (e a do pop-rock dos 80 particularmente).
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Dias de Luta - O Rock e o Brasil dos Anos 80

   
Autor: Ricardo Alexandre
Editora: DBA
Quanto: R$ 39,50 (400 págs.)