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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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E na Itália fez-se a arte

Divulgação
'Renúncia aos Bens Paternos' (1296), de Giotto



Obra fundamental de Giulio Argan, que sintetiza em três volumes a história artística de seu país, é traduzida para o português


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tende esperança, ó vós, que entrais. Você se aproxima de um dos paraísos da história da arte mundial. O nome desse jardim de delícias é "História da Arte Italiana", de Giulio Carlo Argan (1909-92).
Obra mais ambiciosa desse que é considerado um dos grandes historiadores da arte do século 20, o trabalho de mais de 1.400 páginas, com 600 ilustrações, está chegando na próxima semana pela primeira vez ao português.
A editora Cosac & Naify lança na segunda-feira, com um seminário reunindo nomes como o filósofo José Arthur Giannotti e o crítico Ronaldo Brito, os três volumes dessa prima-dona da historiografia italiana.
Italiana é modo de dizer. A "Storia" de Argan começa na pré-história das artes, e até a Idade Média não seria possível falar em arte italiana sem falar em gótico francês, arte grega e outras escolas discutidas pelo historiador no primeiro volume. Mais adiante no trabalho, que tem como ponto final o futurismo, no início do século 20, também estão em pauta outras tradições que dialogaram com a arte da pátria de Dante.
Mas mesmo em seu fulcro, quando fala só da arte italiana, o trabalho vai além, por refletir sobre uma arte que se buscava (e era) universal. Foi na "Bota", com Giotto (1267-1337), que a pintura moderna teve, para muitos, o seu Big Bang. "Depois de Giotto a arte ganha a ambição de ter uma função de conhecimento autônomo do mundo", diz Lorenzo Mammì, diretor do Centro Universitário Maria Antonia, da USP.
É justamente o modo como Argan discute essa invenção da arte como "grande síntese cultural" que o professor de história acredita que seja uma das grandes contribuições do livro.
Mammì, que assina o prefácio à edição brasileira, convive com "A História da Arte Italiana" desde sua juventude em Roma, cidade da qual Argan chegou a ser prefeito, entre 1976 e 1979.
E foi testemunha (assim como o editor de arte da Folha, o italiano Massimo Gentile -leia abaixo) da importância que a obra teve também como "projeto de intervenção cultural". "Era um livro destinado a um tipo de ensino mais criativo, problematizado, do secundário à universidade", diz. "Também é um projeto de resgatar a grande herança italiana, essa função da arte como agente cultural, de Giotto adiante."
Não apenas as idéias debatidas por Argan fizeram da "História da Arte Italiana" um clássico. Publicado em 1968, com o terceiro volume editado dois anos depois, juntamente com "Arte Moderna" (lançado aqui com sucesso pela Companhia das Letras), o trabalho pode ser entendido como síntese de todas as questões teóricas desenvolvidas pelo historiador ao longo de sua trajetória.
Como nota Mammì, no trabalho ele afirma com mais vigor a idéia de que "a pesquisa em arte só pode ser a história, e não a ciência, porque a ciência se baseia na organização de seus objetos em grupos de semelhanças, enquanto em arte vale apenas a dessemelhança (se dois artefatos são iguais, um necessariamente é cópia, portanto não arte)".
Argan também deixa clara sua "defesa" da idéia de uma arte que seja projeto, e não um simples registro ou testemunha. "Ele busca na arte uma visão projetual da transformação do mundo. Uma maneira de pensar uma transformação do mundo", diz Mammì.

HISTÓRIA DA ARTE ITALIANA. Autor: Giulio Carlo Argan. Tradutor: Vilma de Katinszky. Editora: Cosac & Naify. Quanto: R$ 89 (cada volume).


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