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JOÃO PEREIRA COUTINHO
Pulgas, baleias, humanos
Museu faz exposição sobre animais que jogam no mesmo time; homossexualidade
faz parte da natureza
ESTAMOS SEMPRE a aprender.
Pergunta: será possível encontrar duas lesmas de bigode e cabedal que, ao som de Barbra
Streisand, se beijam apaixonadamente no topo de uma maçã?
Sem dúvida, diz o Museu de História Natural de Oslo, na Noruega, que
resolveu inaugurar uma exposição
sobre animais que jogam no mesmo
time. De acordo com os organizadores da mostra, a homossexualidade
está em toda a parte.
Entre os homens e, claro, entre os
bichos. Não que eu duvidasse, entendam: afinal de contas, eu faço
parte da geração Calimero.
Mas saber, com provas científicas
inabaláveis, que da mais insignificante pulga à mais poderosa baleia
ninguém escapa ao amor que não
ousa dizer seu nome, eis um fato que
coloca tudo sob uma nova perspectiva. Esse, pelo menos, é o objetivo dos
organizadores.
A idéia, segundo leio, não é mostrar o fato. É mostrar a beleza do fato
e, mais, sua evidente implicação para a vida social e humana.
A fauna gay, dizem, é fiel ao seu
parceiro. Incomparavelmente mais
fiel do que a fauna hetero, que gosta
de pular de cama em cama -ou, para
sermos absolutamente rigorosos,
pular de toca em toca, de cerca em
cerca, de ninho em ninho, sempre
em busca de novas aventuras com o
periquito do vizinho. São 1.500 espécies em animado bacanal.
E, por falar em vizinhos, o museu
da Noruega diz mais: diz que a homofobia não existe entre o reino
animal.
Se um galo se apaixona por outro,
a mãe-galinha não mete a pata. E
não comete a suprema injustiça de
confundir o filho com um veado. É
até possível que, no interior da capoeira, todos se juntem à felicidade
dos amantes. De bico calado.
As conclusões são inevitáveis: a
homossexualidade não é um crime
contra a natureza porque a homossexualidade faz parte da natureza.
E, se assim é, não será altura dos
humanos abandonarem velhos medos, velhos tabus, legislando o casamento (e a adoção) para pessoas do
mesmo sexo? Pessoas que só fazem
o que as pulgas ou as baleias fazem?
Compreendo o paralelo e não estou disposto a combatê-lo, apesar de
nunca ter entendido por que motivo
os homossexuais desejam casar e ter
filhos.
Na minha pessoalíssima (e heterossexual) sapiência, a grande vantagem de ser homossexual está na libertação do casamento e na possibilidade, assaz saudável, de não ter
crianças em volta para educar e suportar. Mas será que a vida sexual
dos bichos justifica a consagração legal dos humanos?
Tenho dúvidas, muitas dúvidas.
Uma coisa é admitir, como na canção, que até as abelhas o fazem.
Outra, bem diferente, é provar que
as abelhas o fazem e, depois do namoro e do pedido formal, uma delas
se apresenta de véu e grinalda, disposta a dizer "sim" frente ao altar.
Se o museu da Noruega deseja
abater a última barreira, eu só conheço um caminho: o caminho da
colméia.
E então voltar para mostrar. Chamem-me antiquado. Mas só o retrato do matrimônio será a chave do
debate.
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