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Em crise, 28ª Bienal não terá exposição
Seminários irão ocorrer em 2008; mostra não vai seguir modelo usual
Estão previstos concertos, performances e andar
inteiro vazio no pavilhão; Ivo Mesquita foi anunciado
ontem como curador
DA REPORTAGEM LOCAL
A 28ª Bienal de São Paulo,
que será realizada entre outubro e dezembro do próximo
ano, não terá uma exposição no
formato usual e um andar inteiro do edifício projetado por Oscar Niemeyer ficará vazio durante os dois meses do evento.
O curador Ivo Mesquita foi
anunciado, ontem, como responsável pelo projeto, denominado "Em Vivo Contato", que
prevê ainda um ciclo de conferências, uma praça, no térreo,
para encontros e acontecimentos, como performances e concertos, e outro andar composto
por uma biblioteca e um arquivo. Desde a primeira edição, em
1951, é a primeira vez que uma
Bienal deixa de expor obras.
O processo de seleção do curador desta edição foi bastante
tumultuado. Diversos curadores foram convidados a apresentar um projeto e se recusaram a entregar -entre eles
Mesquita, que chegou a ser o
responsável pela 25ª Bienal, e
no centro de uma polêmica
com o então presidente, Carlos
Bratke, em 2000, saiu do posto.
Para a 28ª Bienal, apenas
Marcio Doctors entregou um
projeto para a instituição. Ao
saber que havia sido o único, recusou-se a continuar no processo, mas, acatando um pedido do presidente da instituição,
Manoel Francisco Pires da
Costa, aceitou realizar um projeto em parceira com Mesquita.
Na última segunda, Doctors
renunciou ao cargo, afirmando
que o projeto proposto não seria cumprido na íntegra, pois
ele teria um segundo momento, em 2010, com uma mostra
que tivesse o vazio como tema.
"Propusemos deixar o segundo andar vazio, no próximo
ano, para simbolizar a crise pela qual atravessa a instituição",
disse Doctors à Folha.
Além do prazo exíguo para a
organização da Bienal, diversos
curadores não aceitaram participar em razão dessa crise. A
atual presidência da Bienal esteve envolvida em várias polêmicas, neste ano, e chegou a assinar um ajuste de termo de
conduta com o Ministério Público, por cometer irregularidades com a publicação "Bien'Art" e a contratação de parentes de Pires da Costa.
Financeiramente, a Fundação também atravessa dificuldades, pois ainda não pagou
grande parte dos gastos com a
27ª Bienal, realizada no ano
passado, como os de transporte
ou os honorários da curadora
espanhola Rosa Martinez, além
dos catálogos da mostra não terem sido publicados.
No projeto divulgado ontem
pela Fundação Bienal, Mesquita, que se encontra no exterior,
afirma que "faltando menos de
um ano para a próxima edição,
não é mais viável montar uma
grande exposição nos moldes
habituais". Ainda de acordo
com o projeto, "a Bienal precisa de um momento para reflexão, para sistematizar conhecimento e pertinência, uma vez
que seu modelo original parece
criticamente exaurido".
Ironicamente, as galerias
paulistanas que organizam a
mostra "Paralela", evento simultâneo à Bienal, já têm um
curador, o mineiro Rodrigo
Moura, e a exposição está sendo preparada. Contudo, sem
uma exposição na Bienal, galeristas avaliam que o afluxo de
curadores e colecionadores estrangeiros caia sensivelmente,
colocando em questão a própria "Paralela".
(FABIO CYPRIANO)
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