São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

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Em crise, 28ª Bienal não terá exposição

Seminários irão ocorrer em 2008; mostra não vai seguir modelo usual

Estão previstos concertos, performances e andar inteiro vazio no pavilhão; Ivo Mesquita foi anunciado ontem como curador

DA REPORTAGEM LOCAL

A 28ª Bienal de São Paulo, que será realizada entre outubro e dezembro do próximo ano, não terá uma exposição no formato usual e um andar inteiro do edifício projetado por Oscar Niemeyer ficará vazio durante os dois meses do evento.
O curador Ivo Mesquita foi anunciado, ontem, como responsável pelo projeto, denominado "Em Vivo Contato", que prevê ainda um ciclo de conferências, uma praça, no térreo, para encontros e acontecimentos, como performances e concertos, e outro andar composto por uma biblioteca e um arquivo. Desde a primeira edição, em 1951, é a primeira vez que uma Bienal deixa de expor obras.
O processo de seleção do curador desta edição foi bastante tumultuado. Diversos curadores foram convidados a apresentar um projeto e se recusaram a entregar -entre eles Mesquita, que chegou a ser o responsável pela 25ª Bienal, e no centro de uma polêmica com o então presidente, Carlos Bratke, em 2000, saiu do posto.
Para a 28ª Bienal, apenas Marcio Doctors entregou um projeto para a instituição. Ao saber que havia sido o único, recusou-se a continuar no processo, mas, acatando um pedido do presidente da instituição, Manoel Francisco Pires da Costa, aceitou realizar um projeto em parceira com Mesquita.
Na última segunda, Doctors renunciou ao cargo, afirmando que o projeto proposto não seria cumprido na íntegra, pois ele teria um segundo momento, em 2010, com uma mostra que tivesse o vazio como tema.
"Propusemos deixar o segundo andar vazio, no próximo ano, para simbolizar a crise pela qual atravessa a instituição", disse Doctors à Folha.
Além do prazo exíguo para a organização da Bienal, diversos curadores não aceitaram participar em razão dessa crise. A atual presidência da Bienal esteve envolvida em várias polêmicas, neste ano, e chegou a assinar um ajuste de termo de conduta com o Ministério Público, por cometer irregularidades com a publicação "Bien'Art" e a contratação de parentes de Pires da Costa.
Financeiramente, a Fundação também atravessa dificuldades, pois ainda não pagou grande parte dos gastos com a 27ª Bienal, realizada no ano passado, como os de transporte ou os honorários da curadora espanhola Rosa Martinez, além dos catálogos da mostra não terem sido publicados.
No projeto divulgado ontem pela Fundação Bienal, Mesquita, que se encontra no exterior, afirma que "faltando menos de um ano para a próxima edição, não é mais viável montar uma grande exposição nos moldes habituais". Ainda de acordo com o projeto, "a Bienal precisa de um momento para reflexão, para sistematizar conhecimento e pertinência, uma vez que seu modelo original parece criticamente exaurido".
Ironicamente, as galerias paulistanas que organizam a mostra "Paralela", evento simultâneo à Bienal, já têm um curador, o mineiro Rodrigo Moura, e a exposição está sendo preparada. Contudo, sem uma exposição na Bienal, galeristas avaliam que o afluxo de curadores e colecionadores estrangeiros caia sensivelmente, colocando em questão a própria "Paralela". (FABIO CYPRIANO)


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