São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

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França emplaca comédias atuais na cena brasileira

"Toc Toc" já foi vista por mais de 100 mil pessoas, enquanto "Adorei o que Você Fez" acumula 20 mil espectadores

Ao menos três comédias francesas contemporâneas devem estrear no país em 2010; textos são marcados por despretensão e ligeireza

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Esqueça Molière e suas alfinetadas nos usos e costumes burgueses. Tampouco pense nos vertiginosos vaudevilles de Feydeau e Labiche. Em matéria de importação de comédias francesas para os palcos brasileiros, é o riso descomplicado e não intelectualizado de textos contemporâneos que anda cada vez mais visado.
"Toc Toc", de Laurent Baffie, está em cartaz por aqui desde maio de 2008. Em quatro temporadas, foi vista por mais de 100 mil pessoas. A mais recente "Adorei o Que Você Fez", de Carole Greep, parece seguir a trilha: em quatro meses, já acumula 20 mil espectadores.
As duas voltam a ser apresentadas no próximo dia 8, no teatro Gazeta, em São Paulo, e devem ganhar, até o fim do primeiro semestre de 2010, a companhia de "O Clã das Divorciadas" (ou "O Clube das Divorciadas", a produção ainda não se decidiu), de Alil Vardar.
No Rio, a atriz Bianca Byington busca patrocínio para montar, no ano que vem, duas peças de Agnès Jaoui, conhecida por aqui como a diretora de filmes como "O Gosto dos Outros" (2000) e "Enquanto o Sol Não Vem" (2008): "Cuisine et Dépendances" (cozinha e dependências) e "Un Air de Famille" (um ar de família).
"São peças de humor rápido, dotadas de uma sátira social ligeira que o brasileiro médio reconhece", diz a atriz e tradutora Clara Carvalho, responsável pelas versões de "Toc Toc", "Adorei..." e "Divorciadas". "Elas não têm pretensão nem trazem uma exigência de reflexão. São puro entretenimento, não fazem mal a ninguém."
Clara vê paralelos, na cena brasileira, com o besteirol de Miguel Falabella e Mauro Rasi e com o "humor de não humilhação" de João Bethencourt -coincidentemente, um dos dramaturgos locais mais encenados no exterior.
Ao mesmo tempo, ela observa, os textos franceses são amostras de "uma comédia que confirma expectativas, algo que tem a ver com o humor televisivo, de tipos, como faziam Jô Soares e Chico Anysio". Parte da explicação para a boa acolhida pode residir aí.
Alexandre Reinecke, diretor das três montagens, ressalta que, apesar do caráter previsível das atitudes e bordões, "nada é gratuito, jogado a esmo, sem embasamento". Ele diz que são a universalidade e a contemporaneidade dos temas tratados pelos franceses os fatores que garantem o entusiasmo das plateias brasileiras.
Por e-mail, Carole Greep, autora de "Adorei...", faz coro e acrescenta: "Essa corrente de comédia de costumes de que faço parte implica numa escrita moderna, natural, que frequentemente se aproxima dos diálogos cinematográficos."
Segundo ela, "o público quer rir e, se sai de casa, corre cada vez menos riscos e vai em direção a coisas mais "eficazes". Se alguns textos de meu país são montados com frequência crescente no estrangeiro, é porque são menos "franceses" em seus propósitos".

"Olheiro" em Paris
Quem responde pelo avanço do riso francês sobre a cena nacional é L. G. Tubaldini Jr., produtor que comprou os direitos de "Toc Toc", "Adorei..." e "Divorciadas". A cada três meses, ele vai a Paris para conhecer os hits da temporada e sondar novos negócios.
"As situações em que o brasileiro e o francês riem são semelhantes", afirma ele. "Mas há uma diferença de mercado: lá, todo mundo vai ao teatro. Aqui, vai a classe média, de bom nível cultural. Por isso, às vezes há peças apelativas, de humor barato, que não vale trazer."


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