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França emplaca comédias atuais na cena brasileira
"Toc Toc" já foi vista por mais de 100 mil pessoas, enquanto "Adorei o que Você Fez" acumula 20 mil espectadores
Ao menos três comédias francesas contemporâneas devem estrear no país em 2010; textos são marcados por despretensão e ligeireza
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Esqueça Molière e suas alfinetadas nos usos e costumes
burgueses. Tampouco pense
nos vertiginosos vaudevilles de
Feydeau e Labiche. Em matéria
de importação de comédias
francesas para os palcos brasileiros, é o riso descomplicado e
não intelectualizado de textos
contemporâneos que anda cada vez mais visado.
"Toc Toc", de Laurent Baffie,
está em cartaz por aqui desde
maio de 2008. Em quatro temporadas, foi vista por mais de
100 mil pessoas. A mais recente
"Adorei o Que Você Fez", de
Carole Greep, parece seguir a
trilha: em quatro meses, já acumula 20 mil espectadores.
As duas voltam a ser apresentadas no próximo dia 8, no teatro Gazeta, em São Paulo, e devem ganhar, até o fim do primeiro semestre de 2010, a companhia de "O Clã das Divorciadas" (ou "O Clube das Divorciadas", a produção ainda não se
decidiu), de Alil Vardar.
No Rio, a atriz Bianca Byington busca patrocínio para montar, no ano que vem, duas peças
de Agnès Jaoui, conhecida por
aqui como a diretora de filmes
como "O Gosto dos Outros"
(2000) e "Enquanto o Sol Não
Vem" (2008): "Cuisine et Dépendances" (cozinha e dependências) e "Un Air de Famille"
(um ar de família).
"São peças de humor rápido,
dotadas de uma sátira social ligeira que o brasileiro médio reconhece", diz a atriz e tradutora
Clara Carvalho, responsável
pelas versões de "Toc Toc",
"Adorei..." e "Divorciadas".
"Elas não têm pretensão nem
trazem uma exigência de reflexão. São puro entretenimento,
não fazem mal a ninguém."
Clara vê paralelos, na cena
brasileira, com o besteirol de
Miguel Falabella e Mauro Rasi
e com o "humor de não humilhação" de João Bethencourt
-coincidentemente, um dos
dramaturgos locais mais encenados no exterior.
Ao mesmo tempo, ela observa, os textos franceses são
amostras de "uma comédia que
confirma expectativas, algo que
tem a ver com o humor televisivo, de tipos, como faziam Jô
Soares e Chico Anysio". Parte
da explicação para a boa acolhida pode residir aí.
Alexandre Reinecke, diretor
das três montagens, ressalta
que, apesar do caráter previsível das atitudes e bordões, "nada é gratuito, jogado a esmo,
sem embasamento". Ele diz
que são a universalidade e a
contemporaneidade dos temas
tratados pelos franceses os fatores que garantem o entusiasmo das plateias brasileiras.
Por e-mail, Carole Greep, autora de "Adorei...", faz coro e
acrescenta: "Essa corrente de
comédia de costumes de que faço parte implica numa escrita
moderna, natural, que frequentemente se aproxima dos diálogos cinematográficos."
Segundo ela, "o público quer
rir e, se sai de casa, corre cada
vez menos riscos e vai em direção a coisas mais "eficazes". Se
alguns textos de meu país são
montados com frequência
crescente no estrangeiro, é porque são menos "franceses" em
seus propósitos".
"Olheiro" em Paris
Quem responde pelo avanço
do riso francês sobre a cena nacional é L. G. Tubaldini Jr., produtor que comprou os direitos
de "Toc Toc", "Adorei..." e "Divorciadas". A cada três meses,
ele vai a Paris para conhecer os
hits da temporada e sondar novos negócios.
"As situações em que o brasileiro e o francês riem são semelhantes", afirma ele. "Mas há
uma diferença de mercado: lá,
todo mundo vai ao teatro. Aqui,
vai a classe média, de bom nível
cultural. Por isso, às vezes há
peças apelativas, de humor barato, que não vale trazer."
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