São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

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Pedro Miranda segue trilha do canto masculino

Em "Pimenteira", cantor leva adiante a escola de Mario Reis e João Gilberto

Elogiado por Caetano Veloso, álbum apresenta sambas inéditos de Nelson Cavaquinho, Paulo César Pinheiro e Elton Medeiros

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Algumas canções nascem tão redondas que, logo no primeiro contato, o ouvinte tem certeza absoluta de já ser amigo íntimo delas. É possível que, como quem adivinha, ele saia assoviando a melodia -quase cantando a letra. A obra de Dorival Caymmi tem disso. "Pimenteira", segundo álbum do carioca Pedro Miranda, 33, também.
Pedro é pandeirista do Grupo Semente, que acompanha Teresa Cristina em discos e shows, e conhece profundamente os clássicos do samba.
Fica quase impossível acreditar que nenhum dos que escolheu para cantar agora -assinados também por veteranos como Nelson Cavaquinho, Wilson das Neves, Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro, Nei Lopes e Elton Medeiros- tenha sido registrado antes.
"Nenhum, nenhum", garante. "Alguns deles já fazem sucessos há décadas, de tão cantados que são em rodas de samba no Rio. Mas nunca saíram dali."
Entre esses, está "Hello, my Girl", de Silvio da Silva, que vem sendo divulgado oralmente desde os anos 80. Outro é o divertido e (auto) irônico "Meio-Tom", de Rubinho Jacobina (da Orquestra Imperial), inédito há mais de 20 anos.
"E quando eu canto/ Ninguém gosta do meu som/ Eu não consigo, eu desafino/ Quando eu vejo é meio-tom/ Fico acanhado porque eu sei qual é a nota/ E meu único problema é minha corda vocal."
Ainda que não desafine, Pedro diz que se identifica com a letra de Rubinho. "Não sou um cantor de vozeirão, sei bem disso. Mas Carmen Miranda também não era e sabia muito bem o que fazer com o instrumento que tinha", compara.

Caetano
Pedro começou a cantar no teatro, no final da adolescência. No grupo amador de que fazia parte, conheceu Moreno Veloso, então diretor musical e autor das trilhas das peças. Com ele, aprendeu a tocar pandeiro, seu futuro instrumento. Foi pelas mãos de Moreno que "Pimenteira" chegou a Caetano Veloso. A reação entusiasmada veio em forma de texto, que Pedro usa para divulgar o trabalho. Caetano escreve: "O estilo despojado do cantor, sem afetação, sem tiques nenhuns, dá conta de toda a possível cultura crítica atual relativa ao canto popular brasileiro". Ainda que não cite nominalmente nenhum dos dois, Caetano deve ter em mente os precursores Mario Reis e João Gilberto, raiz e tronco do nosso moderno canto masculino. Convenhamos, estar em alguma parte da copa dessa árvore é tudo o que pode querer um cantor novato, que está apenas no segundo disco. PIMENTEIRA Artista: Pedro Miranda Gravadora: independente/ Tratore Quanto: R$ 30, em média

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