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Pedro Miranda segue trilha do canto masculino
Em "Pimenteira", cantor leva adiante a escola de Mario Reis e João Gilberto
Elogiado por Caetano Veloso, álbum apresenta sambas inéditos de Nelson Cavaquinho, Paulo César Pinheiro e Elton Medeiros
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Algumas canções nascem tão
redondas que, logo no primeiro
contato, o ouvinte tem certeza
absoluta de já ser amigo íntimo
delas. É possível que, como
quem adivinha, ele saia assoviando a melodia -quase cantando a letra. A obra de Dorival
Caymmi tem disso. "Pimenteira", segundo álbum do carioca
Pedro Miranda, 33, também.
Pedro é pandeirista do Grupo Semente, que acompanha Teresa Cristina em discos e
shows, e conhece profundamente os clássicos do samba.
Fica quase impossível acreditar que nenhum dos que escolheu para cantar agora -assinados também por veteranos como Nelson Cavaquinho, Wilson das Neves, Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro, Nei
Lopes e Elton Medeiros- tenha sido registrado antes.
"Nenhum, nenhum", garante. "Alguns deles já fazem sucessos há décadas, de tão cantados que são em rodas de samba no Rio. Mas nunca saíram dali."
Entre esses, está "Hello, my
Girl", de Silvio da Silva, que
vem sendo divulgado oralmente desde os anos 80. Outro é o
divertido e (auto) irônico "Meio-Tom", de Rubinho Jacobina (da Orquestra Imperial),
inédito há mais de 20 anos.
"E quando eu canto/ Ninguém gosta do meu som/ Eu não consigo, eu desafino/ Quando eu vejo é meio-tom/
Fico acanhado porque eu sei qual é a nota/ E meu único problema é minha corda vocal."
Ainda que não desafine, Pedro diz que se identifica com a letra de Rubinho. "Não sou um
cantor de vozeirão, sei bem disso. Mas Carmen Miranda também não era e sabia muito bem
o que fazer com o instrumento que tinha", compara.
Caetano
Pedro começou a cantar no
teatro, no final da adolescência.
No grupo amador de que fazia
parte, conheceu Moreno Veloso, então diretor musical e autor das trilhas das peças. Com
ele, aprendeu a tocar pandeiro,
seu futuro instrumento.
Foi pelas mãos de Moreno
que "Pimenteira" chegou a
Caetano Veloso. A reação entusiasmada veio em forma de texto, que Pedro usa para divulgar
o trabalho. Caetano escreve: "O
estilo despojado do cantor, sem
afetação, sem tiques nenhuns,
dá conta de toda a possível cultura crítica atual relativa ao
canto popular brasileiro".
Ainda que não cite nominalmente nenhum dos dois, Caetano deve ter em mente os precursores Mario Reis e João Gilberto, raiz e tronco do nosso
moderno canto masculino.
Convenhamos, estar em alguma parte da copa dessa árvore é tudo o que pode querer um
cantor novato, que está apenas
no segundo disco.
PIMENTEIRA
Artista: Pedro Miranda
Gravadora: independente/ Tratore
Quanto: R$ 30, em média
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