São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2010

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Mostra de Kiefer em NY funciona como uma catarse

Misto de filósofo e showman, o artista plástico alemão funde escultura, pintura e design de sets na exposição

O germanismo e suas insatisfações são o tema principal da obra; 25 esculturas com ruínas ocupam a Gagosian

ROBERTA SMITH
DO "NEW YORK TIMES"

O artista alemão Anselm Kiefer sabe montar um espetáculo. O bosque sombrio e empoeirado de arte com o qual ele florestou a imensa Gagosian Gallery, em Chelsea, pode suscitar espanto, ceticismo ou desdém. Mas é difícil negar seu impacto.
É a sua primeira exposição em Nova York em oito anos e possivelmente a melhor que ele já montou na cidade. Seus novos trabalhos fundem pintura, escultura e design de sets, incorporam elementos de cinematografia, performance e fotografia e atrelam as forças da história, da literatura e do pensamento religioso.
Portentosamente intitulada "Next Year in Jerusalem" (o ano que vem em Jerusalém), a exposição é arte eficaz que funciona como catarse -um espetáculo com uma mensagem.
Kiefer, 65, começou sua carreira no final dos anos 1960 na cúspide do pós-minimalismo. Chegou à fama na década de 1980 como pintor neoexpressionista.
O artista está por conta própria há várias décadas; é um misto de filósofo e showman que possui uma base imensa de fãs. Seu tema principal é o germanismo e suas insatisfações, das quais ele próprio constitui um ótimo exemplo.

RUÍNAS
O espaço da Gagosian está lotado com 25 esculturas dentro de grandes vitrines com pisos de terra rachada (ou ressecada). Cada uma delas contém uma ruína sinistra: a fuselagem ou o motor de um avião de décadas atrás; uma frota de pequenos submarinos submersos; uma bola branca de plástico ou um vestido de noiva rasgado com cacos de vidro.
Enquanto isso, paisagens cobrem as paredes da galeria, o tipo de paisagem panorâmica, incrustada de tinta, que faz parte do repertório de Kiefer há muito tempo.
E há o coração das trevas da exposição: "Occupations", um grande galpão de aço que evoca vagões de carga fechados, crematórios, quartéis ou compartimentos para carne.
A pura e simples densidade da instalação confere a ela uma qualidade quase interativa, de estética relacional. Os espectadores formam um elenco de figurantes presos em algum tipo de museu da devastação.
É a lata de lixo da história ampliada em um teatro em que a morte e a destruição prevalecem, mas onde várias fés antigas oferecem a possibilidade de redenção.
Os temas raramente estão nas formas; estão mais nos títulos, em suas explicações ou ainda nas associações desajeitadas. Kiefer vem ficando cada vez mais adepto da criação de trabalhos de Anselm Kiefer. Neles, a grandiosidade raramente tira férias.

Tradução de CLARA ALLAIN.


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