RAFAEL VOGT MAIA ROSA
free-lance para a Folha

Escrever algo mais intimista hoje em dia pode ser visto como processo de alienação ou causar vergonha por se estar fazendo algo só justificável do ponto de vista "artístico".
Encorajar a produção de textos literários seria ainda mais sem sentido, já que se trata de uma linguagem "sofisticada" demais, que descrimina qualquer boa vontade, da qual podemos nos aproximar apenas no campo teórico em universidades.
Contrariando essas idéias, há dois anos o Projeto Literário Mosaico incentiva a produção e publicação de textos inéditos. Coordenado pelo professor de literatura brasileira Gabriel Perissé, o projeto reivindica o lugar de primeira organização não-governamental de estímulo à literatura no Brasil.
É uma escola em que o participante trabalha com redação, revisão, tradução de textos e estuda autores nacionais consagrados e universais como Kafka, Dostoiévski e Borges, entre outros.
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Antologia Os textos escritos durante os cursos são selecionados e publicados em uma antologia por meio de pequenas editoras.
Até agora são cinco livros concluídos -o último deles é "Primeira Viagem" (editora Atlantis), lançado há cerca de um mês, com 29 autores estreantes.
"Os escritores encontram muitas dificuldades em chegar à editoras, que, por sua vez, têm receio de investir em autores desconhecidos", esclarece Perissé.
Já passaram pelo Projeto Mosaico mais de mil pessoas, um público que reuniu, além de estudantes, garçons, enfermeiros, policiais, médicos e donas-de-casa que, em alguns casos, nunca haviam tido contato com textos literários.
Mais interessante do que atribuir ou não um valor estético a esses textos é reconhecer que eles superam a idéia de que a única forma de dimensionar a vida comum em texto é por meio de uma redação para o vestibular. E a diversidade da experiência comum sempre foi um objeto literário por excelência.
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Livro: Primeira Viagem Lançamento: editora Atlântis Quanto: R$ 20 (368 págs.) ²