|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Leitura dramática de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", do Prêmio Nobel José Saramago, é hoje, na Folha
Possi mostra Maria concebida com pecado
CYNARA MENEZES
da Reportagem Local
Maria, não a Virgem da Bíblia,
mas a mulher que dorme com o
carpinteiro José, abre a leitura dramática, hoje às 19h30, de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", espetáculo dirigido por José Possi Neto
baseado no romance de José Saramago, ganhador do Nobel de Literatura deste ano.
A leitura, que integra o projeto
Quarta Função, acontece no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos,
região central).
Raul Cortez (o Diabo), Tuca Andrada (Jesus), Lígia Verdi e Julia
Catelli integram o elenco que fará a
leitura, além de Suzana Faini como
Maria.
Apesar de Cortez desejar fazer os
dois papéis -"Estou entre Deus e
o Diabo", brincou-, devido à estrutura dos diálogos outro ator será convidado para interpretar o
"Todo-Poderoso" na peça, com
estréia prevista para o primeiro semestre do próximo ano.
A idéia de fazer um espetáculo a
partir do "Evangelho" de Saramago não foi uma escolha, segundo
José Possi Neto. "Era um projeto
sobre a "quaternidade' que em determinado momento chegou ao livro, e eu aceitei", disse o diretor.
A "quaternidade' é uma imagem
que se opõe ao conceito cristão da
"trindade' (pai, filho e Espírito
Santo), ao incluir, também, como
quarto elemento, o feminino e o
mal. Com a adoção do "Evangelho',
o texto tomou outro rumo.
Segundo Possi Neto, a própria
dicotomia bem-mal não aparece,
mas a mistura entre os dois elementos. "Saramago não deixa clara essa dicotomia. O Jesus dele é o
homem que se indaga qual é seu
destino, que tenta saber o que é
verdade e o que é mentira", diz.
"Também se discute no texto a
questão da responsabilidade e da
culpa em José, por ter salvado o filho de Deus de ser morto pelos soldados de Herodes, mas não ter podido avisar às outras famílias", diz
Possi Neto. Possi Neto conta que a
figura de José, na Bíblia, sempre o
intrigou. "Ele é quase um eunuco."
O diretor não teme a reação da
Igreja Católica. "Acho que no Brasil as coisas são diferentes", diz. "O
livro, na verdade, é extremamente
religioso. Não nega, por exemplo,
a figura de Cristo como filho de
Deus. Só acaba com certos dogmas, como a virgindade."
A atriz Suzana Faini, que interpreta a mãe de Jesus pela primeira
vez em sua carreira, acha "maravilhosa" a humanização dos personagens bíblicos feita por Saramago. "Estudei em colégio de freiras,
e sempre me perturbou essa visão
católica da concepção. Nunca aceitei a idéia do "pecado original'."
Na leitura, são apresentados três
momentos: a Anunciação -quando Maria é informada de que será a
mãe de Jesus-, a passagem meditativa (e tentadora) de Cristo pelo
deserto e a manhã de nevoeiro,
quando Jesus encontra Deus e o
Diabo no mar.
A estrutura dramática da leitura
foi concebida por Possi Neto e Julia Catelli, também atriz e co-produtora do espetáculo. A entrada é
franca. Os interessados em assistir
devem fazer reservas entre 14 e 17h
pelo telefone (011) 224-3743.
²
O evento tem os apoios da RioArte, da revista
"Marketing Cultural" e do restaurante Antiquarius.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|