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O bailarino virou soldado
Na contramão de outros astros mirins, Jamie Bell, 20, vai além de "Billy Elliot" e constrói carreira no cinema
NICHOLAS BARBER
DO "INDEPENDENT"
"Clint daria de dez a zero em
todos nós juntos", diz Jamie
Bell, 20, entusiasmado, e, caso
alguém esteja em dúvida, ele
está falando de Clint Eastwood,
que o dirigiu no épico da Segunda Guerra Mundial "A Conquista da Honra". "No primeiro
dia de filmagens, estávamos no
mar da Islândia rodando a sequência em que os marines desembarcam em Iwo Jima, e
Clint estava conosco, saltando
de barco em barco. Ele tem 70 e
alguns anos, mas pilota helicópteros, dirige utilitários
enormes. É espantoso."
É espantoso sim, com certeza. Mas mais espantoso ainda é
que Bell tenha sido escolhido
por uma lenda americana viva
para representar um soldado
americano, Ralph "Iggy" Ignatowski. Para quem não lembra,
Jamie Bell é o adolescente de
orelhas grandes que viveu o papel-título de "Billy Elliot". Ele
pode ter feito um trabalho ótimo nesse filme, mas a verdade é
que era um adolescente do nordeste da Inglaterra que adorava
dançar que representou um
adolescente do nordeste da Inglaterra que adorava dançar.
Não chegava a ser tão difícil assim, e a aclamação que ganhou
por suas piruetas no filme não
era garantia de que sua carreira
no cinema teria continuidade.
"Depois de uma coisa como
essa, não há como subir, apenas
cair", concorda Bell. Alguém
que tivesse projetado o percurso de sua carreira em 2000,
quando "Billy Elliot" foi lançado, teria previsto mais um filme
britânico comovente, misto de
comédia e drama, seguido por
um seriado de TV britânico
também comovente. O que Bell
fez, entretanto, foi o que não se
esperava dele.
Desde "Billy Elliot", o ator
vem cuidadosamente e sem
alarde erguendo uma carreira
sólida, tendo como alicerce alguns projetos independentes
experimentais e alguns blockbusters de destaque de Hollywood. Exemplo disso foi a passagem direta do colossal "A
Conquista da Honra" para o independente "Hallam Foe", a
seqüência dirigida por David
McKenzie do polêmico "O Jovem Adam". "Hallam Foe" é
um "filme de doce vingança"
ambientado em Edimburgo, e
Jamie Bell o considera "a coisa
mais instigante e interessante"
que já fez. Passados alguns meses de seu 20º aniversário, a
pergunta obrigatória que se coloca é: como foi que tudo deu
tão certo?
Sem pressa
Sua primeira decisão inteligente foi evitar a pressa em fazer seu segundo filme. Bell só
foi visto na tela grande dois
anos depois de o circo "Billy
Elliot" ter deixado a cidade, e,
quando isso aconteceu, em
2002, ele surgiu como coadjuvante nos elencos de "Guerreiros do Inferno" e "Nicholas
Nickleby". Nenhum desses papéis chamou muita atenção,
mas os dois provaram que ele
era capaz de fazer personagens
que não fossem o de um filho de
mineiro com jeito para dançar
balé. Dois anos mais tarde, ele
apareceu em "Contracorrente", de David Gordon Green.
Em seguida, na parábola poética de Thomas Vinterberg sobre
o amor dos americanos pelas
armas, "Querida Wendy".
Esses dois filmes foram totalmente diferentes do que Bell já
tinha feito. Ambos eram produções ousadas e originais que
não estavam destinadas a atrair
um público grande. E o ator
mostrou ser capaz de adotar
um sotaque americano convincente, algo que lhe abriu portas
para interpretar um soldado
dos EUA no elenco de "A Conquista da Honra".
Seriam esses papéis tentativas propositais de evitar ser rotulado como ator de um papel
só? "Com certeza. Sou incrivelmente grato pelo sucesso de
"Billy Elliot". Mas, dois ou três
anos depois, você começa a se
afastar do que fez antes, e é importante fazer com que as pessoas saibam que está mudando.
Fiz esses filmes por uma decisão de me implantar no mundo
de cinema e me despir de qualquer rótulo que "Billy Elliot"
possa ter fixado em mim."
E o que dizer do sotaque
americano? "Isso leva algum
tempo", diz. "Com "Contracorrente", passei quatro horas por
dia, durante duas semanas, numa sala, lendo e relendo o roteiro em voz alta, com o sotaque.
Acho que funcionou."
Antes de estrelar "Billy
Elliot", Bell não tinha pensado
seriamente em ser ator. Depois
disso, com dois prêmios Bafta
em sua prateleira, ele ainda não
tinha certeza de que iria continuar a fazer cinema. "Alguma
coisa dentro de mim me dizia:
"Não, eu realmente gosto deste
trabalho"."
Longe dos flashes
Sua preferência pelo trabalho em lugar do glamour ficou
clara na época, especialmente
quando a entrega dos Globos de
Ouro foi televisionada. Há imagens impagáveis de outro astro
mirim, Haley Joel Osment, falando em
tom emocionado sobre como
"Billy Elliot" comoveu pessoas
em todo o mundo. Depois a câmera corta para Bell, que traz
uma expressão de ódio no rosto. "Foi um olhar de sem jeito",
corrige o ator.
Após seu trabalho precoce
em "O Sexto Sentido", Osment
teve atuações irregulares em "A
Corrente do Bem" e "A.I. - Inteligência Artificial", o que fez a
decisão de Bell de seguir um caminho menos direto até Hollywood parecer mais esperta.
Além das produções já mencionadas, ele aparece no independente "The Chumscrubber", um filme sobre angústia
existencial suburbana americana, liderando um elenco que inclui Ralph Fiennes e Glenn
Close. E não nos esqueçamos
de "King Kong".
Não surpreende ouvir Bell
dizer que ele espera dirigir filmes ele próprio. "Tenho sido
abençoado pela oportunidade
de trabalhar com essas grandes
pessoas", afirma. "Não há como
não se sentir inspirado por elas
quase todos os dias. O estranho
é que, quando trabalho com esses diretores, parece que começo a receber o espírito deles em
mim. Isso é bacana, quando se
trabalha com Clint Eastwood."
Será que o garoto bailarino pode um dia se tornar o próximo
Clint Eastwood? Alguém que
estivesse projetando sua carreira hoje não poderia excluir
essa possibilidade.
Tradução CLARA ALLAIN
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