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Bruno Miranda/Folha Imagem
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Szot, que cantará o papel de Emile de Becque, em frente ao teatro Abril, em São Paulo |
Um erudito na Broadway
O barítono brasileiro Paulo Szot estrelará a primeira remontagem de "South Pacific" em quase seis décadas
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um brasileiro é atração de
um dos espetáculos mais esperados da Broadway em 2008. O
barítono Paulo Szot fez uma
pausa na carreira operística para cantar o papel de Emile de
Becque no musical "South Pacific", de Rodgers e Hammerstein, no Lincoln Center Theater, neste primeiro semestre.
Trata-se da primeira remontagem de "South Pacific" na
Broadway desde a estréia do
musical, em 1949. Szot atua sob
a direção de Bartlet Sher (que,
neste ano, dirige ainda a ópera
"Romeu e Julieta", de Gounod,
no prestigiado Festival de Salzburgo) e forma o par romântico
do espetáculo com Kelli O'Hara, 30, estrela ascendente no
cenário dos musicais, indicada
duas vezes ao Tony Awards -a
última delas por "The Pajama
Game" (2006), em que atuou ao
lado de Harry Connick Jr.
A pré-estréia do musical começa em 1º de março, já no Lincoln Center, e a temporada se
estende de 3 de abril a 15 de junho. A rotina carregada de trabalho (oito apresentações por
semana, com uma folga às segundas) obrigou o barítono a
cancelar alguns compromissos
previamente agendados, caso
de "Manon", de Massenet, em
Marselha, e de duas produções
na cidade espanhola de Valência: "As Bodas de Fígaro", de
Mozart, e "Madama Butterfly",
de Puccini, sob a batuta de
Lorin Maazel.
Embora haja tradição em
empregar vozes líricas para o
papel de Emile, originalmente
escrito para o baixo italiano
Ezio Pinza (1892-1957), não
deixa de surpreender a escolha
de um brasileiro para a parte.
"Eu mesmo fiquei espantado", disse Szot à Folha, por telefone, de Antuérpia (Bélgica),
onde fazia o papel do Conde Almaviva numa produção de "As
Bodas de Fígaro", de Mozart.
"Se na ópera o intercâmbio é
mais fácil, nos musicais o mercado é fechado para os americanos", diz o barítono, que enfrentou filas "de dobrar esquina" nas audições para "South
Pacific", em abril último.
"Eu nunca tinha feito audição com texto, ainda mais em
inglês", conta. "Na ópera, 95%
da concentração é na voz. No
musical, as coisas são um pouco diferentes: você tem que
pensar mais no texto, no que
está dizendo exatamente. E a
vocalidade comporta mais liberdade para o intérprete e
uma expressão não tão limpa e
clara como a da ópera."
Ascendência polonesa
Descendente de poloneses,
Szot (pronuncia-se "xót") começou a estudar música aos
quatro anos de idade. Vieram o
piano, o violino e depois o canto
-inicialmente, como tenor, para, depois, passar para o registro mais grave de barítono.
Aos 18, embarcou para a Polônia, a fim de se aperfeiçoar
nos estudos vocais. Acabou entrando para a Companhia Estatal de Canto Slask, do Grande
Teatro de Varsóvia, onde atuou
durante quatro anos.
De volta ao Brasil, a desenvoltura cênica (auxiliada por
sua formação paralela como
bailarino) e a solidez vocal começaram a chamar a atenção
desde sua estréia, em 1997, no
papel principal de uma produção paulistana de "O Barbeiro
de Sevilha", de Rossini, no teatro Paulo Eiró.
Tendo se consolidado rapidamente como um dos mais requisitados barítonos do Brasil,
Szot começou seus vôos internacionais em 2003, cantando
no papel do toureiro Escamillo
numa montagem da ópera
"Carmen", de Bizet, na New
York City Opera.
Desde então, sua carreira no
exterior tem contemplado aparições em cidades como Barcelona, Marselha, Boston e Toronto. Neste ano, no Brasil, ele
tem agendado o papel de Sumo
Sacerdote na ópera "Sansão e
Dalila", de Saint-Saëns, em novembro, no Municipal de São
Paulo. Em disco, por enquanto,
o único fonograma existente
com sua voz é a canção "Non ti
Scordar di me", de Ernesto de
Curtis, em duo com o barítono
David Marcondes, na trilha sonora da novela "Terra Nostra".
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