São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bruno Miranda/Folha Imagem
Szot, que cantará o papel de Emile de Becque, em frente ao teatro Abril, em São Paulo


Um erudito na Broadway

O barítono brasileiro Paulo Szot estrelará a primeira remontagem de "South Pacific" em quase seis décadas

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um brasileiro é atração de um dos espetáculos mais esperados da Broadway em 2008. O barítono Paulo Szot fez uma pausa na carreira operística para cantar o papel de Emile de Becque no musical "South Pacific", de Rodgers e Hammerstein, no Lincoln Center Theater, neste primeiro semestre.
Trata-se da primeira remontagem de "South Pacific" na Broadway desde a estréia do musical, em 1949. Szot atua sob a direção de Bartlet Sher (que, neste ano, dirige ainda a ópera "Romeu e Julieta", de Gounod, no prestigiado Festival de Salzburgo) e forma o par romântico do espetáculo com Kelli O'Hara, 30, estrela ascendente no cenário dos musicais, indicada duas vezes ao Tony Awards -a última delas por "The Pajama Game" (2006), em que atuou ao lado de Harry Connick Jr.
A pré-estréia do musical começa em 1º de março, já no Lincoln Center, e a temporada se estende de 3 de abril a 15 de junho. A rotina carregada de trabalho (oito apresentações por semana, com uma folga às segundas) obrigou o barítono a cancelar alguns compromissos previamente agendados, caso de "Manon", de Massenet, em Marselha, e de duas produções na cidade espanhola de Valência: "As Bodas de Fígaro", de Mozart, e "Madama Butterfly", de Puccini, sob a batuta de Lorin Maazel.
Embora haja tradição em empregar vozes líricas para o papel de Emile, originalmente escrito para o baixo italiano Ezio Pinza (1892-1957), não deixa de surpreender a escolha de um brasileiro para a parte.
"Eu mesmo fiquei espantado", disse Szot à Folha, por telefone, de Antuérpia (Bélgica), onde fazia o papel do Conde Almaviva numa produção de "As Bodas de Fígaro", de Mozart. "Se na ópera o intercâmbio é mais fácil, nos musicais o mercado é fechado para os americanos", diz o barítono, que enfrentou filas "de dobrar esquina" nas audições para "South Pacific", em abril último.
"Eu nunca tinha feito audição com texto, ainda mais em inglês", conta. "Na ópera, 95% da concentração é na voz. No musical, as coisas são um pouco diferentes: você tem que pensar mais no texto, no que está dizendo exatamente. E a vocalidade comporta mais liberdade para o intérprete e uma expressão não tão limpa e clara como a da ópera."

Ascendência polonesa
Descendente de poloneses, Szot (pronuncia-se "xót") começou a estudar música aos quatro anos de idade. Vieram o piano, o violino e depois o canto -inicialmente, como tenor, para, depois, passar para o registro mais grave de barítono.
Aos 18, embarcou para a Polônia, a fim de se aperfeiçoar nos estudos vocais. Acabou entrando para a Companhia Estatal de Canto Slask, do Grande Teatro de Varsóvia, onde atuou durante quatro anos.
De volta ao Brasil, a desenvoltura cênica (auxiliada por sua formação paralela como bailarino) e a solidez vocal começaram a chamar a atenção desde sua estréia, em 1997, no papel principal de uma produção paulistana de "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini, no teatro Paulo Eiró.
Tendo se consolidado rapidamente como um dos mais requisitados barítonos do Brasil, Szot começou seus vôos internacionais em 2003, cantando no papel do toureiro Escamillo numa montagem da ópera "Carmen", de Bizet, na New York City Opera.
Desde então, sua carreira no exterior tem contemplado aparições em cidades como Barcelona, Marselha, Boston e Toronto. Neste ano, no Brasil, ele tem agendado o papel de Sumo Sacerdote na ópera "Sansão e Dalila", de Saint-Saëns, em novembro, no Municipal de São Paulo. Em disco, por enquanto, o único fonograma existente com sua voz é a canção "Non ti Scordar di me", de Ernesto de Curtis, em duo com o barítono David Marcondes, na trilha sonora da novela "Terra Nostra".


Texto Anterior: Horário nobre da TV aberta
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.