São Paulo, domingo, 09 de janeiro de 2011

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Mônica Bergamo

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O 'BRASIL' DE MARCELA TEMER

Eterna vice em concursos de beleza, a mulher do vice-presidente da República enfrentou concorrência forte em sua cidade natal e brilhou na posse de Dilma Rousseff com roupa feita por costureira

Paulo Mendel
Marcela ficou em segundo também no Miss SP do 'b'

"Temer tá bem com um pé de alface daquele em casa!" Assim reagiu o comerciante Francisco Vieira, 57, ao ver pela tevê a imagem da conterrânea Marcela, 27, ao lado do marido, o vice-presidente Michel Temer, 70, na cerimônia de posse de Dilma Rousseff em Brasília.

 

Chiquinho dos Pisos, como é conhecido em Paulínia (a 117 km da capital), explica o sentido do uso do vegetal como elogio. "É o jeito de dizer que uma mulher é jovem, bonita e gostosona, com todo o respeito", diz o dono de três lojas de material de construção da cidade.

 

Polo petroquímico e de produção cinematográfica, a cidade de 73 mil habitantes é pródigo em "pés de alface", a julgar pelas 80 candidatas selecionadas para o Miss Paulínia 2002. Com 1,63 m e 51 kg, Daniella Motta Vieira, 25, filha de Chiquinho, é uma delas. Com sua beleza a la Patrícia Poeta, apresentadora do "Fantástico", ficou entre as 16 finalistas no concurso em que Marcela foi vice.

 

A futura senhora Temer e companhia foram "descobertas" por Heloísa Mesquita, 50, organizadora do evento daquele ano. "Marcela não tinha a exuberância de miss, mas tinha brilho", avalia Helô, com a autoridade de ex-miss São José dos Campos e quinta colocada no Miss São Paulo 1981. Desde o auê em torno da "vice-miss do vice", ela diz que passou a ser chamada de "Dilson Stein de Paulínia", em referência ao olheiro que "lançou Gisele Bündchen para o mundo".

 

Helô se recorda de ter praticamente "empurrado" Marcela para outros concursos de beleza. Foi como representante da vizinha Campinas que a jovem paulinense participou de um Miss São Paulo 2003, em Marília, no interior do Estado. Não era o oficial, mas uma etapa do Miss Brazil, assim com "z".

 

Dono da marca, o gaúcho Danilo D'Avila, 70, explica: "É para diferenciar dos outros. Tem um monte de Miss Brasil aí com "s'". De novo vice, Marcela foi coroada princesa no Miss São Paulo do "b". "Ela tinha muita classe, era excelente candidata, mas teve concorrência muito forte", justifica D'Avila.

 

A última faixa daria direito à participação em um concurso no exterior. Segundo D'Avila, a futura sogra de Temer decretou ali o fim da carreira de miss da filha. "A mãe da Marcela não autorizou que ela viajasse."

 

Boanerges Gaeta, organizador do verdadeiro Miss Brasil, diz que a faixa de segundo lugar de Marcela "não tem muito peso a nível de ser miss [sic] porque não foi oficial. Infelizmente, a mulher não deu muita sorte".

 

Foi na pele de candidata a miss Paulínia que Marcela Araújo, aos 19 anos, encantou Michel Temer, quando foram apresentados em um churrasco promovido por um político local. "O encantamento foi mútuo", atesta Helô, testemunha do início do "conto de fadas" que levaria a paulinense ao Palácio do Jaburu, em Brasília.

 

Com seu 1,75 m, cabelos e olhos castanhos amendoados, Marcela ofuscou outras beldades locais como Daniela Fantinati. Aos olhos de Temer. Diante dos jurados, dias depois, Dani levaria a faixa de Miss Paulínia. "Era a mais bonita", afirma Mizael Marcelly, colunista do "Correio Paulinense".

 

Loura e linda, a moça que derrotou Marcela Temer na disputa pelo título de a mais bela de Paulínia continua morando na cidade. Solteira e formada em Relações Públicas, teria esnobado um político de expressão nacional que andou pela região, segundo colegas. Procurada pela Folha, a ex-miss Paulínia não quis dar entrevista.

 

A maior parte das aspirantes a miss da foto acima se mudou da cidade. "Algumas se casaram, estão mais gordinhas e não querem aparecer", despista Helô. Uma delas foi tentar a sorte como imigrante nos EUA.

 

O prêmio da campeã foi virar capa do suplemento do jornal "O Momento", que pertencia ao então marido de Helô. "Esse negócio de miss só me deu prejuízo e dor de cabeça", diz o empresário Paulo Bereguel.

 

A notoriedade de Marcela Temer fez o acervo fotográfico, até alguns meses atrás condenado ao lixo, virar ouro. Paulo doou mais de 12 mil fotos. "Mas devia ter jogado tudo na caçamba." A fotógrafa Jô Breda, que herdou o material, negociava a R$ 5.000 o pacote de 17 fotos da mulher do vice.

 

Na posse de Dilma e Temer, a caravana de Paulínia era formada pelos pais de Marcela, Carlos e Norma, pelos irmãos, Karlo e Fernanda, e pelo tio Geraldo. O tio posou ao lado da cunhada e das sobrinhas em foto cedida com exclusividade à Folha. A caçula Fernanda, 24, ex-aeromoça, fez o estilo exuberante, em um vestido pink, a exemplo da mãe. "Era uma roupa que eu tinha faz tempo", conta Norma, surpresa com a "reviravolta" causada pela aparição da filha. "Ela só acompanhou o marido."

 

O estilo heroína grega incorporado por Marcela Temer na posse foi copiado de uma revista. "Ela procurou, procurou, mas não gostou de nada nas lojas", diz a mãe. A saia-lápis e a blusa assimétrica foram desenhadas por um estudante de moda, de nome André, indicado por uma dermatologista. Como nos tempos áureos dos concursos de miss, o modelito sem grife, aprovado por boa parte dos fashionistas, é obra de uma costureira.

 

O fotógrafo oficial da família Araújo voltou para casa com um clique especial com Dilma Rousseff. No entanto, entre as imagens registradas por Geraldo, a que todos queriam ver era a da ex-miss de tranças que ofuscou a primeira mulher a colocar a faixa de presidente da República no Brasil.

"Ela procurou, procurou, mas não gostou de nada nas lojas"
NORMA ARAÚJO
sobre o look da filha Marcela Temer


"Temer tá bem com um pé de alface daquele em casa!"
FRANCISCO VIEIRA
comerciante, sobre a mulher do vice


"Marcela não tinha a exuberância de miss, mas tinha brilho"
HELOÍSA MESQUITA
organizadora do Miss Paulínia 2002

ReportagemELIANE TRINDADE; colaborou THAIS BILENKY



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