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Furação 2001
Funk carioca desce o morro e invade SP
Músicas como as do CD do Furação 2000, com batidas pulsantes e letras eróticas, desbacam o axé e o pagode, viram hinos do verão e febre na TV (Xuxa), nos estádios (torcidas) e nas ruas (camelôs)
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se é que já não pegou você, vai
pegar. Está tudo dominado. O
funk carioca desceu o morro, se
espalhou pela zona sul e, não contente, pegou a Dutra e já invadiu
São Paulo.
Se o conceito MPB levar a sério
o seu "P", de popular, vai perceber que a sigla está mais malandra, a onda é requebrar a cintura
(ou o "popô") e cantarolar "Cerol
na Mão", "Tapinha" e "Tá Dominado", hinos que já reverberam
na avenida Paulista, no centro da
cidade, em academias de ginástica e casas noturnas. Está na TV,
nas ruas, na moda.
Quando, no final de dezembro
passado, em um dos jogos finais
da Copa João Havelange, entre
São Caetano e Vasco, a torcida
vascaína entrou no Parque Antártica (SP) cantando "Tá dominado,
tá tudo dominado", o ato de invasão foi sacramentado.
Àquela altura, discos de funks
piratas já estavam sendo consumidos aos montes via camelôs na
Paulista e no centro. Nas Grandes
Galerias, tradicional conglomerado de lojas de discos, o funk carioca estava no topo dos mais vendidos CDs do subsolo do lugar, reduto do rap paulistano.
Mas a bandeira funk carioca vai
ser espetacularmente fincada no
coração paulistano no próximo
17, sábado, quando, na badalada
rua Funchal, na Vila Olímpia,
mais precisamente na danceteria
América, vai ocorrer o primeiro
baile funk paulistano promovido
pela lendária Furacão 2000.
A Furacão 2000 é a megaempresa do mercado funk carioca. Surgida há longínquos 28 anos, a
marca, fundada pelo polêmico
empresário carioca Rômulo Costa, é responsável por mais de 20
bailes funk por semana no Rio,
tem estúdio próprio, jornal, dois
programas de TV e um de rádio.
Mas o veio de ouro está nos discos editados por gravadoras tradicionais e depois por selos próprios, que agora chegam a 26 lançamentos. O último deles, "Furacão 2000 - Tornado Muito Nervoso", é o responsável pela explosão
nacional do funk carioca, cotado
como o ritmo do Carnaval, dos
bailes de salão à festa baiana dos
trios elétricos no reino do axé.
"Conseguimos entrar em SP no
vácuo da saturação do pagode e
do axé. Com a Xuxa tocando, o
Gugu, não é só SP que se abre para
o funk. Pelo que soubemos, está
estourado em Porto Alegre, São
Luís, Salvador", comemora Rômulo Costa, que afirma ter vendido em janeiro cerca de 150 mil cópias para atacadistas de SP e, recentemente, 40 mil cópias para a
rede de supermercados Extra.
O funk já chegou ao governo. A
mulher de Rômulo, a "popozuda"
(veja glossário nesta página) Verônica Costa, primeira-dama da
Furacão 2000, foi a vereadora
mais votada nas últimas eleições
do Rio, com 37 mil votos.
O fenômeno ataca por todos os
lados. No Rock in Rio 3, Paula Toller cantou trecho de "Tapinha"
durante apresentação do Kid
Abelha. Fernanda Abreu bombardeou umas 150 mil pessoas
com o refrão de "Cachorra Chapa
Quente" em sua apresentação.
"Acho muito saudável a galera
de SP e a classe média em geral
consumirem o funk carioca. É o
som criado nas favelas e subúrbios do Rio, espécie de ponte entre as "cidades partidas" (zonas ricas/zonas pobres)", diz Fernanda.
Mas foi na TV que o fenômeno
ganhou sua vitrine mais reluzente. A "madrinha" Xuxa não pára
de tocar, cantar e dançar o funk
na tela da Globo, em seu "Planeta
Xuxa", desde novembro de 2000.
"A razão de o funk estar presente nos programas da Xuxa é por
ela ser funkeira por excelência. Na
Globo, ela, mais do que ninguém,
gosta do gênero", afirma Marlene
Mattos, diretora-geral do "Planeta Xuxa" e responsável pelas descobertas sonoras que podem virar
moda, via Xuxa.
O apresentador Luciano Huck,
do também global "Caldeirão do
Huck", é outro porta-voz funk.
Huck até mostrou em entrevista
um CD de funk para a boys band
"NSync, que o levou para casa.
Agora o funk já está no Gugu. E
fez o animador do SBT, cansado
de bater o "Domingão do Faustão" em audiência, emplacar o feito inédito de ganhar, no último
domingo, da própria Xuxa e seu
outro programa, "Xuxa Park".
Terça passada, a banda funk
Bonde do Tigrão deu alegria também à TV Bandeirantes. Músicas
como "Cerol na Mão" provocaram recorde de audiência no programa "Superpositivo", que chegou a festejados 10 pontos.
E que música é essa, que depois
de 28 anos embalando festas nos
morros do Rio chega à TV, a boates da moda da abastada zona sul
carioca e virou febre nacional?
Registro sonoro dos famosos e
violentos bailes das favelas cariocas, movidos por hipnóticas batidas programadas e sons estourados de baixo, o funk "tipo exportação" mudou o foco. Suas letras,
que falavam muito em favela e
tráfico, hoje são brandas e versam
sob gíria e sobre sexo. O tema universal é o da "popozuda", mulher
de bunda grande. A classe média
acha graça e não se assusta.
O próximo passo da dominação
chega na semana que vem, quando as lojas de discos serão atingidas pelo lançamento, pela gigante
Sony, do CD homônimo do Bonde do Tigrão. O CD terá "Cerol na
Mão 2", candidato a novo hino.
"Nesta semana eu estava aí em
SP e foi engraçado. Por onde andava, ouvia a minha voz nas ruas,
em todo lugar", diz Tigrão, depois
de uma sessão de fotos para a capa do disco, feita às pressas pela
Sony, para não perder o... bonde.
Talvez a mais famosa banda
funk, o Bonde do Tigrão iniciará
"turnê" em SP no próximo dia 17,
em Cachoeira Paulista, interior.
Depois, shows na capital.
Aí, demorou!
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