São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Cinema/estréia

Mirren torna Elizabeth 2ª mais "real"

Veterana atriz britânica evita trejeitos óbvios e recria na tela uma soberana mais "humana" nos dias pós-morte de Diana

"Rainha do teatro britânico", Mirren, 61, consolidou imagem de mulher forte e sexualizada, que não diminuiu com a idade


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não estranhe se, depois de assistir a "A Rainha", que estréia hoje no Brasil, você começar a olhar de maneira diferente a soberana Elizabeth 2ª, quando ela surgir na TV. É como se depois da ficção, ela se tornasse mais "verdadeira", humana, irritante, frágil até.
Esse é apenas um dos efeitos que a impressionante atuação de Helen Mirren, 61, no papel-título do filme de Stephen Frears, causa nos espectadores. Pelo papel, a atriz, "rainha do teatro britânico" e uma das principais do cinema inglês, já levou 22 prêmios. Sua vitória no Oscar, no próximo dia 25, é dada como certa.
Mas por que sua atuação está sendo tão badalada? Para citar um exemplo, em determinada altura do filme, vemos a impenetrável rainha saltando do carro que atolou em um lago, colocando os pés na água e pedindo ajuda ao celular.
Cenas como essa, que levam o espectador a detalhes mundanos de uma figura que vive reclusa nos palácios da monarquia, estão aos montes no filme, que mostra como a família real e o primeiro-ministro Tony Blair lidaram com a morte da princesa Diana, em 1997.
Talvez o esforço de Frears tivesse sido em vão, perdendo-se na caricatura, não fosse o brilho da atriz, que fugiu da tentação simplista de imitar os trejeitos corporais da personagem. Mirren dá a sua visão sobre um símbolo que, de repente, se vê perdido no tempo e no espaço.

Imagem sexy
Mais do que pelo fato de já ter interpretado duas rainhas anteriormente -o papel-título da série "Elizabeth 1ª" (2005) e a rainha Charlotte, em "As Loucuras do Rei Jorge" (1994)-, Mirren parecia a escolha natural para o papel devido ao currículo exemplar que vem cultivando desde sua estréia nos palcos, em 1965, como Cleópatra -ela que depois integraria a trupe de Peter Brook.
Mirren coleciona uma galeria de mulheres fortes -como a chefe de polícia na série "Prime Suspect" (iniciada em 1990)- e com intensa sexualidade, algo mais explícito no pornô-mainstream "Calígula" (1979) ou em "Garotas do Calendário" (2003). A idade não interferiu na sua imagem de mulher sexy.
Recente reportagem do jornal inglês "The Guardian" faz questão de enfatizar que Mirren topou dar a entrevista desde que o repórter fosse um homem. O texto lembra ainda que, anos antes, a atriz havia dito que punha o despertador para tocar bem cedo, de modo que transar com seu parceiro -o diretor Taylor Hackford- fosse a primeira atividade do dia.
Sexo à parte, Mirren construiu seu personagem em "A Rainha" tendo como base pesquisas em arquivo mas também um encontro-relâmpago, de quase 20 segundos, com Elizabeth 2ª, durante uma partida de pólo. "Ela é charmosa e adorável", comentou a atriz. Qualidades que conseguiu transparecer em "A Rainha".


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