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crítica
Filme observa o novo frente ao imutável
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Existe no novo filme
de Stephen Frears
uma indagação inquietante: o que é uma rainha? Não esses reis que
Shakespeare tornou tão
particulares -magníficos,
geniais, cruéis, dementes.
Não uma rainha capaz de
marcar o mundo com sua
presença, como Vitória,
mas uma rainha, simplesmente, como Elizabeth 2ª.
Por que, afinal, os britânicos a reverenciam tanto? E por que os franceses
-famosos republicanos
regicidas- não conseguem eliminar o fantasma
da monarquia?
O filme apanha a rainha
na crise fundamental de
seu reinado: a morte de
Diana, que coincide com a
chegada de um primeiro-ministro trabalhista disposto a marcar sua passagem pelo cargo como um
iconoclasta, Tony Blair.
A oposição do filme se
dá entre Blair e Elizabeth.
Ela representa não só o
conservadorismo mas a
impossibilidade de aferir
mudanças do mundo (em
particular as midiáticas),
que fazem de Diana, da dor
que sentem por sua morte
pessoas que nunca a conheceram, um acontecimento incompreensível.
Ora, a mídia é tudo o que
Blair compreende. Isso o
deixa em posição privilegiada. No momento em
que o povo parece disposto a proclamar a república,
Blair é o homem providencial. Mas um estranho jogo
de atrações se desenvolve
entre os dois, e a rainha,
imutável no conservadorismo, discretamente deixa o centro do filme para
Blair, que de fato desperta
o interesse de Frears.
É o reinado de Blair,
mais que o de Elizabeth,
que se coloca em questão,
na medida em que a rainha
-sustenta o filme- permanecerá fiel a si mesma.
E, se mudar, será só para
preservar a tradição.
Com Tony Blair, formidável manipulador da opinião pública, o que ocorre?
É a questão que o filme levanta, com sutil elegância
e elenco preciso: no que
resulta, para o país, a relação entre a rainha empoeirada e o plebeu moderno?
A RAINHA
Direção: Stephen Frears
Produção: Inglaterra/França/Itália, 2006
Com: Helen Mirren, Michael Sheen e James Cromwell
Quando: estréia hoje nos cines
Bristol, Kinoplex Itaim e circuito
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