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Crítica/"From the Soil to the Soul"
Nome da nova cena do soul, Guerrero lança CD com charme de disco antigo
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Alguns dos álbuns mais
interessantes de 2006
foram a estréia do
Gnarls Barkley e os novos CDs
de Justin Timberlake, Cat Power e Amy Winehouse. Um dos
discos mais vendidos no mundo em 2006 foi o da cantora Corinne Bailey Rae. Prince está de
volta. Um artista prestes a virar
cult é o cantor sueco Juvelen.
O que há em comum em tudo
isso? Em uma palavra: soul.
Estilo dos mais influentes e
definitivos da música pop no
século 20, o soul tem ganhado
nova atenção e saído dos toca-discos de colecionadores para o
pop contemporâneo, por meio
de influências e reinvenções.
Um dos artistas mais emblemáticos dessa nova cena, ainda
que mais pelo funk instrumental do que pelo soul cantado, é o
ex-skatista americano Tommy
Guerrero, 40. Membro da famosa equipe de skatistas Bones
Brigade nos anos 80, Guerrero
no fim dos 90 passou a se dedicar à outra grande paixão, a
música. De lá para cá foram
quatro álbuns, o mais recente,
"From the Soil to the Soul",
lançado no fim do ano passado.
"A maior influência que tenho do mundo do skate", diz o
músico à Folha, por e-mail, "é
o espírito do "faça você mesmo".
Você não precisa de um time
para andar de skate nem de
banda para fazer música".
Participação brasileira
Com seu primeiro disco
("Loose Grooves & Bastard
Blues", 1998) elogiado, mas
pouco ouvido, passou a conquistar público a partir do segundo ("A Little Bit of Somethin'", 2000). Seu terceiro
("Soul Food Taqueria", 2003)
teve single nas paradas de rádios alternativas americanas. A
atenção chegou ao Brasil, onde
teve seus dois discos anteriores
lançados pela gravadora Sum
(ambos fora de catálogo).
A relação com o Brasil se estreitou no disco mais recente: o
baterista, compositor e cantor
Curumim participa de uma faixa. Ele canta uma mistura de
hip hop com soul em bom português em "Salve", parceria sua
com Guerrero: "Pra lá, pra cá /
De banda, de rolê / Nessa selva
eu tô suave / Salve".
Citando João Gilberto, Jorge
Ben e Lucas Santtana como referências, Guerrero explicou o
encontro com Curumim:
"Quando ouvi o disco dele, fiquei impressionado e vi que tínhamos que fazer uma colaboração. Trocamos e-mails, mandei para ele uma demo da faixa,
e ele fez os vocais. Aí, quando
ele esteve por aqui para uma
turnê, gravamos".
Gravado em casa, com a
maioria dos instrumentos tocados pelo próprio Guerrero,
"From the Soil to the Soul" tem
o clima e o charme de um antigo disco empoeirado de funk
dos anos 70. Mas, se nos primeiros discos o clima "lo-fi" dava uma cara simpática porém
pouco séria ao projeto, agora a
qualidade das músicas em si é o
que salta aos ouvidos. Ainda assim, ele não abre mão de uma
certa sonoridade antiga, que remete aos favoritos de sua coleção. "Gosto dessa textura, acho
que funk fica melhor com uma
sonoridade "gasta"."
Difícil mesmo para ele é definir seu som. "Acho que meu
amor pela música e a energia
que sinto dos outros músicos é
o que forma meu estilo e me
inspira a criar. Tento deixar
sempre a porta aberta, assim,
qualquer um que passar por ela
pode ser uma influência."
Em uma palavra: soul.
FROM THE SOIL TO THE SOUL
Artista: Tommy Guerrero
Gravadora: Quannum
Quanto: US$ 14,98 (R$ 31 mais taxas) no www.amazon.com
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