São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Crítica/"From the Soil to the Soul"

Nome da nova cena do soul, Guerrero lança CD com charme de disco antigo

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alguns dos álbuns mais interessantes de 2006 foram a estréia do Gnarls Barkley e os novos CDs de Justin Timberlake, Cat Power e Amy Winehouse. Um dos discos mais vendidos no mundo em 2006 foi o da cantora Corinne Bailey Rae. Prince está de volta. Um artista prestes a virar cult é o cantor sueco Juvelen.
O que há em comum em tudo isso? Em uma palavra: soul.
Estilo dos mais influentes e definitivos da música pop no século 20, o soul tem ganhado nova atenção e saído dos toca-discos de colecionadores para o pop contemporâneo, por meio de influências e reinvenções.
Um dos artistas mais emblemáticos dessa nova cena, ainda que mais pelo funk instrumental do que pelo soul cantado, é o ex-skatista americano Tommy Guerrero, 40. Membro da famosa equipe de skatistas Bones Brigade nos anos 80, Guerrero no fim dos 90 passou a se dedicar à outra grande paixão, a música. De lá para cá foram quatro álbuns, o mais recente, "From the Soil to the Soul", lançado no fim do ano passado.
"A maior influência que tenho do mundo do skate", diz o músico à Folha, por e-mail, "é o espírito do "faça você mesmo".
Você não precisa de um time para andar de skate nem de banda para fazer música".

Participação brasileira
Com seu primeiro disco ("Loose Grooves & Bastard Blues", 1998) elogiado, mas pouco ouvido, passou a conquistar público a partir do segundo ("A Little Bit of Somethin'", 2000). Seu terceiro ("Soul Food Taqueria", 2003) teve single nas paradas de rádios alternativas americanas. A atenção chegou ao Brasil, onde teve seus dois discos anteriores lançados pela gravadora Sum (ambos fora de catálogo).
A relação com o Brasil se estreitou no disco mais recente: o baterista, compositor e cantor Curumim participa de uma faixa. Ele canta uma mistura de hip hop com soul em bom português em "Salve", parceria sua com Guerrero: "Pra lá, pra cá / De banda, de rolê / Nessa selva eu tô suave / Salve".
Citando João Gilberto, Jorge Ben e Lucas Santtana como referências, Guerrero explicou o encontro com Curumim: "Quando ouvi o disco dele, fiquei impressionado e vi que tínhamos que fazer uma colaboração. Trocamos e-mails, mandei para ele uma demo da faixa, e ele fez os vocais. Aí, quando ele esteve por aqui para uma turnê, gravamos".
Gravado em casa, com a maioria dos instrumentos tocados pelo próprio Guerrero, "From the Soil to the Soul" tem o clima e o charme de um antigo disco empoeirado de funk dos anos 70. Mas, se nos primeiros discos o clima "lo-fi" dava uma cara simpática porém pouco séria ao projeto, agora a qualidade das músicas em si é o que salta aos ouvidos. Ainda assim, ele não abre mão de uma certa sonoridade antiga, que remete aos favoritos de sua coleção. "Gosto dessa textura, acho que funk fica melhor com uma sonoridade "gasta"."
Difícil mesmo para ele é definir seu som. "Acho que meu amor pela música e a energia que sinto dos outros músicos é o que forma meu estilo e me inspira a criar. Tento deixar sempre a porta aberta, assim, qualquer um que passar por ela pode ser uma influência." Em uma palavra: soul.


FROM THE SOIL TO THE SOUL     
Artista: Tommy Guerrero
Gravadora: Quannum
Quanto: US$ 14,98 (R$ 31 mais taxas) no www.amazon.com


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