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Última Moda
Alcino Leite Neto, em Nova York - ultima.moda@folha.com.br
Gelo nas ruas e na passarela
Semana de moda de Nova York traz coleções sem novidades e sem vibração
Nas páginas dos jornais americanos, o assunto é o aquecimento global. Mas, nas ruas de
Nova York, é o frio que domina,
com temperaturas às vezes
abaixo de 10 graus negativos.
Há um certo gelo criativo também na semana de moda de Nova York, que começou na última sexta-feira e termina hoje.
Aliás, o evento mudou de nome. Chamava-se Olympus Fashion Week e agora, como ganhou outro patrocinador, virou
Mercedes Benz Fashion Week.
O resultado mais visível da mudança foi que o já exíguo hall de
entrada no Bryant Park ficou
menor ainda, com dois carrões
de luxo ocupando o local.
Os desfiles acontecem em
quatro tendas, que são alugadas
aos estilistas. The Tent é a
maior, com cerca de mil lugares, e seu aluguel custa US$ 46
mil (cerca de R$ 93 mil) -foi
nela que Alexandre Herchcovitch mostrou a sua coleção. A
Promenade, com cerca de 750
lugares, custa US$ 36,5 mil -e
foi a escolhida de Carlos Miele.
Os dois foram os únicos brasileiros a se apresentar nesta
temporada em Nova York (leia
mais nesta pág.), descontado
Francisco Costa, que trabalha
para a Calvin Klein, cujo desfile
foi hoje à tarde [esta edição fechou na manhã de quinta].
A expectativa é que Costa
possa esquentar um pouco a
imaginação dos fashionistas,
como fez da última vez. Na
maioria das coleções, invenção
e emoção estão em falta.
Mesmo Marc Jacobs, o mais
talentoso e rebelde dos estilistas americanos, fez um recuo
conservador. Não foi à toa que
ele disse ter se inspirado no filme "O Conformista", de Bertolucci -a história da traição cometida por um fascista.
A coleção de Jacobs é ela
mesma "conformista", e em nada lembra o estilo meio underground que marcou o estilista.
No entanto, é chiquérrima,
conciliando praticidade e sofisticação, os anos 70 e os 30 (há
sinais de Coco Chanel no ar). E
deve ser influente, nestes tempos também conservadores.
Mas são os anos 80 que estão
dominando em Nova York, como em Narciso Rodriguez, que
apresentou uma interessante
coleção de traços minimalistas
e elementos esportivos; ou em
Derek Lam, que adotou sem
peias uma das influências históricas da hora: Azzedine Alaïa.
No campo mais convencional,
chamaram a atenção Diane von
Furstenberg, que tentou buscar em Miró algumas novidades formais, e Oscar de La Renta, que fez um desfile megaluxuoso e hollywoodiano.
Na ótica nova-iorquina, o inverno vai se configurando com
base nos vestidos, de silhuetas
muito leves, em geral em corte
A ou na forma de túnicas e
trenchs. Calças largas e pantalonas pontuaram as coleções,
marcadas por preto, metálicos
e cores primárias e fortes. Em
tempo: em Nova York, a febre
das megabolsas já era.
Italianos invadem NY
Duas grifes italianas desfilaram suas segundas marcas, de
perfil mais jovem, em Nova
York. Alberta Ferreti trouxe a
Philosophy, e a Ermenegildo
Zegna exportou a Z Zegna, desenhada por Alessandro Sartori. O objetivo é internacionalizar ainda mais as coleções.
O desfile da Z Zegna foi o primeiro da marca e aconteceu no
Cunard Building, um belo edifício na Broadway que já foi sede
de uma companhia de navios. A
apresentação foi discreta e elegante. Levou para as passarelas
modelos bem jovens vestindo a
quintessência do luxo da grife.
A imagem teve seu impacto,
para quem está acostumado a
ver a garotada usando streetwear. Ternos de lã impecáveis,
suéteres de cashmere, trenchs
superchiques -um estilo bem
clássico, contrabalançado com
toques mais atuais.
Herchcovitch impressiona com vestido de saco de lixo
Alexandre Herchcovitch desorientou o coro dos contentes
na semana de moda de Nova
York -marcada por muito convencionalismo e falta de ousadia. Muita gente saiu impressionada com a sua coleção inspirada nos bóias-frias e com o
vestido de saco de lixo que ele
levou à passarela.
A conceituada crítica de moda inglesa Hilary Alexander, do
"Daily Telegraph", declarou
que foi "o desfile mais excitante" que ela tinha visto até o momento. Hilary também achou
os casacos "impecáveis".
Para Hamish Bowles, da "Vogue" americana, Alexandre
"trouxe cor e vida à semana de
moda de Nova York". O prestigiado site de moda Style.com
disse que o estilista conseguiu
desviar do perigo da paródia
que pairava sobre sua coleção.
Dos três últimos desfiles de
Alexandre, este foi o de maior
impacto em Nova York. Os shapes masculinizados e até mesmo o styling (com chapéus e luvas) da coleção do brasileiro
têm correspondências com o
desfile de Marc Jacobs, funcionando com uma opção mais
moderna à imagem clássica
proposta pelo americano.
O estilista foi um dos dois
brasileiros a desfilar na cidade
-junto com Carlos Miele, que
apresentou uma coleção elegante, mas sem grandes vôos,
apostando mais na sofisticação
dos materiais, como no belo casaco de mink e crocodilo.
com VIVIAN WHITEMAN
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