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Morre o cineasta marginal Ozualdo Candeias, 88
Diretor paulista, de títulos como "A Margem" e "A Herança", teve insuficiência respiratória; corpo será cremado hoje
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu ontem à tarde, em
São Paulo, de insuficiência respiratória, o cineasta Ozualdo
Candeias, 88, um dos nomes
decisivos do cinema marginal
brasileiro. Ele sofria de câncer
na próstata havia cerca de um
ano e estava internado no Hospital Brigadeiro desde a última
sexta-feira. O corpo é velado
desde a noite de ontem na Beneficência Portuguesa e deverá
ser cremado no fim da manhã
de hoje, na Vila Alpina.
Filho de um imigrante português, ele nasceu em 11 de novembro de 1918, em Cajubi, interior paulista. Antes de descobrir o cinema, em 1963 -ao assinar, com José Mojica Marins,
o roteiro de "Meu Destino em
Tuas Mãos"-, foi recruta do
Exército, voluntário da Aeronáutica e caminhoneiro, passando por São Paulo, Rio, Pernambuco e Mato Grosso.
Foi novamente com Mojica
que Candeias estreou na direção, como assistente do amigo
em "À Meia-Noite Levarei Sua
Alma", em 64. "O cinema artesanal, independente e marginal
perde o seu carro-chefe intelectual", disse Mojica.
Candeias começaria de fato a
chamar atenção três anos mais
tarde, com "A Margem", olhar
desolado sobre os esquecidos
ribeirinhos do Tietê. Em seguida, vieram um segmento do filme coletivo "Trilogia de Terror", "Meu Nome é Tonho" e "A
Herança", transposição de
"Hamlet" para o interior brasileiro. "Ele era único no cinema
brasileiro. Representava, no
meio, o que Bispo do Rosário
era para as artes plásticas. Violentava a linguagem, era visceral", afirmou o escritor e cineasta João Silvério Trevisan,
que dirigiu o Candeias ator em
"Orgia" (70).
Para o diretor Eugênio Puppo, que organizou uma retrospectiva da obra de Candeias em
2002, em São Paulo, o paulista
foi "um legítimo representante
do cinema de autor, irreverente
e brilhante". Já o secretário
municipal de Cultura de São
Paulo, Carlos Augusto Calil,
que já presidiu a Embrafilme,
destacou a "postura existencial,
não apenas estética ou ideológica" do cinema de Candeias.
"A sua coragem para lidar com
a alta cultura sem reverência
era notável", observou.
Em homenagem ao cineasta,
o Canal Brasil reapresenta, entre segunda e terça da semana
que vem, "A Freira e a Tortura",
"Trilogia de Terror", "Caçada
Sangrenta" e "Candeias - Da
Boca pra Fora".
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