São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Morre o cineasta marginal Ozualdo Candeias, 88

Diretor paulista, de títulos como "A Margem" e "A Herança", teve insuficiência respiratória; corpo será cremado hoje

DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu ontem à tarde, em São Paulo, de insuficiência respiratória, o cineasta Ozualdo Candeias, 88, um dos nomes decisivos do cinema marginal brasileiro. Ele sofria de câncer na próstata havia cerca de um ano e estava internado no Hospital Brigadeiro desde a última sexta-feira. O corpo é velado desde a noite de ontem na Beneficência Portuguesa e deverá ser cremado no fim da manhã de hoje, na Vila Alpina.
Filho de um imigrante português, ele nasceu em 11 de novembro de 1918, em Cajubi, interior paulista. Antes de descobrir o cinema, em 1963 -ao assinar, com José Mojica Marins, o roteiro de "Meu Destino em Tuas Mãos"-, foi recruta do Exército, voluntário da Aeronáutica e caminhoneiro, passando por São Paulo, Rio, Pernambuco e Mato Grosso.
Foi novamente com Mojica que Candeias estreou na direção, como assistente do amigo em "À Meia-Noite Levarei Sua Alma", em 64. "O cinema artesanal, independente e marginal perde o seu carro-chefe intelectual", disse Mojica.
Candeias começaria de fato a chamar atenção três anos mais tarde, com "A Margem", olhar desolado sobre os esquecidos ribeirinhos do Tietê. Em seguida, vieram um segmento do filme coletivo "Trilogia de Terror", "Meu Nome é Tonho" e "A Herança", transposição de "Hamlet" para o interior brasileiro. "Ele era único no cinema brasileiro. Representava, no meio, o que Bispo do Rosário era para as artes plásticas. Violentava a linguagem, era visceral", afirmou o escritor e cineasta João Silvério Trevisan, que dirigiu o Candeias ator em "Orgia" (70).
Para o diretor Eugênio Puppo, que organizou uma retrospectiva da obra de Candeias em 2002, em São Paulo, o paulista foi "um legítimo representante do cinema de autor, irreverente e brilhante". Já o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, que já presidiu a Embrafilme, destacou a "postura existencial, não apenas estética ou ideológica" do cinema de Candeias. "A sua coragem para lidar com a alta cultura sem reverência era notável", observou.
Em homenagem ao cineasta, o Canal Brasil reapresenta, entre segunda e terça da semana que vem, "A Freira e a Tortura", "Trilogia de Terror", "Caçada Sangrenta" e "Candeias - Da Boca pra Fora".


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