São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MoMA prepara mostra sobre a cor

Curadora da exposição "Color Chart", Ann Temkin, fala sobre a relação que artistas como Andy Warhol têm com a paleta

Museu exibe obras de David Batchelor, Ellsworth Kelly e outros; para Temkin, trata-se de artistas que lidam com a cor de forma mais prática

DA REPORTAGEM LOCAL

Se David Batchelor sente medo do cinza que engole as cores da arte contemporânea e cala os gritos de quadros e instalações, o MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) vai na contramão e monta em março uma exposição sobre como artistas -do início do modernismo até os dias de hoje- mudaram sua relação com a paleta.
O museu vai reunir obras de cerca de 40 artistas -entre eles Andy Warhol, Damien Hirst, Ellsworth Kelly, Frank Stella e o próprio Batchelor- que renunciaram à alquimia das misturas e à pesquisa calculada para aceitar uma relação mais direta com as cores. No lugar dos testes solitários em ateliês, eles passaram a reproduzir nas obras as cores da modernidade, que saltavam de embalagens de sopa, outdoors, néons e toda a parafernália industrial.
"Esses artistas lidam com a cor de forma muito mais prática. Não estão tentando ser sublimes, espirituais, emotivos. Querem conectar a arte à sociedade", disse a curadora da mostra, Ann Temkin, à Folha, por telefone, de Nova York.
O nome da exposição, "Color Chart", é referência aos testes de cores feitos pelos artistas, dispondo os tons lado a lado numa tira de papel ou tela de computador. A obra da canadense Angela Bulloch, que participa da exposição, esmiúça a idéia exibindo num monitor, uma a uma, as 256 cores presentes nos pixels das imagens digitais. "Ela explora o pixel como uma unidade de cor acidental", diz Temkin.

Cromofobia
Numa série de fotografias, David Batchelor expande, no MoMA, seu manifesto sobre a cor -ou a ausência dela. "Found Monochromes of London" são retratos de espaços em branco na capital britânica, que quebram a cor para mostrar um vazio silencioso: placas apagadas, cartazes desbotados.
Embora tenha escolhido a obra para a exposição, Temkin argumenta, no entanto, que há certo exagero na cromofobia enxergada por Batchelor. "Há muita cor na arte minimalista e conceitual que ignoramos porque os críticos são mais cromofóbicos do que os artistas. Minha exposição é uma tentativa de sanar esse erro histórico", afirma a curadora.
Na pesquisa que fez para montar a exposição, ela entrevistou o artista Jasper Johns e investigou as colagens de Robert Rauschenberg. Descobriu, no final, que todos os presentes na mostra passaram a tratar suas cores como produtos.
"O mundo mudou. Não temos mais como referência as cores do arco-íris ou do pôr-do-sol, mas as cores sintéticas, industriais. A globalização tem algo a ver com isso, e a arte feita hoje não pode deixar de usar as cores de hoje", avalia Temkin. (SILAS MARTÍ)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Jasper Johns tem mostra sobre o cinza
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.