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Na disputa em Berlim, filmes focam moralidade
Concorrentes ao Urso de Ouro, como "Storm", variam estilos e expõem temática comum
Para diretor iraniano Asghar Farhadi, do longa "About Elly", "a questão é: o que é a moralidade? O que é a honestidade e a mentira?"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Os concorrentes ao Urso de
Ouro do 59º Festival de Berlim
apresentados no fim de semana
exibiram estilos muito diferentes, mas uma preocupação em
comum -definir os contornos
de uma conduta moral subjetiva, face às pressões da família
(o iraniano "About Elly"), dos
governos (o alemão "Storm") e
das engrenagens econômicas e
culturais (o britânico "Rage", o
uruguaio "Gigante" e o sueco
"Mamooth").
"A questão [desse filme] é: o
que é a moralidade? O que é a
honestidade? O que é a mentira", disse o diretor iraniano Asghar Farhadi, que abordou o tema num semitom entre o drama o suspense.
No filme, um grupo de amigos egressos do curso de direito
(são jovens, cultos, bonitos e
endinheirados, como não se
costuma ver nos filmes iranianos) decide passar um fim de
semana na praia, para festejar a
visita ao país de Ahmad, que
emigrou para a Alemanha. A jovem Elly adere ao passeio.
Um incidente no mar e uma
revelação que não cabe antecipar ao espectador deflagram o
conflito moral, representado
pelo modo como cada personagem reage à ideia de que Elly
viajou com o deliberado objetivo de conquistar um marido.
Farhadi negou que seu filme
esteve ameaçado de proibição
no Irã, conforme divulgou a imprensa daquele país. "Não sei
por que alguns veículos de comunicação decidiram fazer esse barulho. Esse filme não teve
problemas", disse.
O alemão Hans-Christian
Schmid reenvelopa os gêneros
do filme de tribunal e do thriller político em "Storm", ao decifrar os mecanismos de um
julgamento de crime de guerra
na ex-Iugoslávia conduzido pela Corte de Haia.
Uma vítima (Anamaria Marinca) "do que ocorre com as
mulheres em tempos de guerra", como diz a personagem, e
uma promotora (Kerry Fox) da
corte lutam, cada uma a seu
modo, para obter a condenação
de um ex-general mandante
dos crimes.
"Storm" não dissimula os
acordos de corredor feitos na
corte. O roteirista Bern Lange
salientou que era objetivo do
filme indagar "em que medida
um promotor pode ser íntegro
num tribunal".
Em "Rage", a cineasta britânica Sally Potter usa a indústria
da moda como ponto de partida
para esquadrinhar o culto à
imagem -não apenas no sentido das aparências, mas também no da difusão de material
audiovisual pela internet.
Os 90 minutos do filme são
ocupados com depoimentos de
uma dezena de personagens do
mundo da moda a um estudante (nunca mostrado) chamado
Michelangelo que supostamente faz um documentário
com propósito escolar.
Potter dá a Judi Dench, no
papel de uma crítica de moda,
as falas mais contundentes: "A
moda é um negócio imoral.
Nesses tempos do politicamente correto, é um alívio haver um
negócio em que a moral é irrelevante".
"Gigante" acompanha a rotina de um vigia noturno de supermercado que faz vista grossa quando as faxineiras roubam
alimentos, mas não permite
que afanem itens mais caros e
supérfluos. "É uma ética do
personagem, com a qual estou
de acordo. Talvez seja uma ética mais humanista", disse o diretor Adrián Biniez.
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