São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Na disputa em Berlim, filmes focam moralidade

Concorrentes ao Urso de Ouro, como "Storm", variam estilos e expõem temática comum

Para diretor iraniano Asghar Farhadi, do longa "About Elly", "a questão é: o que é a moralidade? O que é a honestidade e a mentira?"

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Os concorrentes ao Urso de Ouro do 59º Festival de Berlim apresentados no fim de semana exibiram estilos muito diferentes, mas uma preocupação em comum -definir os contornos de uma conduta moral subjetiva, face às pressões da família (o iraniano "About Elly"), dos governos (o alemão "Storm") e das engrenagens econômicas e culturais (o britânico "Rage", o uruguaio "Gigante" e o sueco "Mamooth").
"A questão [desse filme] é: o que é a moralidade? O que é a honestidade? O que é a mentira", disse o diretor iraniano Asghar Farhadi, que abordou o tema num semitom entre o drama o suspense.
No filme, um grupo de amigos egressos do curso de direito (são jovens, cultos, bonitos e endinheirados, como não se costuma ver nos filmes iranianos) decide passar um fim de semana na praia, para festejar a visita ao país de Ahmad, que emigrou para a Alemanha. A jovem Elly adere ao passeio.
Um incidente no mar e uma revelação que não cabe antecipar ao espectador deflagram o conflito moral, representado pelo modo como cada personagem reage à ideia de que Elly viajou com o deliberado objetivo de conquistar um marido.
Farhadi negou que seu filme esteve ameaçado de proibição no Irã, conforme divulgou a imprensa daquele país. "Não sei por que alguns veículos de comunicação decidiram fazer esse barulho. Esse filme não teve problemas", disse.
O alemão Hans-Christian Schmid reenvelopa os gêneros do filme de tribunal e do thriller político em "Storm", ao decifrar os mecanismos de um julgamento de crime de guerra na ex-Iugoslávia conduzido pela Corte de Haia.
Uma vítima (Anamaria Marinca) "do que ocorre com as mulheres em tempos de guerra", como diz a personagem, e uma promotora (Kerry Fox) da corte lutam, cada uma a seu modo, para obter a condenação de um ex-general mandante dos crimes.
"Storm" não dissimula os acordos de corredor feitos na corte. O roteirista Bern Lange salientou que era objetivo do filme indagar "em que medida um promotor pode ser íntegro num tribunal".
Em "Rage", a cineasta britânica Sally Potter usa a indústria da moda como ponto de partida para esquadrinhar o culto à imagem -não apenas no sentido das aparências, mas também no da difusão de material audiovisual pela internet.
Os 90 minutos do filme são ocupados com depoimentos de uma dezena de personagens do mundo da moda a um estudante (nunca mostrado) chamado Michelangelo que supostamente faz um documentário com propósito escolar.
Potter dá a Judi Dench, no papel de uma crítica de moda, as falas mais contundentes: "A moda é um negócio imoral. Nesses tempos do politicamente correto, é um alívio haver um negócio em que a moral é irrelevante".
"Gigante" acompanha a rotina de um vigia noturno de supermercado que faz vista grossa quando as faxineiras roubam alimentos, mas não permite que afanem itens mais caros e supérfluos. "É uma ética do personagem, com a qual estou de acordo. Talvez seja uma ética mais humanista", disse o diretor Adrián Biniez.


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