São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

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Diretor fica entre futebol e traficante

Adrián Biniez, de "Gigante", prepara filme sobre jogador da 3ª divisão e outro inspirado em Abadía

FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em menos de seis meses, o argentino Adrián Biniez percorreu mais de 15 países, incluindo 20 cidades alemãs em oito dias. Foi como a turnê dos sonhos que sua banda de rock nunca fez. Mas, no lugar de música e instrumentos, apenas um filme na bagagem, "Gigante".
Biniez, 35, é o diretor estreante do filme premiado com o Urso de Prata em Berlim, em 2009. Ele também canta na banda Federico Deutsch & Maverick, que diz ser pouco conhecida, embora tenha dois discos. O grupo de música indie eletrônica é de Montevidéu, para onde se mudou há seis anos, deixando para trás Buenos Aires e outra banda, a Reverb.
Também abandonou a The Fuck, um projeto experimental de rock pesado, cujas músicas estão em "Gigante", a ser lançado em DVD em março.
"Antes de trabalhar com cinema, eu era "bartender". Nunca vivi de música, sempre perdi dinheiro com a música", diz Biniez, que, apesar de tão viajado, nunca tinha visitado o Brasil. Ele veio na semana passada para um debate da Academia Internacional de Cinema, em São Paulo. "Minha impressão da cidade? Até agora só vi uma tormenta elétrica gigantesca", diz, no bar do hotel onde ficou hospedado até o final de semana.
Ao contrário da vida musical que leva, Biniez fez um filme bastante silencioso, ainda que o protagonista, um tímido segurança de supermercado, goste de rock pesado. Ele passa boa parte da vida observando o local através de câmeras, até que "conhece" uma faxineira desastrada e se apaixona. "Mas nos roteiros que estou escrevendo agora há muitos diálogos, se fala o tempo todo."
Das esperas em aeroportos e das noites em hotel para divulgar "Gigante", Biniez começou a escrever dois roteiros. Um deles será um filme de gângster, inspirado por notícia sobre o traficante colombiano Juan Carlos Abadía, preso no Brasil em 2007 e cujas cirurgias plásticas para fugir da polícia chamaram a atenção do diretor.
Já o segundo roteiro é sobre um jogador de futebol de terceira divisão que está prestes a se aposentar aos 34 anos. "Gosto das duas histórias, são diferentes e ambas têm partes da minha personalidade. Mas vou filmar a que conseguir dinheiro mais rápido."
O momento é bom para o cinema latino-americano, que tem dois indicados a filme estrangeiro no Oscar: o peruano "A Teta Assustada" e o argentino "O Segredo de Seus Olhos".
"O rock argentino é uma "mierda", mas o cinema é o melhor [da América Latina]", diz Biniez, rindo. Ele reclama do cinema brasileiro não chegar ao resto da América Latina, assim como as bandas independentes e a literatura.
"O cinema latino está muito mais popularizado [...] O que acontece é que há um mundo que é o Brasil e há o resto da América Latina. Não sei por quê. São dois mundos que estão juntos, mas são separados."
Apesar dos prêmios que conseguiu com sua estreia, Biniez não parece ansioso com a expectativa sobre seus próximos trabalhos. Pouco se preocupa com o estilo que irá desenvolver. "Estilo? Não sei, talvez em cinco anos, depois de fazer mais filmes, eu te responda. Não tenho a menor ideia."


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