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Diretor fica entre futebol e traficante
Adrián Biniez, de "Gigante", prepara filme sobre jogador da 3ª divisão e outro inspirado em Abadía
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em menos de seis meses, o
argentino Adrián Biniez percorreu mais de 15 países, incluindo 20 cidades alemãs em
oito dias. Foi como a turnê dos
sonhos que sua banda de rock
nunca fez. Mas, no lugar de música e instrumentos, apenas um
filme na bagagem, "Gigante".
Biniez, 35, é o diretor estreante do filme premiado com
o Urso de Prata em Berlim, em
2009. Ele também canta na
banda Federico Deutsch & Maverick, que diz ser pouco conhecida, embora tenha dois
discos. O grupo de música indie
eletrônica é de Montevidéu, para onde se mudou há seis anos,
deixando para trás Buenos Aires e outra banda, a Reverb.
Também abandonou a The
Fuck, um projeto experimental
de rock pesado, cujas músicas
estão em "Gigante", a ser lançado em DVD em março.
"Antes de trabalhar com cinema, eu era "bartender". Nunca vivi de música, sempre perdi
dinheiro com a música", diz Biniez, que, apesar de tão viajado,
nunca tinha visitado o Brasil.
Ele veio na semana passada para um debate da Academia Internacional de Cinema, em São
Paulo. "Minha impressão da cidade? Até agora só vi uma tormenta elétrica gigantesca", diz,
no bar do hotel onde ficou hospedado até o final de semana.
Ao contrário da vida musical
que leva, Biniez fez um filme
bastante silencioso, ainda que o
protagonista, um tímido segurança de supermercado, goste
de rock pesado. Ele passa boa
parte da vida observando o local através de câmeras, até que
"conhece" uma faxineira desastrada e se apaixona. "Mas nos
roteiros que estou escrevendo
agora há muitos diálogos, se fala o tempo todo."
Das esperas em aeroportos e
das noites em hotel para divulgar "Gigante", Biniez começou
a escrever dois roteiros. Um deles será um filme de gângster,
inspirado por notícia sobre o
traficante colombiano Juan
Carlos Abadía, preso no Brasil
em 2007 e cujas cirurgias plásticas para fugir da polícia chamaram a atenção do diretor.
Já o segundo roteiro é sobre
um jogador de futebol de terceira divisão que está prestes a
se aposentar aos 34 anos. "Gosto das duas histórias, são diferentes e ambas têm partes da
minha personalidade. Mas vou
filmar a que conseguir dinheiro
mais rápido."
O momento é bom para o cinema latino-americano, que
tem dois indicados a filme estrangeiro no Oscar: o peruano
"A Teta Assustada" e o argentino "O Segredo de Seus Olhos".
"O rock argentino é uma
"mierda", mas o cinema é o melhor [da América Latina]", diz
Biniez, rindo. Ele reclama do
cinema brasileiro não chegar
ao resto da América Latina, assim como as bandas independentes e a literatura.
"O cinema latino está muito
mais popularizado [...] O que
acontece é que há um mundo
que é o Brasil e há o resto da
América Latina. Não sei por
quê. São dois mundos que estão
juntos, mas são separados."
Apesar dos prêmios que conseguiu com sua estreia, Biniez
não parece ansioso com a expectativa sobre seus próximos
trabalhos. Pouco se preocupa
com o estilo que irá desenvolver. "Estilo? Não sei, talvez em
cinco anos, depois de fazer
mais filmes, eu te responda.
Não tenho a menor ideia."
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