São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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É mais vitrine do que balcão

Fernando Donasci/Folha Imagem
Funcionários montam estande da 19ª Bienal do Livro de São Paulo, que acontece no Anhembi


Para editoras, vendas diretas não cobrem custos da Bienal, que é valorizada como evento promocional e de negócios com livreiros

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um milhão e meio de livros expostos em 320 estandes, dos quais 210 mil títulos diferentes e 3.000 lançamentos, e um investimento da ordem de R$ 18 milhões. A hiperbólica Bienal do Livro de São Paulo chega hoje à sua 19ª edição firmando-se mais como um evento promocional, no qual as editoras aproveitam para apresentar seus produtos à mídia, ao público e aos livreiros, do que um ponto de vendas diretas. Para Marcos Pereira, da Sextante, o faturamento da editora na Bienal é irrelevante se comparado com a receita anual, por exemplo.
"A Sextante espera empatar o valor investido no evento. Sendo assim, com certeza a Bienal é mais uma vitrine do que um balcão", avalia Pereira, que neste ano vê como desafio maior estabelecer a editora como uma marca independente de seu maior sucesso, o best-seller Dan Brown.
"De certa maneira, é a Sextante se apresentando menos como o estande de "O Código Da Vinci", e mais como institucional, tentando criar uma maior identificação do público com a marca", completa o editor, que trará ao evento dois de seus pesos-pesados nacionais em auto-ajuda, Augusto Cury, o mais vendido da casa, e Aparecida Liberato (autora do best-seller "Vivendo Melhor Através da Numerologia").

Custo-benefício
Luciana Villas-Boas, da Record, é ainda menos otimista do que o editor da Sextante quanto à relação custo-benefício: segundo a editora "não há a menor esperança de vender de modo a cobrir custos para montagem de estandes, eventos etc.", um investimento que, segundo ela, deve passar de R$ 200 mil. A Record está levando mais de 60 títulos, mais ou menos o que lança num bimestre.
"Tentamos, nesse período, fortalecer a lista de livros com perfil mais popular, embora a mistura do catálogo seja ampla. O momento é de encontro com livreiros do país inteiro para apresentar a produção do ano. A mudança para o Anhembi aponta para melhores resultados de público e, conseqüentemente, de venda. Se conseguirmos lucrar, ficaremos felizes da vida", diz Villas-Boas.
Diretor de vendas da Ediouro, Ivo Camargo pondera as perdas mas também os ganhos com a Bienal: carioca, a editora sofre com os custos para passagem, hospedagem, transporte e refeição da equipe. A solução foi uma parceria com a livraria Saraiva, que fará sua parte comercial.
"Aí, a gente consegue equilibrar um pouquinho as contas", diz Camargo, ressaltando os pontos positivos do esforço da editora: "A Bienal é uma vitrine mesmo. A gente faz apresentação de três meses de catálogo para os distribuidores e atacadistas, vindos sobretudo do norte e nordeste e, aí, ganha um pouco. E com a vinda da nossa convidada, a [jornalista espanhola] Rosa Montero, a divulgação puxa não só a venda do novo livro, como dos anteriores".
Mais otimista em relação à Bienal, Paulo Rocco promete levar uma seleção eclética de lançamentos à feira. A Rocco reforça o segmento de auto-ajuda com livros do psicanalista Luiz Alberto Py e do best-seller John Gray ("Homens São de Marte, Mulheres São de Vênus"), e aposta no segmento infanto-juvenil, um dos mais populares da feira.
"A Rocco Jovens Leitores tem crescido com uma média de 50 lançamentos anuais. Para esta Bienal, temos uma série de lançamentos nacionais, tanto de estreantes, como de nomes já conhecidos do público, a exemplo da autora dos nossos best-sellers no segmento, Thalita Rebouças, que vai à feira para lançar "Fala Sério, Professor'", adianta Rocco.
Porta-voz da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Marino Lobello sustenta que, para o grande público, a Bienal é, sim, um balcão, em que as editoras com linhas "menos elitizadas" têm chances de vender mais. Em 2004, diz, 72% dos visitantes adultos compraram livros, e 65% destes levaram até cinco títulos para casa.
"A Bienal é uma fantástica alavanca de vendas, porque as pessoas vão tomar um banho de livros. Mas é importante ressaltar que não produzimos um shopping de livros, mas de cultura. São mais de 310 horas de eventos culturais ao longo de 11 dias. Essa é a nossa alegria", conclui Lobello. Ele garante que as livrarias vendem bem na Bienal.
Há dez anos a Livraria Cultura não participa. Neste ano, a Fnac está de fora. E a Saraiva não quis comentar suas expectativas.
Vitrine e balcão à parte, uma nota de pé de página curiosa: às vésperas da abertura da Bienal, pelo menos três dos maiores editores do país não estão no Brasil: Luiz Schwarcz (Companhia das Letras), Roberto Feith (Objetiva) e Carlos Augusto Lacerda (Nova Fronteira) participaram, na Inglaterra, da London Book Fair, que terminou anteontem.


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