São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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"Seguirei sempre Cronenberg", diz ator

Em Miami, Viggo Mortensen fala sobre seu filme "Alatriste" e novos projetos, como "Eastern Promises", do diretor canadense

Conhecido pelo papel de Aragorn em "O Senhor dos Anéis", ator também vai participar de longa com o brasileiro Vicente Amorim


LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

É fácil encontrar Viggo Mortensen na rua nestes dias do Festival Internacional de Cinema de Miami. O rosto do ator americano está estampado no cartaz oficial da mostra, afixado nas salas de exibição e reproduzido em outdoors pela cidade.
É na verdade uma cena de "Alatriste", filme de época no qual Mortensen interpreta um mercenário que executa missões para a nobreza espanhola no século 17. Com direção de Agustin Díaz Yanes, o longa é uma adaptação de "Las Aventuras del Capitán Alatriste", série de romances de capa-e-espada de Arturo Pérez-Reverte.
Com um longo bigode e de espada na mão, o personagem de Mortensen lembra um pouco seu papel mais famoso no cinema, o herói Aragorn na trilogia fantástica "O Senhor dos Anéis". Para o ator, no entanto, seu Diego Alatriste é um personagem mais complexo, mais profundo que o anterior.
Em mais de 20 anos de uma carreira versátil, na qual trabalhou com diretores como Brian De Palma, Gus van Sant, Peter Jackson e David Cronenberg, Mortensen evita apontar seu cineasta favorito, mas afirma: "Seguirei Cronenberg onde quer que ele for". Com o diretor canadense, o ator protagonizou "Marcas da Violência" e acaba de filmar outro projeto, "Eastern Promises". Ainda neste ano, fará também "Good", produção internacional sobre a ascensão do nazismo na Alemanha, com direção do brasileiro Vicente Amorim [filho do ministro Celso Amorim], de "O Caminho das Nuvens".
Em Miami para divulgar "Alatriste", o ator concedeu a seguinte entrevista à Folha.

 

FOLHA - Em "Alatriste", você vive um personagem popular da literatura espanhola. Que tipo de pesquisa fez para o papel?
VIGGO MORTENSEN -
Li sobre a história do período e sobre como os soldados combatiam naquela época. Voltei ao Museu do Prado para rever as telas de Velásquez, pois algumas aparecem no filme. Fui ver as pinturas não como um turista, mas tentando me colocar no papel de alguém que viveu naquela época, buscando onde estariam Diego Alatriste e seu amigos. E Agustin Díaz Yanes, o diretor, é formado em história e nos ensinou muito. Sinto-me como se estivesse dentro de uma pintura de Velásquez que foi transformada em filme.

FOLHA - Nos últimos anos você foi dirigido por cineastas importantes. Gostaria que comparasse os três mais recentes: David Cronenberg, Peter Jackson e Agustin Díaz Yanes.
MORTENSEN -
Agustin e David são muito parecidos. Eles têm o mesmo senso de humor, muito seco e muito negro. Riem de coisas que horrorizam outras pessoas. No set, trabalham para que o elenco se sinta confortável e também confiante. É tudo muito planejado, mas ao mesmo tempo você ainda se sente livre para improvisar um pouco. Os dois têm um equilíbrio entre a organização e a liberdade criativa.

FOLHA - E Peter Jackson?
MORTENSEN -
[Reluta um pouco] Peter Jackson é obviamente um cara muito inteligente, mas minha experiência com ele foi totalmente diferente. Teria que trabalhar com ele num filme um pouco menor, para conseguir conhecê-lo de fato. Porque "O Senhor dos Anéis" foi legal, fiz amigos, mas tinha a impressão de que estavam fazendo sete filmes ao mesmo tempo. Algumas vezes era muito confuso. Mas trabalhar com Peter, em filmes que fizeram enorme sucesso, mudou totalmente minha carreira. Eu nunca teria feito Diego Alatriste, se não tivesse feito Aragorn.

FOLHA - Você acaba de filmar novamente com Cronenberg. Como será "Eastern Promises"?
MORTENSEN -
O título definitivo não deve ser esse. Estão mudando. Eu faço um russo, motorista de uns gângsteres. E Naomi Watts interpreta uma parteira. Mas não é o caso de adiantar muito, falar muito mais. Melhor esperar a estréia.

FOLHA - Seu primeiro papel no cinema foi em 1985, em "A Testemunha"...
MORTENSEN -
[Interrompendo] O primeiro em que não fui cortado.

FOLHA - Como assim?
MORTENSEN -
Fiz pequenos papéis que não passaram da sala de montagem. Em "A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen, minha única cena foi inteirinha cortada. Depois teve um filme do Jonathan Demme, "Swing Shift". E eu não sabia do corte. Disse para minha mãe que tinha feito o filme, ela assistiu e eu não estava nele. Me ligou dizendo: "Está louco? Está tomando drogas?".

FOLHA - Seu próximo filme será "Good", com o diretor brasileiro Vicente Amorim. Você começou a se preparar?
MORTENSEN -
Tivemos uma primeira conversa no ano passado, mas já faz um tempo que não nos falamos. Encerrado o trabalho de divulgação de "Alatriste", vou me dedicar totalmente a isso. A história se passa no início dos anos 30, pouco depois de Hitler chegar ao poder na Alemanha. E meu personagem é um jovem professor de literatura em Berlim. E o filme é sobre como uma pessoa normal se envolve com a política, muitas vezes sem se dar conta de seus atos. É uma grande história, uma história importante, que precisa ser contada agora.


O jornalista LEONARDO CRUZ viaja a Miami a convite da organização do festival

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