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"Seguirei sempre Cronenberg", diz ator
Em Miami, Viggo Mortensen fala sobre seu filme "Alatriste" e novos projetos, como "Eastern Promises", do diretor canadense
Conhecido pelo papel de Aragorn em "O Senhor dos Anéis", ator também vai
participar de longa com o brasileiro Vicente Amorim
LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
É fácil encontrar Viggo Mortensen na rua nestes dias do
Festival Internacional de Cinema de Miami. O rosto do ator
americano está estampado no
cartaz oficial da mostra, afixado
nas salas de exibição e reproduzido em outdoors pela cidade.
É na verdade uma cena de
"Alatriste", filme de época no
qual Mortensen interpreta um
mercenário que executa missões para a nobreza espanhola
no século 17. Com direção de
Agustin Díaz Yanes, o longa é
uma adaptação de "Las Aventuras del Capitán Alatriste", série
de romances de capa-e-espada
de Arturo Pérez-Reverte.
Com um longo bigode e de
espada na mão, o personagem
de Mortensen lembra um pouco seu papel mais famoso no cinema, o herói Aragorn na trilogia fantástica "O Senhor dos
Anéis". Para o ator, no entanto,
seu Diego Alatriste é um personagem mais complexo, mais
profundo que o anterior.
Em mais de 20 anos de uma
carreira versátil, na qual trabalhou com diretores como Brian
De Palma, Gus van Sant, Peter
Jackson e David Cronenberg,
Mortensen evita apontar seu
cineasta favorito, mas afirma:
"Seguirei Cronenberg onde
quer que ele for". Com o diretor
canadense, o ator protagonizou
"Marcas da Violência" e acaba
de filmar outro projeto, "Eastern Promises". Ainda neste
ano, fará também "Good", produção internacional sobre a ascensão do nazismo na Alemanha, com direção do brasileiro
Vicente Amorim [filho do ministro Celso Amorim], de "O
Caminho das Nuvens".
Em Miami para divulgar
"Alatriste", o ator concedeu a
seguinte entrevista à Folha.
FOLHA - Em "Alatriste", você vive
um personagem popular da literatura espanhola. Que tipo de pesquisa fez para o papel?
VIGGO MORTENSEN - Li sobre a
história do período e sobre como os soldados combatiam naquela época. Voltei ao Museu
do Prado para rever as telas de
Velásquez, pois algumas aparecem no filme. Fui ver as pinturas não como um turista, mas
tentando me colocar no papel
de alguém que viveu naquela
época, buscando onde estariam
Diego Alatriste e seu amigos. E
Agustin Díaz Yanes, o diretor, é
formado em história e nos ensinou muito. Sinto-me como se
estivesse dentro de uma pintura de Velásquez que foi transformada em filme.
FOLHA - Nos últimos anos você foi
dirigido por cineastas importantes.
Gostaria que comparasse os três
mais recentes: David Cronenberg,
Peter Jackson e Agustin Díaz Yanes.
MORTENSEN - Agustin e David
são muito parecidos. Eles têm o
mesmo senso de humor, muito
seco e muito negro. Riem de
coisas que horrorizam outras
pessoas. No set, trabalham para
que o elenco se sinta confortável e também confiante. É tudo
muito planejado, mas ao mesmo tempo você ainda se sente
livre para improvisar um pouco. Os dois têm um equilíbrio
entre a organização e a liberdade criativa.
FOLHA - E Peter Jackson?
MORTENSEN - [Reluta um pouco] Peter Jackson é obviamente um cara muito inteligente,
mas minha experiência com ele
foi totalmente diferente. Teria
que trabalhar com ele num filme um pouco menor, para conseguir conhecê-lo de fato. Porque "O Senhor dos Anéis" foi
legal, fiz amigos, mas tinha a
impressão de que estavam fazendo sete filmes ao mesmo
tempo. Algumas vezes era muito confuso. Mas trabalhar com
Peter, em filmes que fizeram
enorme sucesso, mudou totalmente minha carreira. Eu nunca teria feito Diego Alatriste, se
não tivesse feito Aragorn.
FOLHA - Você acaba de filmar novamente com Cronenberg. Como
será "Eastern Promises"?
MORTENSEN - O título definitivo
não deve ser esse. Estão mudando. Eu faço um russo, motorista de uns gângsteres. E Naomi Watts interpreta uma parteira. Mas não é o caso de
adiantar muito, falar muito
mais. Melhor esperar a estréia.
FOLHA - Seu primeiro papel no cinema foi em 1985, em "A Testemunha"...
MORTENSEN - [Interrompendo]
O primeiro em que não fui cortado.
FOLHA - Como assim?
MORTENSEN - Fiz pequenos papéis que não passaram da sala
de montagem. Em "A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody
Allen, minha única cena foi inteirinha cortada. Depois teve
um filme do Jonathan Demme,
"Swing Shift". E eu não sabia do
corte. Disse para minha mãe
que tinha feito o filme, ela assistiu e eu não estava nele. Me
ligou dizendo: "Está louco? Está tomando drogas?".
FOLHA - Seu próximo filme será
"Good", com o diretor brasileiro Vicente Amorim. Você começou a se
preparar?
MORTENSEN - Tivemos uma primeira conversa no ano passado,
mas já faz um tempo que não
nos falamos. Encerrado o trabalho de divulgação de "Alatriste", vou me dedicar totalmente
a isso. A história se passa no início dos anos 30, pouco depois
de Hitler chegar ao poder na
Alemanha. E meu personagem
é um jovem professor de literatura em Berlim. E o filme é sobre como uma pessoa normal
se envolve com a política, muitas vezes sem se dar conta de
seus atos. É uma grande história, uma história importante,
que precisa ser contada agora.
O jornalista LEONARDO CRUZ viaja a Miami a
convite da organização do festival
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