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THIAGO NEY
Onde estão nossas jovens cantoras?
No Brasil, as artistas querem ser reconhecidas pela voz; vivem num mundo idílico, desconectado do dia-a-dia
NA ILUSTRADA de ontem, o jornalista britânico Christopher Hitchens construiu tese sobre a falta de humor das mulheres. Se não são tão engraçadas quanto os homens, por outro lado elas estão dominando a música jovem. As
cantoras pop são muito melhores do
que os cantores pop.
Talvez porque estejam muito
mais conectadas com a realidade de
seu público do que os homens cantores. Veja Lily Allen, que coloca em
música seu relacionamento com ex-namorados; Amy Winehouse, que
escracha a si própria e seus problemas com bebidas; a charmosíssima
francesa Charlotte Gainsbourg, que,
com a ajuda de letras de Jarvis Cocker e do Air, canta sobre sexo e desilusões; além da briguenta Lady Sovereign, da popozuda Beyoncé...
Mas não temos isso no Brasil.
Aqui, nossas jovens cantoras estão
mais preocupadas em ser reconhecidas pelo alcance da voz; em fazer
parte do grupo de Elis Regina, Gal
Costa, Maria Bethânia etc.
Há pencas de novas (algumas nem
tão novas assim, mas vá lá) cantoras
aparecendo. Mariana Aydar, Roberta Sá, Giana Viscardi, Luiza Possi,
Maria Rita. Até Céu, que procura ousar mais musicalmente, dá a impressão de renegar a idade que tem.
Independentemente da "qualidade artística" (adoro essa expressão...) que possuam, elas parecem viver num mundo idílico, todo florido,
ilibado, onde não há conflitos, dúvidas, falta de grana, empregos miseráveis... Letras que traduzam o dia-a-dia? Música pop? Esqueça.
Há exceções, mas não são muito
animadoras. Kelly Key era uma esperança, mas precisa de um produtor decente. E tem a Pitty. Mas suas
letras (e músicas) nos dizem mais
sobre as premiações da MTV do que
sobre o mundo em que vivemos.
No final do ano passado, Caetano
Veloso criticou o Folhateen, perguntando "por que o caderno não
fazia matérias sobre Roberta Sá,
Maria Rita ou Mariana Aydar?".
Por quê? Porque são velhas.
Se você se interessou pelo Skol
Beats, que neste ano acontece em
dois dias (4 e 5 de maio), com Laurent Garnier x Marky, Miss Kittin,
Simian Mobile Disco etc., preste
atenção, porque dá para adiantar
mais alguns nomes. Também estarão no festival: Crystal Method,
dupla do início dos anos 90, mais
ou menos na linha dos Chemical
Brothers, de batidas gordas e enérgicas; a ótima dupla alemã de electro-house M.A.N.D.Y; a chacoalhante dupla de rock'n'rave
MSTRKRFT; a veterana dupla de
d'n'b Fabio & Grooverider; e o minimalista Guy Gerber.
Ian MacKaye, cultuado líder do
Fugazi e também conhecido como
um não-declarado avô emo, vem ao
Brasil com sua nova banda. The
Evens é MacKaye na guitarra e vocal e sua mulher, Amy Farina, na
bateria. Eles tocam no dia 28 deste
mês no Sesc Vila Mariana, em São
Paulo. E ainda em Porto Alegre
(dia 25), Recife (27), Curitiba (29),
Londrina (30) e Rio (31).
thiago@folhasp.com.br
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