São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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THIAGO NEY

Onde estão nossas jovens cantoras?

No Brasil, as artistas querem ser reconhecidas pela voz; vivem num mundo idílico, desconectado do dia-a-dia

NA ILUSTRADA de ontem, o jornalista britânico Christopher Hitchens construiu tese sobre a falta de humor das mulheres. Se não são tão engraçadas quanto os homens, por outro lado elas estão dominando a música jovem. As cantoras pop são muito melhores do que os cantores pop.
Talvez porque estejam muito mais conectadas com a realidade de seu público do que os homens cantores. Veja Lily Allen, que coloca em música seu relacionamento com ex-namorados; Amy Winehouse, que escracha a si própria e seus problemas com bebidas; a charmosíssima francesa Charlotte Gainsbourg, que, com a ajuda de letras de Jarvis Cocker e do Air, canta sobre sexo e desilusões; além da briguenta Lady Sovereign, da popozuda Beyoncé...
Mas não temos isso no Brasil. Aqui, nossas jovens cantoras estão mais preocupadas em ser reconhecidas pelo alcance da voz; em fazer parte do grupo de Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia etc.
Há pencas de novas (algumas nem tão novas assim, mas vá lá) cantoras aparecendo. Mariana Aydar, Roberta Sá, Giana Viscardi, Luiza Possi, Maria Rita. Até Céu, que procura ousar mais musicalmente, dá a impressão de renegar a idade que tem. Independentemente da "qualidade artística" (adoro essa expressão...) que possuam, elas parecem viver num mundo idílico, todo florido, ilibado, onde não há conflitos, dúvidas, falta de grana, empregos miseráveis... Letras que traduzam o dia-a-dia? Música pop? Esqueça.
Há exceções, mas não são muito animadoras. Kelly Key era uma esperança, mas precisa de um produtor decente. E tem a Pitty. Mas suas letras (e músicas) nos dizem mais sobre as premiações da MTV do que sobre o mundo em que vivemos.
No final do ano passado, Caetano Veloso criticou o Folhateen, perguntando "por que o caderno não fazia matérias sobre Roberta Sá, Maria Rita ou Mariana Aydar?". Por quê? Porque são velhas.

 

Se você se interessou pelo Skol Beats, que neste ano acontece em dois dias (4 e 5 de maio), com Laurent Garnier x Marky, Miss Kittin, Simian Mobile Disco etc., preste atenção, porque dá para adiantar mais alguns nomes. Também estarão no festival: Crystal Method, dupla do início dos anos 90, mais ou menos na linha dos Chemical Brothers, de batidas gordas e enérgicas; a ótima dupla alemã de electro-house M.A.N.D.Y; a chacoalhante dupla de rock'n'rave MSTRKRFT; a veterana dupla de d'n'b Fabio & Grooverider; e o minimalista Guy Gerber.
 

Ian MacKaye, cultuado líder do Fugazi e também conhecido como um não-declarado avô emo, vem ao Brasil com sua nova banda. The Evens é MacKaye na guitarra e vocal e sua mulher, Amy Farina, na bateria. Eles tocam no dia 28 deste mês no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. E ainda em Porto Alegre (dia 25), Recife (27), Curitiba (29), Londrina (30) e Rio (31).

thiago@folhasp.com.br

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