São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Crítica/"Hollywoodland - Bastidores da Fama"

Diretor se perde em clichê de detetive de filme noir e escala mal protagonista

CRÍTICO DA FOLHA

Antes de "Hollywoodland" existem os cartazes na porta dos cinemas: trata-se de belas evocações da era do cinema noir, como que sugerindo ser esse o momento evocado pelo filme.
O espectador mais atento perceberá que algo está errado, no entanto, quando bater com o nome de Adrien Brody como ator principal. Com que então o esquálido Brody ocupará o lugar de "tough guy" que já pertenceu a um Humphrey Bogart, a um Jack Nicholson? Algo parece estar fora dos eixos.
Está mesmo. Brody faz o detetive Louis Simo. Ao final, até haverá motivo para compreender porque o filme dirigido por Allen Coulter serve-se de um ator à primeira vista tão mal escalado. Isso pode redimir o "casting", embora o conservadorismo da proposição beire o insuportável (menos pelo conservadorismo do que pela platitude).
Louis Simo é, em todo caso, um detetive que se recusa a ser absorvido por agências. Quer ser independente, o que lhe custa caro. Para sobreviver precisa, no início, se entregar a malandragens bem escritas e mal exploradas pela direção.
Isso até que explode o caso da morte do ator George Reeves (Ben Affleck), que interpretara Superman em um seriado para TV. Reeves é dado como suicida, mas sua mãe não se conforma. Simo aproveita da situação para forçar a reabertura do caso, desenvolvendo a hipótese de assassinato.
Trata-se, a partir daí, de investigar a vida de Reeves. Temos então outra boa sugestão do roteiro: explorar a vida de um ator de Poverty Row -dos pequenos estúdios e das produções "Z". Por algum motivo, no entanto -ou Ben Affleck foi contratado por poucos dias, ou Adrien Brody por dias demais-, a ação se concentra mais no detetive do que na vida do ator, e mais nos clichês a respeito dos detetives do que nas particularidades do caso em si.
Com isso, à medida em que desenvolve o mistério em torno de Reeves, sua vida, sua morte, o filme, em vez de crescer, se amesquinha, em vez de nos abrir aos múltiplos sentidos envolvidos -o mistério, Hollywood, o cinema, o outro lado do cinema, o sucesso, o fracasso etc.-, parece fazer morrer o interesse de cada um deles, pouco a pouco, até que nada mais reste, a não ser o detetive Louis Simo e seus pouco apaixonantes problemas.
Moral da história: no que diz respeito a "Hollywoodland", contemplar o cartaz é muito mais interessante do que ver o filme. (IA)

HOLLYWOODLAND - BASTIDORES DA FAMA  
Direção: Allen Coulter
Produção: EUA, 2006
Com: Adrien Brody, Ben Affleck e Diane Lane
Quando: a partir de hoje nos cines Bombril, Bristol e circuito


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