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Crítica/cinema/"A Pele"
Filme faz retrato equivocado de Diane Arbus
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Em "A Pele", vida e obra
de Diane Arbus (1923-1971) são reduzidas a
um conto de fadas pouco inspirado. O diretor Steven Shainberg (de "Secretária") procurou
oferecer uma visão pessoal para a arte de uma das mais interessantes fotógrafas americanas, mas conseguiu produzir
apenas uma pretensiosa releitura de "A Bela e a Fera", situada em algum lugar entre a versão de Jean Cocteau e a dos estúdios Disney.
Ao tentar fugir do convencionalismo das cinebiografias,
Shaingerg caiu em outros, talvez mais graves. Logo no subtítulo do filme e nas cartelas iniciais, o diretor avisa que fez um
"retrato imaginário", ou seja,
um devaneio ficcional inspirado na vida e na obra da fotógrafa. Em nenhum momento ele
apela para o fatídico "baseado
em fatos reais" que costuma carimbar cinebiografias com uma
suposta autenticidade -mas
essa opção arriscada, por si só,
não salva o filme.
"A Pele" imagina a gênese da
artista, concentrando-se no período que antecedeu a consolidação de seu estilo. Vemos Diane Arbus jovem (interpretada
por Nicole Kidman), ainda casada com o fotógrafo Allan Arbus (Ty Burrell), trabalhando
como sua assistente na produção de fotos publicitárias glamourosas e kitsches, realizadas
dentro de sua casa-estúdio.
O "outro lado da América"
lhe é apresentado por um vizinho, o fantasioso Lionel Sweeney (Robert Downey Jr.), que
sofre de uma doença cruel: seu
corpo é todo coberto de pêlos,
como o de um lobisomem. Aos
poucos, Arbus mergulha no
universo de Sweeney -um cenário colorido e circense, muito distante do preto-e-branco
de Arbus- e se distancia de
sua família.
Essa escolha pela fabulação
assumida não torna o filme
mais "verdadeiro". Em plena
América dos anos 60, Arbus fotografou anões, gigantes, pessoas com defeitos físicos. O
surpreendente é que não havia
um caráter piedoso ou de exploração em seu olhar. Arbus
não enxergava "feras"; sua lente não penetrava "o outro lado
do espelho", como uma Alice
que descobre um mundo fantástico -e como o filme pretende sugerir.
O olhar de Arbus é algo muito
mais misterioso, que talvez estivesse perpassado por uma
identificação profunda com a
diferença. Toda a beleza e o
mistério de seu trabalho escapam completamente à visão de
Shainberg.
Ainda ficamos na espera,
portanto, de que Diane Arbus
ganhe um filme à altura de suas
fotografias, líricas, perturbadoras, fascinantes.
A PELE
Direção: Steven Shainberg
Produção: EUA, 2006
Com: Nicole Kidman, Robert Downey Jr. e Ty Burrell
Quando: estréia hoje nos cines Bristol, Unibanco Arteplex, Kinoplex Itaim e circuito
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