|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Tirinhas de Laerte, sátira à miséria e à exclusão social paulistanas, recebem adaptação encenada por Beth Lopes
Piratas do Tietê embarcam no palco em SP
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
No primeiro dia, o cartunista
Laerte bolou a história. No segundo, Paulo Rogério Lopes escreveu
a peça e Beth Lopes e a cia. circense La Mínima a levaram para o
palco. E finalmente, no terceiro
dia, o rio Tietê se fez navio.
Quatorze anos após a sua criação, nas páginas da "Chiclete com
Banana", a tirinha "Piratas do
Tietê" -publicada na Ilustrada-, uma sátira à miséria urbana
e à exclusão social da cidade de
São Paulo, vai virar teatro.
Teatro, não, filme. Filme, não,
circo. Pouco importa agora: "É
uma construção diferente do tradicional em teatro. Tudo foi acontecendo de forma meio livre, tendo como fio condutor os próprios
quadrinhos do Laerte e a forma de
humor que a La Mínima sempre
fez. Eu mesma demorei um tempo para entender", diz Beth Lopes, que dirige o espetáculo.
"O mais interessante foi ver surgirem outras cenas. Nos quadrinhos, você faz tudo sozinho, bola
a história, escala o elenco, põe a
iluminação, faz os planos. O que é
bacana, quando a gente tem 13
anos. Mas é muito legal ver as coisas acontecerem fora de você",
completa Laerte.
"Piratas do Tietê - O Filme" estréia no teatro do Sesi, para convidados, no próximo dia 14 e, para o
público, no dia 19. Na trama, o herói Silver Joe (Alexandre Roit) e a
Deputada (Fernanda D'Umbra)
são chamados para capturar os
Piratas (Domingos Montagner,
Fernando Sampaio, Fábio Espósito e Gustavo Carvalho), que acabam de escapar de uma execução.
A isca, adianta Laerte, para retirá-los do navio, será justamente a
proposta de fazer um filme estrelando os Piratas. Eles vão se encantar com a possibilidade de
vencer o Minhocão de Ouro, prêmio fictício do cinema paulistano,
e caem na cilada. "Tem a ver também com essa coisa da Marvel fazendo cinema para sair do buraco", lembra o cartunista.
E aí, no melhor estilo palhaço de
circo, começam as trapalhadas.
Capitão (Montagner), vaidoso,
insiste em assumir o papel de diretor. A Deputada, envolvida
também em um projeto mequetrefe de despoluição do Tietê, vai
usando o charme para entreter os
solitários "lobos do rio".
"Se tem um acento que quis colocar foi extrair a maior deformação do que eu via no desenho do
Laerte, uma deformação meio
imoral até", diz Lopes, que carrega no currículo outro híbrido teatral-quadrinístico, a peça "O Cobrador", de 1990.
"Nosso trabalho, como palhaços, é explorar o erro, o malfeito,
que exigem tanta técnica quanto a
acrobacia tradicional, para machucar menos. A gente faz três ou
quatro vezes, a que doer é a que ficou boa", brinca Montagner.
Como em qualquer adaptação,
a fidelidade à obra original se
mantém como um referencial importante, mas não castrador.
"Acho que no quadrinho de humor essa questão é bem mais leve.
Se você preserva o clima das piadas, a coisa está respeitada. Senão
a gente vai ter que arrancar a perna do Capitão", opina Laerte.
E, a depender do elenco, o fã dos
Piratas não precisa se preocupar.
"Os Piratas do Tietê são um ícone
da nossa juventude, dos anos 80",
diz Montagner. "Rola até uma
tentativa de copiar a tira. "Olha essa boca que ela faz". "Olha esse
olho que ele tem'", diz D'Umbra.
PIRATAS DO TIETÊ - O FILME. Texto:
Laerte e Paulo Rogério Lopes. Direção:
Beth Lopes. Com: cia. La Mínima e
convidados. Estréia: 14/4 (para
convidados), às 20h; e, a partir de 19/4,
sáb. e dom., às 15h; até 17/8. Onde:
Teatro Popular do Sesi (av. Paulista,
1.313, SP, tel. 0/xx/11/ 3146-7406).
Quanto: entrada franca.
Texto Anterior: Comunitárias: Ministério aponta falhas na liberação de rádios Próximo Texto: Nathalie Stutzmann: De volta do exílio da linguagem Índice
|