São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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"SYLVIA"

Atriz fala da dificuldade de encarnar a trágica escritora no cinema durante o luto por seu pai, Bruce

Gwyneth Paltrow desce abismo de Sylvia Plath

DO ""EL PAÍS", EM LONDRES

Gwyneth Paltrow, 31, passou por uma prova de fogo com ""Sylvia", o filme sobre a mítica poeta Sylvia Plath. O projeto nasceu cercado de polêmica e da oposição da filha de Plath, a também poeta Frieda Hughes, que negou à diretora de "Sylvia", Christine Jeffs, o direito de reprodução da obra dela e de seu pai, o escritor britânico Ted Hughes.
Tentando esquecer a confusão de fundo, Paltrow se propôs a interpretar o papel principal, com Daniel Craig no papel de Hughes. Mas no outono de 2002, alguns dias antes das filmagens, a premiada atriz perdeu seu pai, o produtor Bruce Paltrow, o que a mergulhou em depressão profunda.
A vida já voltou a sorrir para Paltrow. Ela se casou com Chris Martin, vocalista do Coldplay, e está comemorando sua primeira gravidez, cancelando até mesmo os mais essenciais compromissos profissionais. ""Não penso em trabalhar por muito tempo", afirma.

Pergunta - A morte de seu pai a ajudou a se aproximar do papel?
Gwyneth Paltrow-
Sim. Eu ainda me sentia em carne viva. Não pude me proteger de Sylvia, o personagem. Foi uma experiência muito difícil, mas essa dificuldade toda me ensinou a não perder tempo. Encarei o papel de frente, da maneira mais direta possível. Disse a mim mesma: ""Vou expor até o fundo de minhas entranhas, não vou esconder nada". Com a morte de meu pai, mudou a forma como enxergo o trabalho, para o resto de minha vida.

Pergunta - Foi encontrada uma explicação para o suicídio de Plath?
Paltrow-
Houve muitos fatores. Ela tinha uma idéia muito romântica do amor como algo duradouro. Falava de um buraco que se abrira em seu interior, um buraco com a forma de seu companheiro. Ela se iludia, pensando que Hughes iria preencher esse buraco e salvá-la de sua divisão interna. Também sofria de depressão provocada por desequilíbrios químicos. Acho que ela se suicidou por uma combinação dessas coisas.

Pergunta - Você acha que Frieda Hughes tem razões para temer o que denunciou como exploração comercial do suicídio de sua mãe?
Paltrow-
Frieda nunca leu o roteiro, e, embora eu tampouco tenha falado com ela, acho que o que ela é contra é a idéia de explorar a história de sua mãe. Mas o filme é muito equilibrado. Poderíamos ter retratado Hughes como um monstro e atribuído a ele a culpa pelo suicídio, mas não estávamos interessados nisso.

Pergunta - Qual foi sua primeira reação diante da montagem final?
Paltrow-
Ela me causou uma impressão muito profunda. Sylvia era maníaco-depressiva. Não era capaz de controlar suas emoções, mais fortes do que ela. De minha parte, trabalhei duro e me entreguei completamente. Senti-me emocionalmente desgastada ao assistir ao filme, mas fiquei satisfeita com sua integridade. Christine não se distanciou da verdade em nenhum momento.


Tradução Clara Allain


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