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"ONDE ANDA VOCÊ"
Em seu filme mais pessoal, diretor aposta na fantasia, mas desliza nos clichês do tom de réquiem
Sérgio Rezende faz comédia amarga sobre humor popular
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Onde Anda Você" é o trabalho mais pessoal de Sérgio Rezende ("Canudos",
"Mauá") e poderia ser um grande
filme, não fossem alguns deslizes.
A história diz respeito a um cômico veterano e quase esquecido,
Felício Barreto (Juca de Oliveira),
que, ao saber da morte de sua ex-mulher, Paloma (Drica Moraes),
resolve sacudir o marasmo e tentar retomar a carreira.
Para isso, vai ao Nordeste, em
busca do lendário cômico popular Boca Pura, que ninguém sabe
se existe de verdade. Sua idéia é
fazer com ele uma dupla de palhaços semelhante à que manteve no
passado com Mandarim (José
Wilker), ex-amigo que lhe roubou
a mulher e depois se matou. Mandarim e Paloma aparecem ocasionalmente a Felício como fantasmas do passado.
O primeiro problema do filme é
de roteiro. Quando Felício vai ao
Nordeste, ciceroneado pelo amigo Jajá (José Dumont), ficamos
sem saber se está procurando Boca Pura ou um cômico qualquer
que lhe sirva de parceiro.
Felício testa inúmeros atores aspirantes e descobre que não existe
mais o humor popular ingênuo
que sonhava encontrar. "Está tudo igual, tudo copiado da TV"
-eis sua triste conclusão.
Às amarguras pessoais do velho
ator soma-se a amargura com o
fim de um humor, de uma cultura, de um país. Isso tudo é muito
bonito, mas configura uma comédia melancólica, quase fúnebre,
que produz pouco riso.
Nada contra esse nostálgico
tom de réquiem, inspirado expressamente "nos primeiros filmes de Fellini e nos últimos de
Chaplin" (palavras de Rezende).
O problema é a quantidade de redundância e de clichês de que o
filme lança mão para expor o seu
drama. Tudo é muito verbalizado,
e as platitudes proliferam.
Dito isso, cabe louvar a coragem
do cineasta em apostar na fantasia, numa época em que prevalece
o naturalismo televisivo. Há, por
exemplo, um plano belíssimo de
Felício deslizando de conversível
com um amigo na madrugada
paulistana.
Mas o maior acerto de Rezende
foi a escolha dos atores, a começar
do esplêndido Juca de Oliveira e
de um grupo fantástico de veteranos: Castrinho, José de Vasconcelos, Paulo César Pereio. Só eles já
valem o ingresso.
Onde Anda Você
Brasil, 2004
Direção: Sérgio Rezende
Com: Juca de Oliveira, José Wilker
Onde: a partir de hoje, nos cines Bristol,
Frei Caneca e circuito
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