São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Sob tensão, museu Segall troca diretoria

Professor aposentado da USP, Jorge Schwartz substituirá a atual diretora, Denise Grinspum, no cargo há seis anos

Transição ocorre em meio à insatisfação de funcionários com a transferência da biblioteca do museu para a antiga sede do TBC

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Num momento marcado pela tensão entre a diretoria e os funcionários, o Museu Lasar Segall vive a transição entre a atual diretora Denise Grinspum e o professor aposentado da USP Jorge Schwartz, que assumirá o cargo em maio.
O motivo central para o desgaste interno é a decisão pela transferência da Biblioteca Jenny Klabin Segall para outro edifício, processo que pode levar até dois anos. O acervo de 500 mil itens sobre cinema e artes cênicas passará a ser administrado pela Funarte, que pretende comprar e reformar a antiga sede do Teatro Brasileiro da Comédia para abrigá-lo.
Esse é o mais recente atrito entre a diretoria e a equipe de funcionários -parte deles preocupados e insatisfeitos com a mudança da biblioteca. Trata-se de uma relação conturbada há pelo menos um ano, quando ocorreu a greve dos funcionários federais da Cultura. Segundo Grinspum, sua saída, no entanto, não está relacionada à pressão interna.
Ela deixa o cargo "para voltar para a área da educação", como afirmou à Folha, após seis anos na direção do museu e outros 17 anos como coordenadora do setor educativo. "[O conselho] Lamentou perder a colaboração de uma dedicada profissional que muito contribuiu para o museu", disse, sobre a saída de Grinspum, o presidente do conselho deliberativo do museu, Celso Lafer, ex-ministro de Relações Exteriores e professor de direito da USP.

Acervo precioso
Embora não esteja entre os maiores e mais visitados museus paulistanos, o Lasar Segall, na Vila Mariana, é um instituto relevante, com base no acervo que cobre toda a obra do artista, além de documentos históricos e correspondências. Mantém ainda um pequeno cinema, um ateliê e a biblioteca, foco do atual conflito.
Único museu em São Paulo diretamente vinculado ao Ministério da Cultura, é administrado por uma diretoria escolhida por um conselho deliberativo composto por 21 pessoas, metade delas membros da família Segall, como prevê o estatuto do museu.
Nomeada diretora pelo conselho em 2002, Grinspum deixa o cargo depois do término da mostra "Segall Realista", que o museu organizou no Centro Cultural Fiesp, entre janeiro e março. Elogiada pela crítica, foi a maior exposição sobre Segall realizada em sua gestão.
Mostras individuais como essa sinalizam a restrição do foco do museu em torno da obra do pintor, o que explica a escolha de Schwartz, especialista em vanguardas artísticas, para substituí-la. Esse ajuste explica ainda a transferência da biblioteca para a Funarte.
A decisão, que vem sendo discutida há oito anos, partiu do conselho do Lasar Segall, que acionou a diretoria do museu e iniciou negociações com o MinC para transferir a biblioteca para a Funarte.
A responsável pela biblioteca, Maria Cecilia Soubhia, considera a transferência um "erro". Cercada por ventiladores no espaço apertado para o acervo -por limitações arquitetônicas, um sistema de ar-condicionado não pôde ser instalado-, ela diz que "a comunidade das artes cênicas ficou boquiaberta com a mudança".
Funcionários da biblioteca prepararam em janeiro deste ano um parecer, apresentado à direção, expressando a preocupação com a mudança -temem que o novo espaço não tenha estrutura adequada nem o número de funcionários suficiente. Também apontam um desvio dos rumos do museu em relação à proposta inicial de sua fundação, em 1967.
Organizado há 40 anos por Mauricio Segall, filho do pintor, o acervo foi doado ao governo federal em 1985. Seu primeiro diretor estabelecera como função para a instituição ser um "centro de atividades culturais eclético e vivo", segundo documento de 1977.
"Os "statements" institucionais caducam, pois as instituições crescem, se transformam, se repensam", afirma Grinspum, que descarta uma crise de identidade do museu. "Crise é um museu de artes plásticas ter de investir em periódicos de cinema e teatro em vez de uma belíssima biblioteca de arte brasileira ou expressionismo."
No plano diretor que redigiu para o museu em 2006, Grinspum e sua equipe restringiram o escopo do museu à obra de Segall, colocando em segundo plano atividades paralelas.
O diretor do Departamento de Museus do MinC, José do Nascimento Júnior, diz que conversará com a nova direção do Lasar Segall para traçar planos de reforma. "O acervo se encontra muito reduzido naquele espaço." Schwartz, o próximo diretor, diz que "a biblioteca cresceu e precisa mudar".

Meses de desgaste
Embora a mudança de gestão e a transferência da biblioteca tenham sido acertadas agora, a tensão que atinge o museu vem aumentando desde 2007. Funcionários aproveitaram a greve dos servidores da Cultura entre maio e julho do ano passado para apontar problemas de segurança e infra-estrutura.
Segundo laudo elaborado por funcionários, um terço dos extintores de incêndio do museu estava precisando de recarga havia 20 meses. O museu admite que a reserva técnica, onde são armazenadas as obras, ficou sem ar-condicionado entre fevereiro e maio de 2007. Não há registro, no entanto, de danos ao acervo.


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