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Cinemateca mostra os melhores brasileiros
free-lance para a Folha
Os melhores filmes brasileiros,
segundo a votação de críticos de cinema feita para o caderno especial
"O Cinema Brasileiro Entra no Primeiro Mundo", publicado pela Folha no último dia 18, serão exibidos a partir de hoje na Sala Cinemateca.
"O Melhor do Cinema Brasileiro" apresentará 12 grandes filmes
nacionais, de diretores de calibre
como Glauber Rocha e Joaquim
Pedro de Andrade.
A seleção mostra os dez colocados da lista dos melhores de todos
os tempos e outros dois que empataram em segundo lugar na lista
dos melhores da década de 90 (veja
quadro ao lado).
O filme de abertura -o preferido da maioria dos críticos- é
"Deus e o Diabo na Terra do Sol"
(64), de Glauber Rocha, obra épica
reconhecida mundialmente e elogiada até pelo italiano Alberto Moravia.
Em "Deus e o Diabo na Terra do
Sol", o cineasta baiano mostra um
camponês que se rebela contra a
opressão a que é submetido e parte
numa saga que mostrará seu estado de alienação e testará sua capacidade de entrar para a revolução.
No caminho, ele cruza com missionários fanáticos e com o que
restou do grupo de Lampião (com
um Othon Bastos antológico como
Corisco). O cordel que dá ritmo ao
filme, antes de vincular o enredo à
questão nordestina, quer apontar
um Brasil e seus problemas.
A busca de um processo revolucionário viável para o país -traço
constante no pensamento de Glauber- é pontual em "Terra em
Transe" (67), eleito o terceiro melhor filme.
Aqui, a figura de Paulo Martins
(Jardel Filho) denuncia a incapacidade dos intelectuais brasileiros
em se juntar ao povo e abraçar a
revolução. Pelo contrário, os vínculos entre a esquerda e a direita
co-existem e causam a crise de
ideologias e consciência do protagonista.
Para muitos, "Terra em Transe"
é o melhor filme de Glauber, que
mostra um Brasil alegórico (com o
nome irônico de Eldorado).
O que privou "Terra em Transe"
de figurar na segunda colocação
foi outro clássico brasileiro, "Vidas Secas" (63), de Nelson Pereira
dos Santos. Adaptando o livro homônimo de Graciliano Ramos, o
diretor carioca relata a sobrevivência precária de uma família em
meio à seca nordestina.
A fotografia claríssima e chapada dessa obra-prima duríssima é
acompanhada pela única "música" do filme -o ranger das rodas
de um carro de boi.
"Macunaíma" (67), de Joaquim
Pedro de Andrade, é filme-símbolo do movimento tropicalista, que
conseguiu, em pleno equilíbrio,
juntar o folclore, os embates revolucionários e um retrato bem-humorado e contundente do brasileiro.
"São Paulo S.A." (65) é um Luiz
Sérgio Person não tão bem-humorado, o que não significa menos. Aqui, Walmor Chagas faz um
empresário que cai nas graças do
desenvolvimentismo da indústria
de autopeças, mas tem sua vida
pessoal deteriorada.
Para quem não simpatiza com o
excesso de mensagens de "O Bandido da Luz Vermelha" (68), filme
que inaugura o movimento "underground" no país, há os bons e
velhos "Limite" (31), filme vanguardista e misterioso de Mário
Peixoto, e "Ganga Bruta" (33), de
um Humberto Mauro que findava
o ciclo de Cataguazes e arriscava
uns passos no cinema sonoro.
"Alma Corsária" (93), de Carlos
Reichenbach, e "Um Céu de Estrelas" (96), de Tata Amaral, são
dois grandes exemplos do que
houve nesta década. Aliás, o premiado "Central do Brasil", se não
venceu as duas indicações ao Oscar 99, consegue driblar ter saído
do circuito de cinemas e será exibido na mostra.
Robert Bresson
O cineasta francês Robert Bresson também ganha espaço, a partir de hoje, na mesma Cinemateca.
"As Damas do Bois de Bologne"
(45), às 18h, e "Pickpocket" (59),
às 20h, são os filmes do dia. Os outros podem ser acompanhados,
diariamente, no roteiro de cinema.
(PSL)
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