São Paulo, Sexta-feira, 09 de Abril de 1999
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Cinemateca mostra os melhores brasileiros

free-lance para a Folha

Os melhores filmes brasileiros, segundo a votação de críticos de cinema feita para o caderno especial "O Cinema Brasileiro Entra no Primeiro Mundo", publicado pela Folha no último dia 18, serão exibidos a partir de hoje na Sala Cinemateca.
"O Melhor do Cinema Brasileiro" apresentará 12 grandes filmes nacionais, de diretores de calibre como Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade.
A seleção mostra os dez colocados da lista dos melhores de todos os tempos e outros dois que empataram em segundo lugar na lista dos melhores da década de 90 (veja quadro ao lado).
O filme de abertura -o preferido da maioria dos críticos- é "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (64), de Glauber Rocha, obra épica reconhecida mundialmente e elogiada até pelo italiano Alberto Moravia.
Em "Deus e o Diabo na Terra do Sol", o cineasta baiano mostra um camponês que se rebela contra a opressão a que é submetido e parte numa saga que mostrará seu estado de alienação e testará sua capacidade de entrar para a revolução.
No caminho, ele cruza com missionários fanáticos e com o que restou do grupo de Lampião (com um Othon Bastos antológico como Corisco). O cordel que dá ritmo ao filme, antes de vincular o enredo à questão nordestina, quer apontar um Brasil e seus problemas.
A busca de um processo revolucionário viável para o país -traço constante no pensamento de Glauber- é pontual em "Terra em Transe" (67), eleito o terceiro melhor filme.
Aqui, a figura de Paulo Martins (Jardel Filho) denuncia a incapacidade dos intelectuais brasileiros em se juntar ao povo e abraçar a revolução. Pelo contrário, os vínculos entre a esquerda e a direita co-existem e causam a crise de ideologias e consciência do protagonista.
Para muitos, "Terra em Transe" é o melhor filme de Glauber, que mostra um Brasil alegórico (com o nome irônico de Eldorado).
O que privou "Terra em Transe" de figurar na segunda colocação foi outro clássico brasileiro, "Vidas Secas" (63), de Nelson Pereira dos Santos. Adaptando o livro homônimo de Graciliano Ramos, o diretor carioca relata a sobrevivência precária de uma família em meio à seca nordestina.
A fotografia claríssima e chapada dessa obra-prima duríssima é acompanhada pela única "música" do filme -o ranger das rodas de um carro de boi.
"Macunaíma" (67), de Joaquim Pedro de Andrade, é filme-símbolo do movimento tropicalista, que conseguiu, em pleno equilíbrio, juntar o folclore, os embates revolucionários e um retrato bem-humorado e contundente do brasileiro.
"São Paulo S.A." (65) é um Luiz Sérgio Person não tão bem-humorado, o que não significa menos. Aqui, Walmor Chagas faz um empresário que cai nas graças do desenvolvimentismo da indústria de autopeças, mas tem sua vida pessoal deteriorada.
Para quem não simpatiza com o excesso de mensagens de "O Bandido da Luz Vermelha" (68), filme que inaugura o movimento "underground" no país, há os bons e velhos "Limite" (31), filme vanguardista e misterioso de Mário Peixoto, e "Ganga Bruta" (33), de um Humberto Mauro que findava o ciclo de Cataguazes e arriscava uns passos no cinema sonoro.
"Alma Corsária" (93), de Carlos Reichenbach, e "Um Céu de Estrelas" (96), de Tata Amaral, são dois grandes exemplos do que houve nesta década. Aliás, o premiado "Central do Brasil", se não venceu as duas indicações ao Oscar 99, consegue driblar ter saído do circuito de cinemas e será exibido na mostra.

Robert Bresson
O cineasta francês Robert Bresson também ganha espaço, a partir de hoje, na mesma Cinemateca.
"As Damas do Bois de Bologne" (45), às 18h, e "Pickpocket" (59), às 20h, são os filmes do dia. Os outros podem ser acompanhados, diariamente, no roteiro de cinema. (PSL)


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