São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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TELEVISÃO

Seriado da MTV mostra, com ambiguidade e ironia, cotidiano da classe média a partir de família de roqueiro

"Osbournes" edita seriados à la videoclipe

ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA

Enquanto o décimo e último episódio da primeira temporada de "Os Osbournes" foi ao ar na última terça-feira na MTV norte-americana, o primeiro episódio do seriado-realidade estreou na irmã brasileira da emissora.
O interesse de "Os Osbournes" está em revelar "de verdade" o que acontece no seio de uma família de classe média alta, cujo pai, Ozzy Osbourne, fez fama como roqueiro rebelde nos anos 70. O tom é irônico. Décadas depois, longe do contexto paz e amor, em um mundo marcado pelo neoliberalismo, pela guerra, mas ainda ligado no rock e nos ideais de "aprender a amar e a esquecer o ódio", como afirma a letra da canção de Osbourne que serve de tema ao seriado, o astro vai envelhecendo no seio de uma família feliz, um tanto "excêntrica", mas, no essencial, "normal".
O conteúdo de "Os Osbournes" não difere muito de seriados antigos como "I Love Lucy" ou "Cosby Show", em versão moderna com edição à la videoclipe. Talvez o novo seriado possa ser mais bem definido como uma versão contemporânea e "real" de "A Família Adams". A ambiguidade ficção/documentário acentua a ironia e estimula a repercussão.
O primeiro episódio mostra o núcleo da família Osbourne, composta do pai astro do rock, visual rebelde dos anos 60, a mãe, Sharon, ativa empresária do marido, superpotente dona-de-casa e companheira, o filho Jack, adolescente entediado, avesso a modas, e Kelly, a filha de 17 anos, de cabelos vermelhos espetados.
Os personagens de si mesmos são excêntricos nos trajes e em certos hábitos -como a coleção de gatos e cachorros que fazem cocô e xixi pela casa inteira, tema do segundo episódio. Mas são "normais" nas relações familiares. A família, afinal de contas, permanece unida, em tempos em que separações dão a tônica.
O astro do rock é um pai dedicado e preocupado, "o melhor pai do mundo". Recomenda que os filhos não usem drogas. Permanece apaixonado pela mulher, que beija ternamente na saída de uma entrevista. Os dois confessam, bem-humorados, que não têm mais o mesmo fogo sexual.
Segundo o "New York Times", entre 5 de março e 30 de abril, em média, 8 milhões de pessoas assistiram ao programa, que ficou em primeiro lugar na TV a cabo.
"Os Osbournes" obteve os maiores índices de audiência no segmento do público mais cobiçado do mercado publicitário: os jovens. O sucesso se converte em cifras. As negociações entre a MTV e a família Osbourne para a realização de mais uma temporada do seriado envolvem quantias inéditas para o canal.
A repercussão extrapola o mercado. A atenção da mídia levou o astro do rock à interlocução inusitada com o presidente Bush durante um almoço recente com a imprensa na Casa Branca. E o formato documentário do cotidiano, com edição sintética do material e de acordo com regras da dramaturgia televisiva, coloca questões sobre noções convencionais que regem o reino do audiovisual.
O gênero "reality show" vai se diversificando. Há formatos mais ou menos perniciosos, que vão do sensacionalismo dos canais populistas da TV aberta à videoarte restrita a salas da Bienal, em geral, em torno de exibições pouco roteirizadas. Gincanas românticas, provações escatológicas, experimentos com humanos e relatos do cotidiano da classe média constituem um conjunto disforme de programas, cujo formato, para o bem ou para o mal, checa paradigmas estabelecidos. Nesse contexto, "Os Osbournes" é dos mais engraçadinhos.


Os Osbournes    
Onde: MTV
Quando: terças, quartas e quintas, às 23h30; reprises às quartas, quintas e sextas, às 11h; compacto da semana aos domingos, às 17h




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