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TELEVISÃO
Seriado da MTV mostra, com ambiguidade e ironia, cotidiano da classe média a partir de família de roqueiro
"Osbournes" edita seriados à la videoclipe
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
Enquanto o décimo e último
episódio da primeira temporada de "Os Osbournes" foi ao ar
na última terça-feira na MTV norte-americana, o primeiro episódio do seriado-realidade estreou
na irmã brasileira da emissora.
O interesse de "Os Osbournes"
está em revelar "de verdade" o
que acontece no seio de uma família de classe média alta, cujo
pai, Ozzy Osbourne, fez fama como roqueiro rebelde nos anos 70.
O tom é irônico. Décadas depois,
longe do contexto paz e amor, em
um mundo marcado pelo neoliberalismo, pela guerra, mas ainda
ligado no rock e nos ideais de
"aprender a amar e a esquecer o
ódio", como afirma a letra da canção de Osbourne que serve de tema ao seriado, o astro vai envelhecendo no seio de uma família
feliz, um tanto "excêntrica", mas,
no essencial, "normal".
O conteúdo de "Os Osbournes"
não difere muito de seriados antigos como "I Love Lucy" ou
"Cosby Show", em versão moderna com edição à la videoclipe. Talvez o novo seriado possa ser mais
bem definido como uma versão
contemporânea e "real" de "A Família Adams". A ambiguidade
ficção/documentário acentua a
ironia e estimula a repercussão.
O primeiro episódio mostra o
núcleo da família Osbourne, composta do pai astro do rock, visual
rebelde dos anos 60, a mãe, Sharon, ativa empresária do marido,
superpotente dona-de-casa e
companheira, o filho Jack, adolescente entediado, avesso a modas,
e Kelly, a filha de 17 anos, de cabelos vermelhos espetados.
Os personagens de si mesmos
são excêntricos nos trajes e em
certos hábitos -como a coleção
de gatos e cachorros que fazem
cocô e xixi pela casa inteira, tema
do segundo episódio. Mas são
"normais" nas relações familiares. A família, afinal de contas,
permanece unida, em tempos em
que separações dão a tônica.
O astro do rock é um pai dedicado e preocupado, "o melhor pai
do mundo". Recomenda que os
filhos não usem drogas. Permanece apaixonado pela mulher, que
beija ternamente na saída de uma
entrevista. Os dois confessam,
bem-humorados, que não têm
mais o mesmo fogo sexual.
Segundo o "New York Times",
entre 5 de março e 30 de abril, em
média, 8 milhões de pessoas assistiram ao programa, que ficou em
primeiro lugar na TV a cabo.
"Os Osbournes" obteve os
maiores índices de audiência no
segmento do público mais cobiçado do mercado publicitário: os
jovens. O sucesso se converte em
cifras. As negociações entre a
MTV e a família Osbourne para a
realização de mais uma temporada do seriado envolvem quantias
inéditas para o canal.
A repercussão extrapola o mercado. A atenção da mídia levou o
astro do rock à interlocução inusitada com o presidente Bush durante um almoço recente com a
imprensa na Casa Branca. E o formato documentário do cotidiano,
com edição sintética do material e
de acordo com regras da dramaturgia televisiva, coloca questões
sobre noções convencionais que
regem o reino do audiovisual.
O gênero "reality show" vai se
diversificando. Há formatos mais
ou menos perniciosos, que vão do
sensacionalismo dos canais populistas da TV aberta à videoarte
restrita a salas da Bienal, em geral,
em torno de exibições pouco roteirizadas. Gincanas românticas,
provações escatológicas, experimentos com humanos e relatos
do cotidiano da classe média
constituem um conjunto disforme de programas, cujo formato,
para o bem ou para o mal, checa
paradigmas estabelecidos. Nesse
contexto, "Os Osbournes" é dos
mais engraçadinhos.
Os Osbournes
Onde: MTV
Quando: terças, quartas e quintas, às
23h30; reprises às quartas, quintas e
sextas, às 11h; compacto da semana aos
domingos, às 17h
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