São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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DANÇA

Grupo utiliza materiais cotidianos no espetáculo "3x11", que tem apresentações de amanhã a sábado em São Paulo

Mummenschanz abdica de fala e música

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

No escuro do palco, as formas ganham vida em movimento: cubos dançam no ar, canos se contorcem, plásticos viram ondas, grandes bocas de espuma atravessam a cena. O espetáculo "3x11", do grupo suíço Mummenschanz, é um diálogo sem palavras, com muitas imagens que contam pequenas histórias e lidam também com abstrações.
Tudo é contado com o corpo: a "ausência da fala e da música desafia o público a entrar em relação como esse mundo de fábulas. É um grande jogo de transformação dos materiais, a partir de simples triângulos, quadrados e círculos", diz um dos fundadores do grupo, Bernie Schurch, 63, em entrevista por telefone para a Folha.
O grupo, que esteve aqui em 2004, retorna agora com esse espetáculo retrospectivo dos seus 33 anos de carreira. Estreado no início do ano em Sydney (Austrália), já esteve em turnê pela Oceania e passa agora pela América do Sul. "3x11" traz diferentes idéias do universo do Mummenschanz, retiradas de vários espetáculos e somadas a novas criações.
São três episódios, em que eles mostram suas diferentes máscaras. "É um trabalho comparável ao do escultor, em que há um lado expressivo no manejo dos materiais. No palco, as figuras ganham volumes, como esculturas vivas."
O principal elemento é o humor, com truques simples: "O espetáculo chama cada espectador para compartilhar o momento do jogo e da emoção".
Segundo Schurch, as peças do grupo são "um teatro visual para pessoas de 4 a 104 anos". No que toca a "3x11", especificamente, a linguagem ganhou natureza "mais minimalista, mais austera, em que cabe ao público acrescentar suas cores".
Em um mundo com tanta riqueza visual como o da atualidade, o grupo "procura encontrar no silêncio e na abstração um momento de criatividade e interação que seja importante para todos. Queremos oferecer essa alternativa de um teatro visual baseado na linguagem dos gestos".
Para Schurch, por vezes "as palavras nos limitam mais que os gestos. O movimento do corpo é compreendido nos mais diferentes países. Procuramos abrir um outro canal de comunicação para platéias que são tão diferentes quanto a própria humanidade".
Para que as figuras ganhem movimento, "o corpo é explorado no seu máximo. Temos máscaras que cobrem o rosto, as mãos e todo o corpo. Você não vê ali a fisicalidade do corpo humano, e sim uma forma".
Em outras partes, é verdade, pode-se ver o corpo, pois as máscaras cobrem apenas o rosto -aludindo ao próprio sentido histórico da palavra "Mummenschanz" (literalmente "chance no jogo"), que era o nome das máscaras usadas para jogar cartas, no intervalo das batalhas, pelos soldados medievais suíços, que escondiam assim suas emoções.
Um novo espetáculo começa com o grupo "andando pela cidade e observando as coisas, indo ao shopping para ver o que havia nas lojas etc.". "Levamos essas experiências para o estúdio e mudamos sua forma, colamos algo em cima, esculpimos tudo até chegar a movimentos interessantes."
Continua Schurch: "Começamos a improvisar outros gestos e ritmos. Ou alguém contava um sonho e procurávamos torná-lo real. Tubos, cilindros, espumas e pedaços de pano ajudavam a criar a cena. Em resumo: os materiais do mundo cotidiano têm vida".
O que o grupo busca? "Estou convencido que o que fazemos no palco é um trabalho de paz, pois oferecemos liberdade e a oportunidade de cada um na platéia perceber os sentimentos humanos. Acho que o que falta na nossa sociedade hoje é a fantasia. Mas não é fácil descrever o que fazemos: é o impacto da cena que faz a diferença. Sem tecnologia. O que nos faz enxergar é a simplicidade."


Mummenschanz - 3x11
Quando: de amanhã a sex., às 21h; sáb., às 17h, em SP; no Rio, dia 20, às 21h; e dia 21, às 17h
Onde: Teatro Municipal de SP (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/11/ 6163-5087) e Teatro Municipal do Rio (tel. 0/ xx/ 21/3235-8545)
Quanto: de R$ 40 a R$ 80 (SP); de R$ 30 a R$ 600 (Rio)


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