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DANÇA
Grupo utiliza materiais cotidianos no espetáculo "3x11", que tem apresentações de amanhã a sábado em São Paulo
Mummenschanz abdica de fala e música
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
No escuro do palco, as formas
ganham vida em movimento: cubos dançam no ar, canos se contorcem, plásticos viram ondas,
grandes bocas de espuma atravessam a cena. O espetáculo "3x11",
do grupo suíço Mummenschanz,
é um diálogo sem palavras, com
muitas imagens que contam pequenas histórias e lidam também
com abstrações.
Tudo é contado com o corpo: a
"ausência da fala e da música desafia o público a entrar em relação
como esse mundo de fábulas. É
um grande jogo de transformação
dos materiais, a partir de simples
triângulos, quadrados e círculos",
diz um dos fundadores do grupo,
Bernie Schurch, 63, em entrevista
por telefone para a Folha.
O grupo, que esteve aqui em
2004, retorna agora com esse espetáculo retrospectivo dos seus 33
anos de carreira. Estreado no início do ano em Sydney (Austrália),
já esteve em turnê pela Oceania e
passa agora pela América do Sul.
"3x11" traz diferentes idéias do
universo do Mummenschanz, retiradas de vários espetáculos e somadas a novas criações.
São três episódios, em que eles
mostram suas diferentes máscaras. "É um trabalho comparável
ao do escultor, em que há um lado
expressivo no manejo dos materiais. No palco, as figuras ganham
volumes, como esculturas vivas."
O principal elemento é o humor, com truques simples: "O espetáculo chama cada espectador
para compartilhar o momento do
jogo e da emoção".
Segundo Schurch, as peças do
grupo são "um teatro visual para
pessoas de 4 a 104 anos". No que
toca a "3x11", especificamente, a
linguagem ganhou natureza
"mais minimalista, mais austera,
em que cabe ao público acrescentar suas cores".
Em um mundo com tanta riqueza visual como o da atualidade, o grupo "procura encontrar
no silêncio e na abstração um momento de criatividade e interação
que seja importante para todos.
Queremos oferecer essa alternativa de um teatro visual baseado na
linguagem dos gestos".
Para Schurch, por vezes "as palavras nos limitam mais que os
gestos. O movimento do corpo é
compreendido nos mais diferentes países. Procuramos abrir um
outro canal de comunicação para
platéias que são tão diferentes
quanto a própria humanidade".
Para que as figuras ganhem movimento, "o corpo é explorado no
seu máximo. Temos máscaras
que cobrem o rosto, as mãos e todo o corpo. Você não vê ali a fisicalidade do corpo humano, e sim
uma forma".
Em outras partes, é verdade, pode-se ver o corpo, pois as máscaras cobrem apenas o rosto -aludindo ao próprio sentido histórico da palavra "Mummenschanz"
(literalmente "chance no jogo"),
que era o nome das máscaras usadas para jogar cartas, no intervalo
das batalhas, pelos soldados medievais suíços, que escondiam assim suas emoções.
Um novo espetáculo começa
com o grupo "andando pela cidade e observando as coisas, indo ao
shopping para ver o que havia nas
lojas etc.". "Levamos essas experiências para o estúdio e mudamos sua forma, colamos algo em
cima, esculpimos tudo até chegar
a movimentos interessantes."
Continua Schurch: "Começamos a improvisar outros gestos e
ritmos. Ou alguém contava um
sonho e procurávamos torná-lo
real. Tubos, cilindros, espumas e
pedaços de pano ajudavam a criar
a cena. Em resumo: os materiais
do mundo cotidiano têm vida".
O que o grupo busca? "Estou
convencido que o que fazemos no
palco é um trabalho de paz, pois
oferecemos liberdade e a oportunidade de cada um na platéia perceber os sentimentos humanos.
Acho que o que falta na nossa sociedade hoje é a fantasia. Mas não
é fácil descrever o que fazemos: é
o impacto da cena que faz a diferença. Sem tecnologia. O que nos
faz enxergar é a simplicidade."
Mummenschanz - 3x11
Quando: de amanhã a sex., às 21h; sáb.,
às 17h, em SP; no Rio, dia 20, às 21h; e
dia 21, às 17h
Onde: Teatro Municipal de SP (pça.
Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/11/
6163-5087) e Teatro Municipal do Rio
(tel. 0/ xx/ 21/3235-8545)
Quanto: de R$ 40 a R$ 80 (SP); de R$ 30 a
R$ 600 (Rio)
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