São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Um apartamento no pescoço

A coluna fez o "test-drive" de um colar que custa mais de R$ 1 milhão, ou o equivalente a um imóvel de três quartos e 180 m2 no bairro de Perdizes

Fotos Marcelo Justo/Folha Imagem
O colar formado por duas pulseiras de diamantes, ametistas, rubis e safiras, desenhadas por Diane von Furstenberg

"Nooossa! ", diz o arquiteto Sig Bergamin ao ver o colar que a repórter Lígia Mesquita desfilava na semana passada no shopping Iguatemi. Ele toca na peça. "É um ícone fashion, de marajá pop". Sig usaria a joia "com jeans, camiseta branca e uns dez seguranças!" (desde, é claro, que fosse mulher, ou "uma perua"). Mas só "na casa de amigos. Não dá para chocar usando na rua. Humilhar é horrível".

 

A joia, duas pulseiras unidas com um colar, é a peça mais cara à venda hoje para pronta-entrega nas joalherias de SP. Uma delas, com 4.861 brilhantes, quase 60 quilates, custa R$ 682 mil. A outra, com 81 diamantes, 395 ametistas, 980 granadas, 447 peridotos, 440 rubis, 710 safiras e 440 topázios azuis, é vendida por R$ 397 mil. Todas as pedras foram cravadas à mão, uma por uma, sobre um tubo oco de ouro branco. Foram desenhadas para a H.Stern por Diane von Furstenberg, a incensada estilista norte-americana que tem Michelle Obama e Beyoncé entre suas clientes e que abriu recentemente uma loja no Brasil. Juntas, custam R$ 1,079 milhão -o preço de três apartamentos de dois quartos em Perdizes e 24 carros C3 da Citröen.

 

A peça já foi usada pela atriz Eva Longoria, do seriado "Desperate Housewives", no Met Ball, em 2009, e pela cantora Rihanna, no Video Music Awards de 2006, nos EUA. No Brasil, segundo a H.Stern, só uma peça foi vendida até hoje, para uma cliente misteriosa, num almoço oferecido em abril pela joalheria à estilista.

 

A coluna fez um "test-drive" do colar na semana passada. Por pouco mais de uma hora, circulou na "Journey of a Dress", uma mostra que exibe criações e fotos de Diane, com a peça assinada por ela. Entre dezenas de mulheres habituadas ao consumo de alto luxo, só uma acertou o preço da joia -a publicitária Silvana Tinelli, da SNBB, que chegou a experimentá-la dias antes na loja do Iguatemi. "Eu queria comprar. Mas, quando vi o preço, quase caí de costas."

 

Sig Bergamin achou que a peça custava "uns R$ 250 mil. Mas vale mais, uns R$ 400 mil." Arregalou os olhos quando o repórter Leandro Nomura revelou a ele o preço correto. "É que eu gasto com relógio."

 

Tereza Fittipaldi deu um chute: "Custa uns R$ 100 mil". Ao saber o preço certo, toma um susto. Mas logo fica aliviada ao descobrir as especificações da joia. "Ahhh, bom!". E, mão na boca, fala baixinho: "Eu pensei que fosse Swarovski...".

 

"Uaaau!", solta a estilista Lu Pimenta ao ver o colar.

 

"Eu usaria esse colar num almoço, com blazer e calça jeans", diz Tereza Fittipaldi. "Eu, não. Usaria com um longo", afirma Silvana. E também "cagando de medo, com três seguranças!". "Eu andaria com carro blindado. Dá muita mão de obra", diz Lu. "Pensando bem, ninguém ia acreditar que é verdadeira", reflete Silvana. Lu concorda: "É. Iam achar que é da 25 [de Março]".

 

A empresária Renée Behar se aproxima e abre dois botões do vestido da repórter. "Deixa aberto para aparecer mais." Apesar de admirar a peça, Renée não daria nem R$ 1 por ela. "Queria ganhar de presente." "Eu também, ganharia!", diz a cantora Daniela Procopio, filha de Celita Procopio, presidente do conselho curador da Faap. "Noossa!", continua. "Eu usaria assim: com um tomara que caia preto, cabelo preso. Só um vestido e pele, pele." "Se eu tivesse dinheiro..."

 


"Eu sei o preço. Eu vi na loja. Era uns R$ 300 mil a de ouro, não era?", diz a psicóloga Amal Orra ao lado da irmã, a advogada Uafah Majdoub. "Essa peça era o meu sonho de consumo", diz Amal. Que ela realizou. "Fiz uma cópia dela quando fui para o Líbano. Lá, as coisas são ótimas e mais baratas." A alegria durou pouco. De volta ao Brasil, foi roubada perto da Daslu. "Levaram também os nossos Rolex." Viúva, Amal lamenta: "Se meu marido estivesse vivo, ele já teria me dado [a pulseira de brilhantes, verdadeira]".

 


Na garimpagem para descobrir quais eram as joias mais caras à venda na cidade, a coluna descobriu outras preciosidades. A peça mais cara da Tiffany&Co é um anel de platina com um diamante solitário, de 2,03 quilates. Custa R$ 417 mil. "Ele é um If e um D", diz a gerente Teresa Grinberg. Traduzindo: na escala de pureza, If é o segundo diamante mais puro. Na de cor, D é a pedra mais incolor e, por isso, mais valiosa. A joia está na loja desde 2009 e "já passou pelos dedos de muitas mulheres", mas nenhuma se animou a pagar por ela. "Tem muita bolsa Dior vazia por aqui."

 


Na Cartier da rua Haddock Lobo, a joia mais cara também é um anel, com um brilhante (diamante redondo, lapidado em 57 facetas) de 1,57 quilate, F (terceira posição na escala de coloração) e If. Adornado com outros 16 diamantes em formato de baguetes, com 2,81 quilates ao todo, custa R$ 380 mil. Elisabeth dos Reis, diretora da loja, explica: "É de platina, um metal muito mais poderoso do que o ouro." Está à venda há oito meses.


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