|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Foi a primeira e única estrela do rock no Brasil"
da Reportagem Local
Roberto de Carvalho, 45, músico, compositor, arranjador, produtor e marido de Rita Lee, é o que
ele mesmo define como "articulador" do "Acústico MTV".
"Sou produtor e coordenador
de projeto. Arranjador junto com
a Rita. E músico", explica. Leia a
trechos da entrevista por e-mail
do artista à Folha.
(PAS)
Folha - Você não esteve presente
no "Bossa'n'Roll". Mesmo assim
pode estabelecer uma ponte entre
os dois projetos?
Roberto de Carvalho - "Bossa'n'Roll" é um projeto excepcional. É precursor e já consegue praticamente esgotar as possibilidades do gênero por ser absolutamente despojado na produção.
Cria um parâmetro muito difícil,
porque radicaliza. Qualquer outra
idéia vai ficar no meio do caminho
entre a simplicidade sofisticada do
"Bossa'n'Roll" e os acústicos superproduzidos (nem sempre sofisticados) que têm sido feitos.
No "Bossa'n'Roll", a Rita foi ao
osso das músicas, o que gosto muito, mas os arranjos iam frequentemente para o lado do sambinha,
era essa a estética da coisa, e disso
estamos fugindo desta vez.
Folha - Qual é a preocupação básica do casal no projeto acústico?
Carvalho - A preocupação da
metade Carvalho é que tudo esteja
à altura da metade Lee. Que seja
inspirado, bonito, harmônico, interessante, bem-feito, caprichado
e que as pessoas gostem.
Folha - Você é capaz de fazer
uma análise geral da obra dela?
Carvalho - Na minha modesta
opinião, minha mulher é uma das
maiores artistas de música popular de nosso planeta. Costumo dizer que o avô americano veio na
direção errada. Se vivesse nos
EUA, ela teria se tornado com certeza uma coisa realmente grande.
Sempre teve uma imagem fortíssima. Nos Mutantes, a imagem era
ela, o charme era dela, o humor era
dela, a graça era ela. Saiu, c'est fini.
Segue-se a época Tutti Frutti, a
primeira estrela do rock do Brasil.
Foi a primeira e única, fez os primeiros grandes shows de rock no
Brasil, o "Fruto Proibido" (75).
Nos conhecemos no "Entradas e
Bandeiras" (76), no maior estresse, "Babilônia" (78), que tenho
orgulho de ter participado, mas já
funcionando com respiração artificial. E depois, como você já sabe,
veio Roberto de Carvalho.
Folha - O casal sofreu preconceito, aquela coisa de John Lennon e
Yoko Ono, já que até hoje a crítica
prefere as fases anteriores de Rita?
Carvalho - Talvez tenha sofrido
preconceito. O casal serviu como
uma grande tela de projeção para
as pessoas em geral, e com certeza
coisas boas e não tão boas foram
projetadas. Isso não significa de
forma nenhuma que os personagens em questão fossem ou sejam
a materialização dessas projeções,
vade retro! Foi a fase de Rita que
vendeu milhões de discos.
Quanto a Yoko, sei não. Colaborei para que Rita se expandisse em
todos os sentidos e ocupasse o lugar que ela tinha que ocupar, por
mérito próprio. Yoko não contribuiu um milímetro para a expansão do marido, já o pegou pronto.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|