São Paulo, sábado, 9 de maio de 1998

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CINEMA
Filme vira Inconfidência Mineira ao avesso

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Tiradentes frequentava bordéis e sua companheira o traía. Alvarenga Peixoto era um aventureiro e sua noiva, Bárbara Heliodora, ficou grávida duas vezes antes de se casar sob pressão dos padres de São João Del Rei.
Essas são algumas proposições do cineasta Oswaldo Caldeira, diretor do longa "Tiradentes", que foge da visão tradicional dos protagonistas da Inconfidência Mineira, movimento de libertação nacional ocorrido em Minas Gerais no final do século 18.
O filme estréia após a Copa do Mundo e deve provocar polêmica devido à maneira como retrata os inconfidentes. "Eu não descobri nada. Todos os historiadores já sabem disso, mas não falam na sala de aula", afirma Caldeira.
Ele cita, por exemplo, o trecho em que Tiradentes (Humberto Martins), diz que um de seus superiores na hierarquia militar é "um banana", expressão usada literalmente por ele de acordo com os Autos da Devassa (autos do processo que condenou Tiradentes e os outros inconfidentes).
Em outro momento do filme, um dos delatores da Inconfidência Mineira, ao tomar conhecimento de que Tiradentes conspira contra a Coroa Portuguesa, exprime seu descrédito de forma irônica -"Só se for um levante de putas"- , devido à frequência com que o herói ia a bordéis.
"Algumas pessoas podem achar que é um tipo de besteirol, mas não é. Tudo isso está nos documentos", garante.
Caldeira conta que, antes de escrever o roteiro, leu centenas de livros sobre o assunto para sua tese de doutorado, "A Imagem do Tiradentes: Em Busca do Rosto Perdido", em que analisava as diferentes interpretações visuais do mártir da Inconfidência.
Cenas do filme foram recriadas a partir dos depoimentos registrados nos autos, em que consta que Tiradentes também teria prometido favores a prostitutas, quando o Brasil se tornasse república.
O filme mostra seu relacionamento com Antônia Maria do Espírito Santo (Júlia Lemmertz), com quem teve uma filha. O herói, no entanto, expulsa Antônia de sua casa, quando descobre que ela tinha praticado adultério.
As outras mulheres dos inconfidentes não escapam do escrutínio de Caldeira. Marília de Dirceu (Giulia Gam), eternamente virgem aos olhos de alguns historiadores, mantém relações com o poeta inconfidente Tomás Gonzaga (Eduardo Galvão).
"Eu quis trazer um pouco do clima da época, não pretendendo escandalizar, mas, apenas com delicadeza e naturalidade, trazer um tom daquele momento", diz.



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