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CINEMA
Filme vira Inconfidência Mineira ao avesso
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
Tiradentes frequentava bordéis e
sua companheira o traía. Alvarenga Peixoto era um aventureiro e
sua noiva, Bárbara Heliodora, ficou grávida duas vezes antes de se
casar sob pressão dos padres de
São João Del Rei.
Essas são algumas proposições
do cineasta Oswaldo Caldeira, diretor do longa "Tiradentes", que
foge da visão tradicional dos protagonistas da Inconfidência Mineira, movimento de libertação
nacional ocorrido em Minas Gerais no final do século 18.
O filme estréia após a Copa do
Mundo e deve provocar polêmica
devido à maneira como retrata os
inconfidentes. "Eu não descobri
nada. Todos os historiadores já sabem disso, mas não falam na sala
de aula", afirma Caldeira.
Ele cita, por exemplo, o trecho
em que Tiradentes (Humberto
Martins), diz que um de seus superiores na hierarquia militar é
"um banana", expressão usada literalmente por ele de acordo com
os Autos da Devassa (autos do
processo que condenou Tiradentes e os outros inconfidentes).
Em outro momento do filme,
um dos delatores da Inconfidência
Mineira, ao tomar conhecimento
de que Tiradentes conspira contra
a Coroa Portuguesa, exprime seu
descrédito de forma irônica
-"Só se for um levante de putas"- , devido à frequência com
que o herói ia a bordéis.
"Algumas pessoas podem achar
que é um tipo de besteirol, mas
não é. Tudo isso está nos documentos", garante.
Caldeira conta que, antes de escrever o roteiro, leu centenas de
livros sobre o assunto para sua tese de doutorado, "A Imagem do
Tiradentes: Em Busca do Rosto
Perdido", em que analisava as diferentes interpretações visuais do
mártir da Inconfidência.
Cenas do filme foram recriadas a
partir dos depoimentos registrados nos autos, em que consta que
Tiradentes também teria prometido favores a prostitutas, quando o
Brasil se tornasse república.
O filme mostra seu relacionamento com Antônia Maria do Espírito Santo (Júlia Lemmertz),
com quem teve uma filha. O herói,
no entanto, expulsa Antônia de
sua casa, quando descobre que ela
tinha praticado adultério.
As outras mulheres dos inconfidentes não escapam do escrutínio
de Caldeira. Marília de Dirceu
(Giulia Gam), eternamente virgem aos olhos de alguns historiadores, mantém relações com o
poeta inconfidente Tomás Gonzaga (Eduardo Galvão).
"Eu quis trazer um pouco do
clima da época, não pretendendo
escandalizar, mas, apenas com delicadeza e naturalidade, trazer um
tom daquele momento", diz.
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