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PETER BROOK
Peça que vem ao Brasil retrata a vida de Sophiatown, um gueto negro de Johannesburgo, na África do Sul
Terno é convidado a jantar em "Le Costume"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Le Costume" estreou no final
do ano passado, num ciclo de peças sul-africanas do teatro Bouffes
du Nord, o centro de Peter Brook
em Paris. É mais um degrau no
teatro "internacional" do diretor,
no projeto de "articular uma arte
universal que transcenda o nacionalismo estreito em sua tentativa
de alcançar a essência humana",
nas palavras dele -sobre seu espetáculo mais conhecido, "Mahabharata".
Inglês estabelecido na França há
três décadas, ele encontrou num
conto do escritor sul-africano Can
Themba, chamado "The Suit" ou
"Le Costume", que se pode traduzir por "O Terno", uma maneira
de retratar a vida inesperadamente festiva de um gueto negro de Johannesburgo, Sophiatown, nos
anos 50.
É o próprio diretor quem escreve, na introdução da adaptação
teatral do conto, realizada por
Mothobi Mutloatse e Barney Simon e publicada por Editions Actes-Sud Papiers:
"Em Sophiatown, havia a mesma miséria, o mesmo isolamento
das outras "townships" criadas pelo apartheid, mas de uma maneira
que florescia o talento e se podiam
organizar festas, fazer poesia, tocar o jazz. Em Sophiatown, tudo
se passava nos "shabeens", os cafés
clandestinos, primitivos e ilegais,
onde se encontravam os escritores brancos e negros, os ladrões,
as putas, os músicos."
Sophiatown, relata o diretor,
terminou sendo derrubada pelo
governo branco sul-africano. A
população foi transferida para
outra região, distante 20 quilômetros, um novo gueto, uma nova
"township".
"Bem guardada", não tinha nome. Com o tempo, acabou sendo
chamada de Soweto.
Can Themba, o escritor, teria
narrado a primeira versão do
conto ainda em Sophiatown, num
"shabeen". Morreu poucos anos
depois, no exílio na Suazilândia,
alcoólatra.
É Sophiatown que dá o cenário
para "Le Costume", tragicomédia
de ciúmes vista rapidamente em
vídeo -e que está avaliada em
crítica do jornal "Le Monde" (leia
texto abaixo).
O ponto de partida da trama é o
flagrante que um marido, Philemon, dá na mulher, Matilda: o
amante sai às pressas, deixando
para trás um terno. Começa a lenta vingança. Philemon obriga Matilda a manter o terno na casa como um convidado, que participa
das refeições e é levado para passear. Ela aos poucos se adapta,
mas o fim trágico sobrevém
quando ele a obriga, numa festa,
diante de todos os amigos, a servir
o terno.
Elenco
No elenco de "Le Costume", que
vem ao Brasil bastante alterado,
inclusive com novo casal central,
o ator mais conhecido é Sotigui
Kouyaté, que faz entre outros papéis o de um velho sábio de Sophiatown, Maphikela.
Kouyaté, que é natural de Burkina Fasso e, em princípio, segue
nessa montagem em excursão pelo mundo, ganhou renome pelas
atuações em "Mahabharata", entre outros espetáculos de Peter
Brook, e em diversos filmes europeus.
(NS)
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