São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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ERUDITO

Para compositor polonês, designação serve só para experimentalismos

"Hoje é ridículo usar a vanguarda"

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir a continuação da entrevista com o maestro e compositor polonês Krzysztof Penderecki, que se apresenta amanhã e sábado em São Paulo.
 

Folha - As idéias do Partido Comunista eram muito conservadoras e ortodoxas com relação à harmonia. O atonalismo não tinha nada a ver com a música oficial?
Krzysztof Penderecki -
Com certeza. Eu na época admirava bastante Olivier Messiaen [(1908-1992), compositor francês que foi o mestre do pós-dodecafonismo e que deixou importante produção litúrgica]. Minha música era bastante diferente daquela que ele escrevia. Mas ele era na época o único a escrever a grande música sacra. Quanto à ortodoxia dos comunistas, é inegável. Eram muito conservadores.

Folha - A palavra "vanguarda" ainda significa alguma coisa?
Penderecki -
A meu ver, essa palavra designa apenas a música escrita entre o final dos anos 50 e o início dos anos 60. Foi a época do experimentalismo radical. Hoje seria ridículo, passadas quatro décadas, tomá-la como referência. Os compositores que começaram a produzir depois não empurraram a estética até o ponto em que minha geração o fez.

Folha - A seu ver, em que direção a música hoje em dia está caminhando?
Penderecki -
É uma pergunta que ninguém seria capaz de responder. Só um profeta poderia fazê-lo. Depois da geração de vanguarda, surgiram correntes mais apegadas à antiga tradição musical. Já se afastava da modernidade tal qual a definíamos nos anos 20 do século passado. Mas não sei o que será em breve predominante. Pode ser que seja algo diferente. Minha geração fechou muitas portas atrás de si própria para permitir que hoje certos caminhos fossem percorridos.

Folha - O sr. poderia exemplificar isso?
Penderecki -
Eu me refiro à música instrumental, ao potencial de produção de sons dentro de uma orquestra ou de um conjunto de câmara, que usam instrumentos concebidos há 300 ou 400 anos. Essas possibilidades já foram exploradas. É provável que dentro da música eletrônica algum potencial ainda possa dar frutos.

Folha - Hoje as coisas são sempre "pós" alguma coisa, não é?
Penderecki -
Fala-se em "pós-romantismo", quando em verdade há uma produção que não tem propriamente raízes no romantismo e que vai bem mais longe que as trilhas abertas pelo final do romantismo. Os primeiros "pós" surgiram em meados dos anos 70, mas no início dos anos 80 já não tinham muito a dizer.

Folha - Como o sr. reage quando hoje o qualificam de "pós-mahleriano" ou "pós-wagneriano"?
Penderecki -
Não creio que minha música tenha hoje uma filiação direta com esses ou outros compositores. Escrevo música de Penderecki.

Folha - No que o sr. está hoje trabalhando?
Penderecki -
Estou completando a segunda de minhas "Paixões". Será a "Paixão segundo São João". Ela deverá estrear no ano que vem em Dresden.

Folha - Algum plano de ópera, depois do "Ubu Rei"?
Penderecki -
Estou já com alguns esboços prontos para uma próxima ópera. Será "Fedra", encomenda do Teatro Real de Madri.


KRZYSZTOF PENDERECKI REGE A OSESP. Obra: "Réquiem Polonês", com Izabella Klosinska (soprano), Jadwiga Rappé (contralto), Ryszard Minkiewicz (tenor) e Romuald Tesarowicz (baixo), mais o Coro da Osesp, preparado por Naomi Munakata. Quando: amanhã, às 21h, e sáb., às 16h30. Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, região central, São Paulo, tel. 0/xx/11/3337-5414). Quanto: de R$ 22 a R$ 70 (ingressos já esgotados).


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