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ERUDITO
Para compositor polonês, designação serve só para experimentalismos
"Hoje é ridículo usar a vanguarda"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir a continuação da
entrevista com o maestro e compositor polonês Krzysztof Penderecki, que se apresenta amanhã e
sábado em São Paulo.
Folha - As idéias do Partido Comunista eram muito conservadoras e ortodoxas com relação à harmonia. O atonalismo não tinha nada a ver com a música oficial?
Krzysztof Penderecki - Com certeza. Eu na época admirava bastante Olivier Messiaen [(1908-1992), compositor francês que foi
o mestre do pós-dodecafonismo e
que deixou importante produção
litúrgica]. Minha música era bastante diferente daquela que ele escrevia. Mas ele era na época o único a escrever a grande música sacra. Quanto à ortodoxia dos comunistas, é inegável. Eram muito
conservadores.
Folha - A palavra "vanguarda"
ainda significa alguma coisa?
Penderecki - A meu ver, essa palavra designa apenas a música escrita entre o final dos anos 50 e o início dos anos 60. Foi a época do
experimentalismo radical. Hoje
seria ridículo, passadas quatro décadas, tomá-la como referência.
Os compositores que começaram
a produzir depois não empurraram a estética até o ponto em que
minha geração o fez.
Folha - A seu ver, em que direção
a música hoje em dia está caminhando?
Penderecki - É uma pergunta
que ninguém seria capaz de responder. Só um profeta poderia fazê-lo. Depois da geração de vanguarda, surgiram correntes mais
apegadas à antiga tradição musical. Já se afastava da modernidade
tal qual a definíamos nos anos 20
do século passado. Mas não sei o
que será em breve predominante.
Pode ser que seja algo diferente.
Minha geração fechou muitas
portas atrás de si própria para
permitir que hoje certos caminhos fossem percorridos.
Folha - O sr. poderia exemplificar
isso?
Penderecki - Eu me refiro à música instrumental, ao potencial de
produção de sons dentro de uma
orquestra ou de um conjunto de
câmara, que usam instrumentos
concebidos há 300 ou 400 anos.
Essas possibilidades já foram exploradas. É provável que dentro
da música eletrônica algum potencial ainda possa dar frutos.
Folha - Hoje as coisas são sempre
"pós" alguma coisa, não é?
Penderecki - Fala-se em "pós-romantismo", quando em verdade
há uma produção que não tem
propriamente raízes no romantismo e que vai bem mais longe que
as trilhas abertas pelo final do romantismo. Os primeiros "pós"
surgiram em meados dos anos 70,
mas no início dos anos 80 já não
tinham muito a dizer.
Folha - Como o sr. reage quando
hoje o qualificam de "pós-mahleriano" ou "pós-wagneriano"?
Penderecki - Não creio que minha música tenha hoje uma filiação direta com esses ou outros
compositores. Escrevo música de
Penderecki.
Folha - No que o sr. está hoje trabalhando?
Penderecki - Estou completando
a segunda de minhas "Paixões".
Será a "Paixão segundo São João".
Ela deverá estrear no ano que vem
em Dresden.
Folha - Algum plano de ópera, depois do "Ubu Rei"?
Penderecki - Estou já com alguns
esboços prontos para uma próxima ópera. Será "Fedra", encomenda do Teatro Real de Madri.
KRZYSZTOF PENDERECKI REGE A
OSESP. Obra: "Réquiem Polonês", com
Izabella Klosinska (soprano), Jadwiga
Rappé (contralto), Ryszard Minkiewicz
(tenor) e Romuald Tesarowicz (baixo),
mais o Coro da Osesp, preparado por
Naomi Munakata. Quando: amanhã, às
21h, e sáb., às 16h30. Onde: Sala São
Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, região
central, São Paulo, tel. 0/xx/11/3337-5414). Quanto: de R$ 22 a R$ 70
(ingressos já esgotados).
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