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"LOUISE BOURGEOIS"
Stoklos se refaz em nome de outra
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Eu sou aquilo que eu faço".
A frase da escultora francesa Louise Bourgeois cabe como
uma luva também para Denise
Stoklos. Dona, como poucos, de
uma estética própria, o "teatro essencial", que procura estabelecer
um máximo de teatralidade com
um mínimo de efeitos, sua energia visceral preenche todas as expectativas de quem vai para vê-la
-mas não vai mais além.
Neste "Louise Borgeois - Faço,
Refaço, Desfaço" Stoklos se basta
em cena por mais de uma hora, e
sobra energia para reprisar dois
outros monólogos, em cartaz durante a semana. A novidade é que
desta vez ela fala em nome de outra criadora -que criou especialmente esculturas para o cenário.
São três instalações em ferro:
uma escada de escorregador, suspensa no vazio, à esquerda; uma
cadeira frente a um espelho oval, à
direita, e, ao centro, uma gaiola-quarto, que evoca o lar burguês.
Os textos autobiográficos de
Bourgeois escolhidos são distribuídos por esses três sets, e pode-se perceber um certo critério: memórias da infância ao centro, com
seus conflitos com o pai; momentos de angústia de criação, até o
"arco histérico" replicar a escada
para o nada, à esquerda, enquanto à direita o espelho permanece a
maior parte do tempo vazio, em
busca de uma revelação.
O ritmo alucinante permite
pouco esses momentos de mergulho em si mesma. Stoklos se
apóia em um humor feroz, entre o
autodeboche e a necessidade infantil de estar sempre no centro
das atenções, sempre no máximo
de energia, remetendo às vezes ao
nonsense de Harpo Marx.
Isso fica particularmente claro
quando evoca uma fábula de Camus, sobre um cachorro mantido
sempre com fome por seu dono
possessivo. Um dia, ele foge e passa a devorar compulsivamente tudo que encontra.
Deitada no chão, Stoklos faz durar a mímica do cachorro que devora por mais de um minuto, até
ultrapassar o limite do engraçado,
chegando à crueldade contra si
mesma. A metáfora de Camus
passa em segundo plano: o que
Stoklos quer dizer é aquilo que ela
faz, e raramente desfaz.
Essa desfaçatez tem seus méritos e um público fiel. Mas esgota-se em si mesma. O teatro essencial
é essencialmente o teatro que Stoklos faz, e que é feito para ela, sob
medida. Stoklos é a medida de
Stoklos. Sai-se da peça com ela, e
não Bourgeois, na cabeça. O que
falseia suas intenções.
Seria necessário ao crítico exigir
mais de uma artista internacionalmente consagrada? Que se supere, que surpreenda, que passe a
explorar nuances que não se viam
sob a fórmula usual? Para isso, seria preciso se habilitar enquanto
seu interlocutor, o que é cada vez
mais difícil em tempos em que o
crítico e o divulgador se confundem nas expectativas gerais. Resta então ao crítico a paráfrase de
Gertrude Stein: Stoklos é Stoklos é
Stoklos, excessiva e apaixonadamente, e talvez não haja razões
para se querer outra coisa.
Louise Bourgeois - Faço, Desfaço, Refaço
Texto: Louise Bourgeois
Direção, adaptação e interpretação:
Denise Stoklos
Quando: sex. a dom., às 21h; até 3/7
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro
Ramos, 915, SP, tel. 0/xx/11/6602-3700)
Quanto: R$ 10 a R$ 20
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