São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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MÚSICA

MV Bill lança CD entre a leveza e a decepção

Álbum tem apenas duas faixas diretamente relacionadas ao especial "Falcão"

Rapper afirma que o hip hop está menos sisudo e diz que, apesar de ter rendido frutos, série de TV gerou menos mobilização do que gostaria

DA SUCURSAL DO RIO

Depois do especial de TV e do livro, é a vez do disco. Mas só as duas primeiras faixas de "Falcão - O Bagulho É Doido", novo CD de MV Bill, têm relação direta com a série do rapper sobre os meninos que trabalham no tráfico de drogas.
"Muitas coisas foram concebidas nos ambientes em que a gente estava [favelas de várias cidades], mas não no nosso foco. Até porque às vezes ficávamos 24 horas com esses garotos, e aí há momentos em que se dá risada", diz Bill, 32, em entrevista na Cidade de Deus (zona oeste do Rio), onde mora.
Uma briga de casal em uma boca de fumo, por exemplo, virou a divertida "Estilo Vagabundo". Já "Minha Flecha na Sua Mira (Me Leva)" é um samba-rock com letra leve. "O hip hop era mais sisudo, hoje atravessa outra fase. Sem perder seu lado contestador, mas de forma mais musical", diz Bill, que usou no CD samplers de Caetano Veloso ("Qualquer Coisa") e Sandra de Sá ("Olhos Coloridos").
Mas é claro que predominam as músicas de protesto. Em "O Bagulho É Doido", ele ataca os que compram drogas e depois pedem paz diante da praia, os mesmos que acham divertido ir às favelas.
"Quando a favela é protagonista do projeto, eu acredito. Mas, se for pano de fundo, como um safári, só aumenta o estigma", diz ele, criador da Cufa (Central Única das Favelas).
Parcerias da Cufa em Fortaleza e Cuiabá são conseqüências da exibição de "Falcão" no "Fantástico", em março, que alegram Bill. Mas há outro lado. "No concreto, nada mudou.
Acaba sendo uma decepção, a gente pode estar vendo um momento importante da história do país ir embora. Gostaria de mais mobilização", lamenta.
Ele ironiza sem polemizar o artigo que Ferréz publicou na Folha em 5 de abril, no qual o escritor do Capão Redondo dizia que "Falcão" não apresenta soluções e que Bill está ganhando dinheiro à custa dos adolescentes mortos. "Ele conseguiu um espaço na Folha para falar do trabalho dele. E todo mundo já falou bem. Quem fala bem não vira mais notícia", diz ele.
"De tudo o que ganho na vida, metade vai para a Cufa. Para fazer esse material, não tive dinheiro de ninguém. Se a gente não puder fazer dinheiro com nossa própria miséria, que é a única coisa que nos sobrou, é mais fácil nos distribuírem cordas para nos enforcar." (LUIZ FERNANDO VIANNA)

FALCÃO - O BAGULHO É DOIDO
Artista:
MV Bill
Gravadora: Chapa Preta/Universal
Quanto: R$ 20, em média


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