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MÚSICA
MV Bill lança CD entre a leveza e a decepção
Álbum tem apenas duas faixas diretamente relacionadas ao especial "Falcão"
Rapper afirma que o hip hop
está menos sisudo e diz que,
apesar de ter rendido frutos,
série de TV gerou menos
mobilização do que gostaria
DA SUCURSAL DO RIO
Depois do especial de TV e do
livro, é a vez do disco. Mas só as
duas primeiras faixas de "Falcão - O Bagulho É Doido", novo
CD de MV Bill, têm relação direta com a série do rapper sobre os meninos que trabalham
no tráfico de drogas.
"Muitas coisas foram concebidas nos ambientes em que a
gente estava [favelas de várias
cidades], mas não no nosso foco. Até porque às vezes ficávamos 24 horas com esses garotos, e aí há momentos em que
se dá risada", diz Bill, 32, em entrevista na Cidade de Deus (zona oeste do Rio), onde mora.
Uma briga de casal em uma
boca de fumo, por exemplo, virou a divertida "Estilo Vagabundo". Já "Minha Flecha na
Sua Mira (Me Leva)" é um samba-rock com letra leve.
"O hip hop era mais sisudo,
hoje atravessa outra fase. Sem
perder seu lado contestador,
mas de forma mais musical",
diz Bill, que usou no CD samplers de Caetano Veloso
("Qualquer Coisa") e Sandra de
Sá ("Olhos Coloridos").
Mas é claro que predominam
as músicas de protesto. Em "O
Bagulho É Doido", ele ataca os
que compram drogas e depois
pedem paz diante da praia, os
mesmos que acham divertido ir
às favelas.
"Quando a favela é protagonista do projeto, eu acredito.
Mas, se for pano de fundo, como um safári, só aumenta o estigma", diz ele, criador da Cufa
(Central Única das Favelas).
Parcerias da Cufa em Fortaleza e Cuiabá são conseqüências da exibição de "Falcão" no
"Fantástico", em março, que
alegram Bill. Mas há outro lado.
"No concreto, nada mudou.
Acaba sendo uma decepção, a
gente pode estar vendo um momento importante da história
do país ir embora. Gostaria de
mais mobilização", lamenta.
Ele ironiza sem polemizar o
artigo que Ferréz publicou na
Folha em 5 de abril, no qual o
escritor do Capão Redondo dizia que "Falcão" não apresenta
soluções e que Bill está ganhando dinheiro à custa dos adolescentes mortos.
"Ele conseguiu um espaço na
Folha para falar do trabalho
dele. E todo mundo já falou
bem. Quem fala bem não vira
mais notícia", diz ele.
"De tudo o que ganho na vida,
metade vai para a Cufa. Para fazer esse material, não tive dinheiro de ninguém. Se a gente
não puder fazer dinheiro com
nossa própria miséria, que é a
única coisa que nos sobrou, é
mais fácil nos distribuírem cordas para nos enforcar."
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
FALCÃO - O BAGULHO É DOIDO
Artista: MV Bill
Gravadora: Chapa Preta/Universal
Quanto: R$ 20, em média
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