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Crítica/design
Adrian Forty revê história do design
"Objetos de Desejo", escrito pelo historiador e crítico britânico em 1986, é obra fundamental, apesar de algumas lacunas
PEDRO FIORI ARANTES
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Objetos de Desejo",
livro do historiador Adrian Forty,
de 1986 e só agora traduzido para o português, é um marco para a compreensão do lugar do
design na produção da cultura
material no capitalismo.
Descendente da melhor tradição da história social inglesa,
Forty dá a ela uma contribuição
original e importante. No prefácio à edição brasileira, por
exemplo, não esconde sua surpresa e desapontamento ao ver
Eric Hobsbawm repetir argumentos convencionais sobre as
"exposições universais" e a história do design em seminário
semanal do qual participavam.
Em "Objetos de Desejo",
Forty faz história social para,
justamente, contar uma outra
história do design. Ele desafia
as interpretações dominantes
que caracterizaram o design
como parente (menor) das artes, capaz de ser descrito igualmente como sucessão de estilos, autores e escolas.
Questiona, por exemplo, a
versão até então hegemônica
de que os designers teriam surgido como resposta à degeneração dos objetos fabricados industrialmente, visível nas "exposições universais" do século
19, para, heroicamente, dominar as máquinas e qualificar
seus produtos.
Design e trabalho
Para isso, retorna ao século
anterior e demonstra que os
designers surgiram antes das
máquinas, na divisão manufatureira do trabalho, quando
concepção e execução se separam -momento, aliás, em que
nasce o desenho do projetista
(o design), como meio de representação e prescrição de serviço aos demais trabalhadores.
O método de projeto em design, neste sentido, é mesmo
oposto ao da arte. Para Forty, o
design é parte do moderno sistema de produção de mercadorias e associa à tarefa criativa
uma articulação poderosa de
agentes e forças produtivas comandados pela lógica de valorização do capital.
Os ciclos de inovação e mudança nos produtos devem ser,
por isso, explicados como uma
concatenação de influências
econômicas, sociais e culturais
complexas, e não por diferenças de temperamento artístico
entre designers. Como afirma,
importa compreender o design
em termos "do que ele faz" e
não apenas de "quem o fez".
Forty caracteriza a dinâmica
entre universalização e diferenciação como a principal tensão que percorre a história do
design. De um lado, a tendência
a um design único e massificado (para todas as classes), centrado nos preceitos da ciência,
da saúde e de boa forma.
Já do outro, o design como
meio de transmitir aos objetos
valores sociais, de individuação, status e distinção de classe.
Pós-guerra
Se o livro é impecável ao explicar o surgimento do design e
sua dinâmica durante a Revolução Industrial, com uma profusão de exemplos cuidadosamente escolhidos, é menos
bem-sucedido, entretanto, ao
analisar o que ocorre a partir do
pós-guerra, quando a sociedade
afluente norte-americana (e
européia e japonesa em reconstrução) imprime uma dinâmica
de aceleração da circulação do
capital: o consumo planejado, a
cultura de massa, a hipertrofia
do sistema de crédito, a fusão
entre produto e publicidade, a
prevalência da imagem sobre o
objeto etc.
Nessa passagem, da hegemonia inglesa para a norte-americana, transformações importantes no campo da cultura material não são bem avaliadas pelo autor. É de se estranhar, por
exemplo, a ausência no livro do
principal objeto de desejo e
mercadoria-ícone do capitalismo no século 20, o automóvel,
que altera, inclusive, toda organização da produção industrial.
Tais lacunas, mais que invalidar os méritos do livro, estimulam imaginar como seria sua
continuidade. "Objetos de Desejo" não apenas é uma boa história do design, mas também
ensina a empreender uma leitura atenta do mundo das mercadorias. Por isso, fornece, ele
próprio, o melhor caminho para que a tarefa da crítica, nesse
campo, siga adiante.
Pedro Fiori Arantes é mestre pela FAU-USP,
professor de design na Facamp e autor do livro
"Arquitetura Nova" (ed. 34)
OBJETOS DE DESEJO
Autor: Adrian Forty
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 59 (352 págs.)
Avaliação: ótimo
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