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Livro sobre trajetória do grupo destaca processo criativo e dúvidas sobre obras
DA REPORTAGEM LOCAL
Os amantes de Maverick
ameaçam até hoje o Chelpa
Ferro. É que há seis anos o grupo comprou, reformou e poliu
um Maverick 1974 para destruir o carro com marretas e
pedaços de pau, com ajuda do
público, na Bienal de São Paulo.
Esse é um dos episódios narrados com textos e fotos no livro sobre o coletivo ("Chelpa
Ferro", ed. Imprensa Oficial;
252 págs.; R$ 70) que será lançado amanhã em São Paulo,
junto com a abertura da exposição dos artistas na galeria Vermelho. Um DVD acompanha o
volume com imagens de shows
do grupo e o registro da performance polêmica na Bienal.
"Até senhoras bem vestidas
tiravam canivetes da bolsa para
furar o banco", lembra Sergio
Mekler. "As pessoas batiam no
carro com os machados, quase
cortando os pés um do outro.
Deu uma descontrolada."
"A polifonia anárquica que
resultou desse descontrole traduziu em sons sentimentos que
as pessoas que participaram da
ação carregam a toda parte, nos
quais se misturam desejo e raiva, medo e paixão, luxúria e falta", escreve o crítico e curador
Moacir dos Anjos no livro.
Ele lembra os principais momentos da trajetória do grupo
com análises extensas das
obras que tornaram conhecido
o Chelpa Ferro, ligando o coletivo à tradição da arte sonora
que começou com o futurista
italiano Luigi Russo, passando
pelo norte-americano John Cage até chegar aos brasileiros
Hélio Oiticica e Cildo Meireles.
Além do texto e imagens das
obras, o livro traz desenhos esquemáticos dos artistas para
cada trabalho. "São como mapas das obras", diz Mekler.
Sem essas espécies de croquis das instalações, seria difícil ter uma noção da potência
do trabalho, que depende, muitas vezes, mais do som do que
da imagem. "Fizemos o livro
com muitas coisas que tínhamos guardado", diz Barrão.
Está nas entrelinhas dessas
explicações parte do caráter do
coletivo, que parece expor sem
censura seu processo criativo.
Nos desenhos de preparação da
mostra que fizeram na Fundação Eva Klabin, no Rio, em
2005, aparecem perguntas do
tipo: "Será que vai quebrar?
Precisamos fazer seguro?".
(SM)
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