São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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Livro sobre trajetória do grupo destaca processo criativo e dúvidas sobre obras

DA REPORTAGEM LOCAL

Os amantes de Maverick ameaçam até hoje o Chelpa Ferro. É que há seis anos o grupo comprou, reformou e poliu um Maverick 1974 para destruir o carro com marretas e pedaços de pau, com ajuda do público, na Bienal de São Paulo.
Esse é um dos episódios narrados com textos e fotos no livro sobre o coletivo ("Chelpa Ferro", ed. Imprensa Oficial; 252 págs.; R$ 70) que será lançado amanhã em São Paulo, junto com a abertura da exposição dos artistas na galeria Vermelho. Um DVD acompanha o volume com imagens de shows do grupo e o registro da performance polêmica na Bienal.
"Até senhoras bem vestidas tiravam canivetes da bolsa para furar o banco", lembra Sergio Mekler. "As pessoas batiam no carro com os machados, quase cortando os pés um do outro. Deu uma descontrolada."
"A polifonia anárquica que resultou desse descontrole traduziu em sons sentimentos que as pessoas que participaram da ação carregam a toda parte, nos quais se misturam desejo e raiva, medo e paixão, luxúria e falta", escreve o crítico e curador Moacir dos Anjos no livro.
Ele lembra os principais momentos da trajetória do grupo com análises extensas das obras que tornaram conhecido o Chelpa Ferro, ligando o coletivo à tradição da arte sonora que começou com o futurista italiano Luigi Russo, passando pelo norte-americano John Cage até chegar aos brasileiros Hélio Oiticica e Cildo Meireles.
Além do texto e imagens das obras, o livro traz desenhos esquemáticos dos artistas para cada trabalho. "São como mapas das obras", diz Mekler.
Sem essas espécies de croquis das instalações, seria difícil ter uma noção da potência do trabalho, que depende, muitas vezes, mais do som do que da imagem. "Fizemos o livro com muitas coisas que tínhamos guardado", diz Barrão.
Está nas entrelinhas dessas explicações parte do caráter do coletivo, que parece expor sem censura seu processo criativo. Nos desenhos de preparação da mostra que fizeram na Fundação Eva Klabin, no Rio, em 2005, aparecem perguntas do tipo: "Será que vai quebrar? Precisamos fazer seguro?". (SM)


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