São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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Lançamentos homenageiam Altamiro Carrilho

CDs, DVDs e filme celebram obra de um dos grandes nomes do choro, que volta à ativa após interrupção devido a cirurgia

Flautista contabiliza 112 discos gravados e mais de 200 composições, e será tema do documentário "Canarinho Teimoso"

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Três discos, quatro DVDs e um longa-metragem aparecem para homenagear um dos mais carismáticos e respeitados músicos brasileiros da atualidade: o flautista fluminense Altamiro Carrilho. Ícone do choro, Carrilho contabiliza 112 discos gravados e mais de 200 composições.
Aos 83 anos de idade, segue tocando, após uma parada no ano passado para se submeter a uma intervenção cirúrgica. "Tive um problema no coração que estava atrapalhando minha respiração", conta o músico à Folha. "Então coloquei uma ponte de safena. Mas já estou bem, e voltei a tocar", diz ele, com a prosa fluente e charmosa que é a marca registrada de seus espetáculos.

Anedotas
Carrilho afirma que nas apresentações ao vivo dialoga bastante com o público. "Nos meus shows, eu não preciso ficar só tocando. Vou mesclando conversas e anedotas, como se fosse um workshop com roteiro, e, assim, faço da profissão um brinquedo gostoso", afirma. Recentemente, na casa carioca Vivo Rio, o músico fez o show de lançamento de "Poesia do Sopro", caixa contendo três discos.
Dois deles documentam apresentações feitas pelo flautista em Niterói, em 2006, ao lado de convidados como Paulo Sérgio Santos (clarinete), Maurício Einhorn (gaita), Maria Teresa Madeira (piano), Nailor Proveta (saxofone) e Toninho Ferraguti (acordeom).
Já o terceiro, chamado "Interpretações Históricas", retoma o período em que o músico construiu o renome de que hoje desfruta -são 19 faixas gravadas entre 1952 e 1965, incluindo, além de obras do próprio Carrilho, interpretações ultravirtuosísticas de "Hora Staccato", de Grigoras Dinicu, e "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu.

DVD
Idealizado pelo produtor alemão Andreas Pavel, que viveu no Brasil entre as décadas de 1950 e 1970, o projeto prevê ainda o lançamento, em outubro, de "A Fala da Flauta", conjunto de quatro DVDs. Em seguida, sairá o longa-metragem documental "Canarinho Teimoso", que tem direção de Anna Sutor.
Conhecido pela fluência do discurso musical e pela elevada capacidade de improvisação, Carrilho está longe da auto-indulgência. Continua a estudar o instrumento todos os dias, para "manter os dedos desembaraçados" e "o sopro mais forte".
"Agora que estou mais idoso, não posso tocar de qualquer maneira", diz. "Tenho que tocar tão bem quanto antes, ou melhor. Eu não uso marcha ré." Musicalmente criado no choro, Carrilho foi gradativamente incorporando os clássicos a seu repertório. Marcou época a ocasião em que, em 1972, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, solou no "Concerto em sol", de Mozart.
"Eu não mudei meu jeito de tocar, fui evoluindo sem abandonar o popular", conta. "Eu gostava dos clássicos desde criança, mas, certamente, foi uma coisa nova para o público ouvir, naquele repertório, o Altamiro do chorinho."

Lata de lixo
O tipo de homenagem que Carrilho está recebendo convida a uma reflexão sobre o passado. Quando pensa nos tempos que já se foram, o músico só emite uma nota amarga para o período em que o Brasil era governado pelos militares.
"Vivemos crises dificílimas. O instrumentista foi colocado na lata de lixo, e a gente não tinha como ganhar dinheiro no teatro, porque qualquer trocadilho era reprimido pela censura", conta. "Nessa época, quase mudei de profissão, e pensei em retomar meu ofício de juventude, o de farmacêutico. Conheci muito músico excelente que virou chofer, barbeiro, porteiro", relembra Carrilho.

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