|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Moda de João Pimenta tem foco popular
Referências da tradição popular brasileira são inspiração do estilista, que junta tudo sob um design arrojado
Trajetória do designer
começou em loja e
passou pelo hype da
geração clubber dos
anos 90 em São Paulo
DA EDITORA INTERINA DE MODA
O primeiro contato de João
Pimenta com a moda aconteceu atrás dos balcões das Lojas Pernambucanas, em Ribeirão Preto. Lá, teve acesso
a peças de tecido que, nos intervalos de seu trabalho na
seção de pacotes, enrolava
nos manequins, fazendo um
tipo de moulage (técnica de
criar roupas sem molde).
Começou a fazer vitrines e,
ao completar 19 anos, decidiu que queria criar, queria
"virar artista".
Mudou-se para São Paulo
de mala, cuia e bolso vazio.
Foi bater na escola de teatro
de Antunes Filho, onde passou no teste para ator. Mas o
curso exigia tempo integral,
e ele tinha de trabalhar.
"Com o pouco que sabia de
moda, fui procurar emprego
lá na São Caetano, a rua das
noivas. Caí nas graças de
uma cliente e saí de lá com
um emprego para desenhar
esboços de vestidos", conta.
João ficou quatro anos no
ramo das noivas e juntou grana para abrir um estande no
Mercado Mundo Mix.
Era o início da década de
90, e o MMM se firmava como
centro consumo da geração
clubber que mudou a noite e
a moda de São Paulo.
A alguns metros de distância, estava o então iniciante
Alexandre Herchcovitch, entre muitos outros que entrariam para o Phytoervas Fashion, evento que deu origem
à São Paulo Fashion Week.
Com seu jeito tímido, segundo ele quase "roceiro",
João não frequentava as baladas hype e não fazia parte
da elite fashion nascente.
"Pensava, quem sou eu para
dar credibilidade a um roupa, eu não tive educação formal, não viajei, não sou cool.
Me sentia um loser", revela.
TEMPO DE VIRADA
O tempo passou e João
acompanhou de longe a ascensão e a queda de muitas
promessas da moda. Em
2005, entrou para o time da
Casa de Criadores, evento dedicado a estilistas novatos e
trabalhos experimentais.
Nos últimos dois anos,
suas coleções foram eleitas
as melhores do evento pela
crítica especializada. O nível
das apresentações era, inclusive, superior ao de muitos
desfiles do Fashion Rio e da
São Paulo Fashion Week.
A convite da Semana de
Moda de Madri, na Espanha,
fez sua primeira viagem ao
exterior e esticou até Paris.
Na França, numa visita ao
ateliê de outro João, o megaestilista John Galliano, teve um pequeno apocalipse
pessoal. "Vi que eles usavam
a mesma máquina de costura
que eu. Apesar da diferença
de realidades brutal, vi que
havia um elo básico, o instrumento de trabalho", conta.
Voltou ao Brasil e fez as pazes com o passado na passarela. Criou uma coleção descolada e contemporânea,
inspirada nas congadas, reino de antigos escravos e de
João, seu pai. "Saquei que eu
tinha uma herança de rituais
muito complexos", afirma.
Em sua estreia na SPFW,
João volta aos assuntos de
herança. Achou na chegada
da família real portuguesa ao
porto do Rio uma das chaves
do estilo brasileiro.
"Pensei numa brincadeira
com a nobreza piolhenta e
seus trajes inadequados ao
clima, e o povo, idolatrando
uma fantasia de riqueza. O
nosso estilo deve muito
àquele encontro na praia."
Texto Anterior: João, o herdeiro Próximo Texto: Frases Índice
|