São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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Moda de João Pimenta tem foco popular

Referências da tradição popular brasileira são inspiração do estilista, que junta tudo sob um design arrojado

Trajetória do designer começou em loja e passou pelo hype da geração clubber dos anos 90 em São Paulo


DA EDITORA INTERINA DE MODA

O primeiro contato de João Pimenta com a moda aconteceu atrás dos balcões das Lojas Pernambucanas, em Ribeirão Preto. Lá, teve acesso a peças de tecido que, nos intervalos de seu trabalho na seção de pacotes, enrolava nos manequins, fazendo um tipo de moulage (técnica de criar roupas sem molde).
Começou a fazer vitrines e, ao completar 19 anos, decidiu que queria criar, queria "virar artista".
Mudou-se para São Paulo de mala, cuia e bolso vazio. Foi bater na escola de teatro de Antunes Filho, onde passou no teste para ator. Mas o curso exigia tempo integral, e ele tinha de trabalhar.
"Com o pouco que sabia de moda, fui procurar emprego lá na São Caetano, a rua das noivas. Caí nas graças de uma cliente e saí de lá com um emprego para desenhar esboços de vestidos", conta.
João ficou quatro anos no ramo das noivas e juntou grana para abrir um estande no Mercado Mundo Mix.
Era o início da década de 90, e o MMM se firmava como centro consumo da geração clubber que mudou a noite e a moda de São Paulo.
A alguns metros de distância, estava o então iniciante Alexandre Herchcovitch, entre muitos outros que entrariam para o Phytoervas Fashion, evento que deu origem à São Paulo Fashion Week.
Com seu jeito tímido, segundo ele quase "roceiro", João não frequentava as baladas hype e não fazia parte da elite fashion nascente. "Pensava, quem sou eu para dar credibilidade a um roupa, eu não tive educação formal, não viajei, não sou cool. Me sentia um loser", revela.

TEMPO DE VIRADA
O tempo passou e João acompanhou de longe a ascensão e a queda de muitas promessas da moda. Em 2005, entrou para o time da Casa de Criadores, evento dedicado a estilistas novatos e trabalhos experimentais.
Nos últimos dois anos, suas coleções foram eleitas as melhores do evento pela crítica especializada. O nível das apresentações era, inclusive, superior ao de muitos desfiles do Fashion Rio e da São Paulo Fashion Week.
A convite da Semana de Moda de Madri, na Espanha, fez sua primeira viagem ao exterior e esticou até Paris.
Na França, numa visita ao ateliê de outro João, o megaestilista John Galliano, teve um pequeno apocalipse pessoal. "Vi que eles usavam a mesma máquina de costura que eu. Apesar da diferença de realidades brutal, vi que havia um elo básico, o instrumento de trabalho", conta.
Voltou ao Brasil e fez as pazes com o passado na passarela. Criou uma coleção descolada e contemporânea, inspirada nas congadas, reino de antigos escravos e de João, seu pai. "Saquei que eu tinha uma herança de rituais muito complexos", afirma.
Em sua estreia na SPFW, João volta aos assuntos de herança. Achou na chegada da família real portuguesa ao porto do Rio uma das chaves do estilo brasileiro.
"Pensei numa brincadeira com a nobreza piolhenta e seus trajes inadequados ao clima, e o povo, idolatrando uma fantasia de riqueza. O nosso estilo deve muito àquele encontro na praia."


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