São Paulo, Quarta-feira, 09 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O SURFISTA DO CAOS
"Questione as autoridades, ensinou Leary"

Reprodução
Barbara e Timothy Leary em foto de 1979, um ano após o casamento dos dois; o casal se separou em 1992


da Reportagem Local

"Flashbacks", autobiografia de Timothy Leary que ganha nova edição brasileira, é dedicada a "Barbara e a todas as crianças". Barbara é ex-mulher do autor, com quem foi casada de 1978 a 1992.
Reservada, quase retraída, Barbara aceitou receber a Folha para uma rara entrevista sobre Leary. Nascida nos EUA em 1948, ela vive há sete anos no Brasil. Foi aqui que abandonou Leary, quando o psicólogo visitava o país para uma série de palestras em um inusitado Encontro com os Magos da Nova Era.
Casada com o colecionador de arte Kim Esteve, brasileiro criado nos Estados Unidos que vive em São Paulo, Barbara mora em uma mansão cinematográfica, na Chácara Flora, zona sul da cidade.
Não fala sobre a separação de Leary, um assunto "bastante pessoal", muito menos para jornalistas, com quem tampouco gosta de discutir sobre drogas.
Segundo o jornalista Claudio Julio Tognolli (leia texto abaixo), em seu leito de morte, Leary afirmou que Barbara foi seu grande amor. E uma pessoa "materialista, no melhor sentido do termo". Ao saber disso, Barbara pára para pensar um pouco e apenas diz que manteve a amizade com o psicólogo até sua morte, em 1996.
Excetuando-se perguntas íntimas, conta que não tem problemas em conversar sobre o homem com quem passou 14 anos de sua vida e que se tornou um verdadeiro pai para seu filho, Zach, fruto de um relacionamento anterior a Leary. Zach trabalha com computadores e mora na Califórnia.
"Tim era uma dessas pessoas sortudas que dizem o que pensam na hora que querem, sem se preocupar com coisas como trabalho -ele nem ao menos tinha um para ter medo de perdê-lo", diz, rindo.
Após suas sucessivas prisões, Leary passou a sobreviver dos direitos autorais e palestras.
Barbara e ele se conheceram em 78, segundo "Flashbacks"; de acordo com ela, foi em 77, em um restaurante em Beverly Hills. Casaram em dezembro de 78.
"Tivemos uma vida perfeita em Hollywood, onde éramos celebridades sem precisar fazer parte do show business", se diverte. Mas diz que os grandes estúdios os ignoravam, não os queriam por perto.
"Não éramos um grupo muito social, mas tínhamos amigos maravilhosos, como Allen Ginsberg, William Burroughs. Adorava William, sempre elegante, de terno e gravata. Como Tim já estava envolvido com computadores, vivíamos cercados por especialistas."
E como criar uma criança junto ao homem responsável pela popularização do LSD nos anos 60? "Quando Zach já tinha idade suficiente, eu e Tim passamos a tratar o assunto da forma mais honesta possível. Supostamente, ele estava vivendo com "o grupo do LSD", então deve ter ficado confuso. Mas qual jovem não fica quando o tema é droga? Falava a Zach que essas coisas só poderiam acontecer quando tivesse idade, educação e compreensão o bastante."
Sem falar português, conta que estava com Leary quando Susan, filha dele com a primeira mulher, se suicidou. "Foi tudo tão triste. Via Susan frequentemente. E Jack, o outro filho de Timothy, teve problemas com o pai, ficaram um tempo estremecidos..."
Hoje, Barbara dedica seu tempo ao atual marido e quase não fica no Brasil, passando meses por ano em Nova York, onde tem um apartamento. Convidada a falar sobre o legado de Timothy Leary, responde pensativa: "Pense por você mesmo e questione as autoridades. Esse foi seu principal ensinamento". (ERIKA SALLUM)


Texto Anterior: Timothy Leary - O surfista do caos
Próximo Texto: O velho guru era o profeta de lugar nenhum
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.