São Paulo, Quarta-feira, 09 de Junho de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Três artistas brasileiros estão no evento
Bienal de Veneza amplia seus espaços

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Antes mesmo da abertura, hoje, para convidados, da 48ª edição da mais tradicional mostra de artes plásticas do mundo, já é possível tirar algumas conclusões -aparentemente contraditórias. A Bienal de Veneza realmente está maior, mais concentrada e mais aberta.
Os fatos acima são a constatação de algumas iniciativas da organização do evento para torná-lo atraente, mesmo aos 105 anos de idade e ainda calcado em idéias antigas, como a representação fixa de países em pavilhões nacionais.
A Bienal de Veneza está realmente maior. Na edição passada, concentrava-se basicamente em dois espaços (Giardini e Corderie), mais alguns pontos alternativos espalhados pela cidade. Hoje, ocupa três novos grandes espaços: Gaggiandre, Artiglierie e Tese all'Arsenale, praticamente duplicando seu espaço expositivo.
A concentração se deve ao fato de os cinco espaços estarem próximos, não obrigando mais o visitante a passear por mais de 30 lugares que abrigavam mostras oficiais do evento.
Também está mais aberta. Não se divide entre artistas jovens e velhos, consagrados e iniciantes. "Ou são artistas ou não são", resumiu o curador Harald Szeemann (leia-se Zéman) em entrevista recente concedida à Folha.
Essas iniciativas visam tirar o limbo que vinha cobrindo o evento e colocá-lo novamente como formador de opinião diante do avanço de eventos mais agressivos, como a Documenta de Kassel, o InSite Santa Fé e as bienais de Johannesburgo, Istambul e São Paulo.
Hoje acontece o primeiro de três vernissages para imprensa, artistas e convidados. A abertura oficial do evento é no sábado, a partir das 15h. O público em geral terá acesso ao evento de domingo, dia 13, até 7 de novembro.

Brasileiros
O Brasil está presente com obras de Iran do Espírito Santo e Nelson Leirner, no pavilhão nacional, e de Maurício Dias (que faz dupla com Walter Riedweg), que foi selecionado pelo próprio curador-geral do evento.
Localizado na primeira das duas salas de um pavilhão brasileiro renovado, Iran apresenta três trabalhos distintos, realizando assim uma conveniente microrretrospectiva de sua carreira.
Em uma parede de 14 m2, pintada de preto, criou o desenho "Secção -A Igualdade", usando uma técnica chamada "scrafitto", que consiste na raspagem parcial da tinta negra para que transpareça o fundo branco.
Sobre o chão, criou uma instalação com uma série de moedas gigantes em aço inoxidável, cobre e latão reproduzidas a partir das escalas de moedas originais, recolhidas em algumas de suas viagens.
Na parede oposta à do desenho, dispôs cinco novos trabalhos da série "Restless", confeccionada em vidro opaco, transparente e espelhado.
Nelson Leirner comparece com três instalações. Na primeira, manipulou imagens da "Mona Lisa", em que elabora uma crítica à desmistificação da arte pelo consumo. Na segunda, "Construtivismo Rural", criou uma série de quadros com fragmentos geométricos de couro de vaca (uma crítica bem-humorada à rigidez do construtivismo geométrico brasileiro). As duas são ligadas por "O Desfile", remontagem de instalação de cerca de 2.000 imagens históricas, sacras e do cotidiano infantil.
Os dois foram selecionados por Ivo Mesquita, curador da próxima Bienal de São Paulo. "Eles oferecem uma opção para o visitante estrangeiro se aproximar da arte brasileira por meio de uma alternativa à opinião, que está se consolidando, de que tudo no Brasil sai de Hélio Oiticica ou de Lygia Clark", disse Ivo Mesquita.
A dupla Dias-Riedweg, especialista em arte pública e trabalhos de conotação social, comparece com a instalação em vídeo "Tutti Veneziani", em que observa os hábitos de 35 habitantes de Veneza para analisar sua relação com as particularidades da cidade.


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