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ARTES PLÁSTICAS
Três artistas brasileiros estão no evento
Bienal de Veneza amplia seus espaços
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Antes mesmo da abertura, hoje,
para convidados, da 48ª edição da
mais tradicional mostra de artes
plásticas do mundo, já é possível
tirar algumas conclusões -aparentemente contraditórias. A Bienal de Veneza realmente está
maior, mais concentrada e mais
aberta.
Os fatos acima são a constatação
de algumas iniciativas da organização do evento para torná-lo
atraente, mesmo aos 105 anos de
idade e ainda calcado em idéias antigas, como a representação fixa de
países em pavilhões nacionais.
A Bienal de Veneza está realmente maior. Na edição passada, concentrava-se basicamente em dois
espaços (Giardini e Corderie),
mais alguns pontos alternativos
espalhados pela cidade. Hoje, ocupa três novos grandes espaços:
Gaggiandre, Artiglierie e Tese
all'Arsenale, praticamente duplicando seu espaço expositivo.
A concentração se deve ao fato de
os cinco espaços estarem próximos, não obrigando mais o visitante a passear por mais de 30 lugares que abrigavam mostras oficiais
do evento.
Também está mais aberta. Não se
divide entre artistas jovens e velhos, consagrados e iniciantes. "Ou
são artistas ou não são", resumiu o
curador Harald Szeemann (leia-se
Zéman) em entrevista recente concedida à Folha.
Essas iniciativas visam tirar o
limbo que vinha cobrindo o evento
e colocá-lo novamente como formador de opinião diante do avanço de eventos mais agressivos, como a Documenta de Kassel, o InSite Santa Fé e as bienais de Johannesburgo, Istambul e São Paulo.
Hoje acontece o primeiro de três
vernissages para imprensa, artistas
e convidados. A abertura oficial do
evento é no sábado, a partir das
15h. O público em geral terá acesso
ao evento de domingo, dia 13, até 7
de novembro.
Brasileiros
O Brasil está presente com obras
de Iran do Espírito Santo e Nelson
Leirner, no pavilhão nacional, e de
Maurício Dias (que faz dupla com
Walter Riedweg), que foi selecionado pelo próprio curador-geral
do evento.
Localizado na primeira das duas
salas de um pavilhão brasileiro renovado, Iran apresenta três trabalhos distintos, realizando assim
uma conveniente microrretrospectiva de sua carreira.
Em uma parede de 14 m2, pintada
de preto, criou o desenho "Secção
-A Igualdade", usando uma técnica chamada "scrafitto", que consiste na raspagem parcial da tinta
negra para que transpareça o fundo branco.
Sobre o chão, criou uma instalação com uma série de moedas gigantes em aço inoxidável, cobre e
latão reproduzidas a partir das escalas de moedas originais, recolhidas em algumas de suas viagens.
Na parede oposta à do desenho,
dispôs cinco novos trabalhos da
série "Restless", confeccionada em
vidro opaco, transparente e espelhado.
Nelson Leirner comparece com
três instalações. Na primeira, manipulou imagens da "Mona Lisa",
em que elabora uma crítica à desmistificação da arte pelo consumo.
Na segunda, "Construtivismo Rural", criou uma série de quadros
com fragmentos geométricos de
couro de vaca (uma crítica bem-humorada à rigidez do construtivismo geométrico brasileiro). As
duas são ligadas por "O Desfile",
remontagem de instalação de cerca de 2.000 imagens históricas, sacras e do cotidiano infantil.
Os dois foram selecionados por
Ivo Mesquita, curador da próxima
Bienal de São Paulo. "Eles oferecem uma opção para o visitante estrangeiro se aproximar da arte brasileira por meio de uma alternativa
à opinião, que está se consolidando, de que tudo no Brasil sai de Hélio Oiticica ou de Lygia Clark", disse Ivo Mesquita.
A dupla Dias-Riedweg, especialista em arte pública e trabalhos de
conotação social, comparece com
a instalação em vídeo "Tutti Veneziani", em que observa os hábitos
de 35 habitantes de Veneza para
analisar sua relação com as particularidades da cidade.
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